domingo, junho 22, 2008

Navegar é preciso

Imagem do Hublle pescada na internet


Na primeira cena do filme Xeque Mate (2006), dirigido por Paul McGuigan, Goodkat, personagem interpretado por Bruce Willis, conversa com um rapaz no saguão de um aeroporto. Não é uma conversa boa. Mas ele diz uma frase que, depois descobri, é a chave para entender o filme. Goodkat chega do nada e se aproxima do jovem. Olha pra ele e diz: tudo tem a sua hora. Isso é muito verdadeiro. Nem precisava dizer, mas é que por ser óbvio e banal demais, acabamos nos esquecendo que, antes de tudo, isso é muito verdadeiro.

Olhem só a nossa situação hoje. Vivemos num planeta que está se deteriorando ao vivo e a cores, no Jornal das 10. Uma hora é a terra que treme, outra hora treme de novo. Quando não treme, são as geleiras do Ártico que se desprendem de onde estão e descem água abaixo se derretendo que nem sorvete na mão de uma criança. E quando não são as geleiras, é um furacão, um tornado, um ciclone que passa, deixando tudo de perna pro ar. Onde fazia frio, está fazendo um calor de rachar, onde era quente está nevando. Uma tragédia. Uma tragédia anunciada.

Mas nem adianta Al Gore avisar, nem o IPCC alertar, cobrar, ameaçar. Ninguém detém o avanço do mercado. Nem aqui nem na China. E dá-lhe madeira abaixo, e puxa água daqui e puxa água dali, e solta fumaça, levanta poeira e solta fumaça, o importante é produzir. Comida, roupa, brinquedo, remédio, carro, casa, batedeiras, liquidificadores, forninhos, fogões, sapatos, ipods, iphones, games, laptops, tratores, e assim por diante. Depois, pega tudo isso e joga fora. E começa tudo de novo. E amontoa o lixo num canto. Montanhas de lixo. E vamo que vamo.

A nossa situação, definitivamente, não é das melhores. Vivemos num mundo que está se perdendo ao vivo e a cores, no Jornal das 10. Já não cabemos mais no planeta. Eramos 6,6 bilhões de pessoas até alguns minutos atrás. Antes de 2012 já teremos chegado a 7 bilhões fácil, fácil. Por enquanto, ainda estamos mais ou menos sossegados. Cada um no seu canto. Mas é por pouco tempo. No ano passado, o número de refugiados, de pessoas que deixaram sua terra por conta de guerras, dos desastres naturais, em busca de melhores condições de vida ou por outra razão qualquer, já foi recorde. Foram quase 38 milhões de pessoas que saíram andando pelo mundo, atrás de uma Pasárgada.

Mas as porteiras do mundo globalizado estão se fechando. E não é por falta de humanidade não. É que a situação anda complicada pra todo lado. As oportunidades estão rareando até no paraíso e, nessa hora, cada um se defende como pode. Olhem os Estados Unidos, o sonho de consumo de todos. Estão desorientados, com uma recessão econômica batendo a sua porta desde o último verão ou até antes disso. E o pior é que esse desconforto não é só deles. É de todos nós, porque o que acontece por lá repercute no mundo inteiro. Olhem a inflação. Não está querendo voltar?

Enfim, estamos todos atados nessa rede. Todos os grandes problemas que temos para enfrentar nos próximos quinze minutos, não são apenas nossos, mas de todo mundo. Ninguém escapa dessa sozinho. Por isso me lembrei de Goodkat. Tudo tem sua hora. Não sei se é uma idéia de direita ou de esquerda. Se é reacionária ou revolucionária. Se é arriscada ou se é o caminho natural. Só sei que é um desafio também. Que é difícil pra caramba. Que é quase impossível, se a olharmos do mesmo lugar onde estamos hoje.


Mas apesar de todos os pesares, dos poréns e do fuzuê que irá provocar, se tiver de ser assim, estou cada vez mais convicta de que não teremos outra saída. A hora é agora. Ou inventamos um jeito de pensar o mundo como um todo indivisível, sem fronteiras nem barreiras, ou vamos ficar remendando até o fim dos tempos. O que não está longe. Só um governo mundial pode dar conta de resolver os problemas que temos hoje. Da superpopulação às mudanças climáticas. Da inflação às guerras. E de tudo mais. É difícil, mas não é impossível.

Fico pensando que, depois dessa semana, ficou até mais fácil. A descoberta dos astrônomos suíços e franceses, de três superterras ao redor de uma estrela fora do Sistema Solar; a confirmação da existência de gelo na superfície de Marte; e o anúncio do governo japonês de novos investimentos em missões espaciais, admitindo até a possibilidade de bancar projetos que visem contatos com extraterrestres, redimensionam de maneira bastante concreta a nossa importância no universo. Não somos mais apenas nós com nós mesmos. Mas nós com todos os que estão por vir. Esse é o novo paradigma que poderá nos acudir e, quem sabe, nos redimir.

Uma semaninha de grandes navegações para todos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vamos pensar devagar. Nesse turbilhão todo, realmente não vemos boas perspectivas e começamos a enxegar ET. Bons tempos aqueles em que não existia o Jornal das 10. Tô achando que o nosso grande desespero vem desse tal. A China podia tremer até virar farelo que a gente não tava nem aí. Segundo Fernando Pessoa, em seu “Lisboa - o que o turista deve ver”, quase todos os prédios da cidade tiveram de ser reconstruídos depois de um terremoto em mil setecentos e qualquer coisa. Sem falar em tantos outros em quantos lugares em muitos momentos passados. Vamos devagar. Tem coisas de hoje e coisas de sempre. Tem algumas mesmo novas que nem por isso têm causa na nossa interferência no planeta. Pensemos: esse ar irrespirável das grandes cidades e essa falta de tempo para fazer tudo que deveríamos fazer - isso foi construído. Logo, pode ser descontruído. E assim vamos pensando parte por parte. Mas, realmente, se meterem ETs no meio, aí não dá pra pensar.
À propósito, foi justo Milton Santos que entendeu que é localmente que as coisas se resolverão. Um governo mundial pode ser bem pior do que o que já existe.

patricia duarte disse...

Acho que vc tem razão. Temos de ir devagar e por partes:
Jornal das 10 - Concordo. Tem muita coisa que não sabíamos e que, portanto, não nos afetava. Depois da invenção de 24 horas de notícias, ficamos sabendo até dos acidentes de trânsito na Índia. Isso dá para controlar, e acho até que devemos, mas não quer dizer que as coisas não estejam acontecendo.
2 - Mudanças climáticas - Também concordo que não surgiu nenhum novo acidente natural nos últimos tempos, mas a intensidade e a freqüência deles têm aumentado consideravelmente. Isso é conseqüência das mudanças climáticas e demanda alguma ação da nossa parte, uma ação global e ações locais. Que são essas mesmo que já estão rolando por aí e outras mais, claro.
3 - Sobre o governo mundial - Não acho que essa discussão seja simples não. Um exemplo do que poderá ser são as discussões para viabilizar a União Européia e mesmo a merreca do nosso Mercosul, guardadas as devidas proporções. Mas acho que, na prática, já temos uma agenda de questões mundiais e organismos que a operam no âmbito mundial. Só que essas organizações tem poder apenas de recomendação, não de implementação dessas recomendações. Mas, um governo mundial, seria, de fato, uma instância bem mais complexa do que a de um organismo como a ONU, por exemplo. E nada garantiria o seu caráter democrático e inclusivo, a não ser a vontade dos povos, que nem sempre se manifestam e expressam suas vontades com efetividade. Mas estou achando que teremos de enfrentar essa discussão, mais cedo ou mais tarde.
4 - Governos locais - Concordo com Milton Santos sempre. Boto a maior fé nos governos locais, porque eles são visíveis para nós, podemos interagir com eles com muito mais facilidade do que governos regionais, nacionais ou mundial. E esses são mais sensíveis também às nossas expectativas. Mas um não anula o outro. Pelo contrário.
5 - ETs - É brincadeirinha. Mas conhecer melhor o universo e sua grandeza, nos obriga, claro, a rever o nosso sentimento de exclusividade que alimentamos todos os dias.
Acho que isso. Mas tudo isso ainda está em estado de pensamento. Não tenho certeza den nada.
bjim

Anônimo disse...

Vamos pensando...