segunda-feira, agosto 04, 2008

Andar, andei


Aposto que vocês andam pensando que estou em plenas férias, me esbaldando em alguma praia por aí, pulando ondas e fazendo nadica de nada o dia inteirinho. Ou então, embrenhada num canto de Minas, fazendo trilha em algum parque das Gerais e observando nuvens. Ou melhor, passeando pelo planeta, andando de um país pra outro, tropeçando na língua, estranhando temperos e me deslumbrando com as coisas exóticas das culturas alheias. Seria bom se fosse.

Mas acertaram só muito mais ou menos. Tirei mesmo cinco diazinhos de férias na última semana de julho e já foi uma boa temporada. Aproveitei, de fato, para ver o mar e pular ondas. Uma hora o ano novo precisava começar, não é? E me dediquei com afinco ao Nadismo. Não pensei nada de óbvio nem de inédito, nem nada rasteiro nem de inteligente. Até a medida do sal, preferi olhar na receita a ter de usar a minha intuição. E a cidade me ajudou muito. Estava às traças. Tão vazia, que a praia parecia nosso quintal. E o céu também colaborou. Estava azul pleno, sem nem uma nuvem para ser observada. Enfim, nesses míseros cinco diazinhos, acho que toquei a essência do nada.

Mas antes disso, me fartei de palavras, papéis, apostilas, livros, words, excels, googles e essa tranqueira toda que temos de usar para ninguém ter dúvida de que estamos trabalhando com empenho e dedicação. Não tenho certeza se tive idéias criativas nessa temporada escrava, mas pelo menos consegui organizá-las em frases compreensíveis e textos razoavelmente lógicos. Se vão acrescentar alguma novidade é outra história, mas, enfim, terminei o que comecei. Só devo o trabalho final. Eu e todo mundo. Mas, para isso teremos tempo. Acho que já posso cantar vitória.

E enquanto estive prisioneira no mundo das idéias, perdi completamente o contato com o mundo da vida. Mal ouvia falar dos milhares de acontecimentos que rolavam enquanto me debruçava sobre um monte de letras. Não lia nem manchete de jornais, quanto mais notícias e artigos assinados. Nem as imagens me interessavam. Se mal ouvia ou lia, menos ainda via. Perdi o fio da meada de tudo. Nem me lembro mais de bush, Obama, Hillary. Não dou notícia de Lula nem da sua turma. Perdi de vista os quase 400 mil candidatos a alguma coisa nas eleições de outubro. Nem sei quem vem por aí. Muito menos quem virá em 2010.

Rodada de Doha. Passo também. G-5, G-8, G-12, G-20, perdi a conta. No caixa do supermercado, só percebi que a inflação voltou, mas tive notícias, de longe, que já recuou, depois voltou de novo e não sei mais por onde anda. As bolsas subiram, desceram, caíram, despencaram e devem estar rastejando por aí. Ou não. Vai saber. O mundo continua crescendo, crescendo, crescendo. Mas também desacelerando. Pisando no freio, reduzindo a marcha. Talvez este seja o problema. Não sabe para onde ir. E se ele não sabe, muito menos eu.

O que ninguém precisa me contar, porque isso todo mundo sabe, é que toda hora as pessoas continuam morrendo no Iraque. Que a China continua liderando o ranking de qualquer coisa. Que o clima continua mudando. Que o trânsito continuou parado, mesmo enquanto esse bando de estudantes esteve de férias. Que Gérard Derpadieu continua sendo o ator preferencial de 9 entre 10 diretores de filmes franceses. Que o campeonato brasileiro de futebol continua indefinido porque hoje todos os times são igualmente ruins, exceto o Cruzeiro, claro, que é muito bom, mesmo estando numa fase, vamos dizer assim, meio mal. E que depois de um dia, vem sempre outro dia. Até quando, vai saber.

E enquanto nada muda, vou aproveitar para retomar o fio da meada e, quem sabe, voltar a pensar sobre essas coisas todas que ficam zumbindo no meu ouvido o dia inteiro.

Uma temporada mais branda para todos nós.


Inté. Sempre que tiver um tempinho.

Foto: minha. De um dia que não me lembro mais qual.

3 comentários:

Clará disse...

Ei tia Patrícia!

Tem horas que o Nadismo é mesmo essencial! Que bom que deu pra esvaziar um pouco a mente!!!

Ah, e vi uma foto do Rafa no orkut do Guga e estou completamente chocada com o tamanho dele! O primo caçulinha já tá adolescente!!!

Linda demais a foto tbm!

bjim

Anônimo disse...

Toda a imensidão em torno do vazio.
Seja benvinda.

patricia duarte disse...

Pois é, Clará. Viu como ele espichou e ficou com cara de rapaz. O tempo passa para as crianças também. Ainda bem, né? Os dois caçulinhas arrasaram na praia, morenaços e com ar desdém para as duas ou três mocinhas que passaram por nós. hehehe...bjins

Obrigada pela recepção Ana Márcia. Vamos ver se consigo retomar o ritmo. Fiquei bem viciada no nadismo. Esses cinco dias foram poucos mas o suficiente para me deixar bem entusiasmada com essa nova prática. bjim