domingo, agosto 10, 2008

Senhora do mundo

Não perdi nem boicotei a abertura dos Jogos Olímpicos de 2008. Adiantei tudo que dava para adiantar e atrasei tudo que sobrou para fazer só para não ficar de fora da festa. Sabia que os chineses não se contentariam apenas em bater o ponto nessa solenidade. A nova senhora do mundo aproveitaria a oportunidade para se apresentar à galera globalizada em rede, ao vivo e a cores. E foi isso que fez. Nos deu uma boa mostra do que será daqui pra frente. Eu fiquei hipnotizada, mas não sozinha. Fomos mais de 4 bilhões de pessoas no mundo inteiro que não descolamos os olhos do televisor.

Então vamos nos acostumando. Se já estamos achando o mundo muito cheio de gente, as ruas entupidas de carro, os bares entornando pelo ladrão, os corredores dos supermercados abarrotados de donas de casas, os pontos de ônibus parecendo saída do Mineirão em dia de clássico, podemos nos preparar, teremos saudades desse tempo. A Era Beijing não terá lugar para petit comité. Ou iremos todos juntos ou não iremos. E todos não é nós, é muitos e muitos e muitos mesmo. Muito mais que 2008 percursionistas juntos ou que milhares de etezinhos reluzentes, piscando no centro do palco.

E tem mais. Não é um todos no meio desse empurra-empurra que estamos acostumados não. Haverá de ter muita disciplina. Os detalhes se tornarão fundamentais. Ou aprenderemos a ter movimentos harmoniosos e sincronizados ou teremos de ensiná-los um pouco da nossa avacalhação para conseguirmos interagir sem descompasso. Mas esse será o menor dos desafios que teremos de enfrentar na Era Beijing. O maior, talvez, será o de superar a superficialidade a que nos acostumamos durante o Império Americano. Teremos de aprender a ir fundo nas coisas, descer às raízes para nos lançarmos para o alto. Afinal, não vamos desperdiçar 5 mil anos de história ou vamos?



Mas enquanto a Era Beijing não se instala, fico pensando nos problemas que teremos pela frente. Ninguém conseguiu responder, por exemplo, a dúvida do coordenador dos Jogos Olímpicos em Pequim. Como a China, com uma população de 1,3 bilhão de pessoas, não consegue arrumar 11 infelizes que saibam jogar um futebol minimamente apresentável? Isso é um problema. O que será mais que eles não dão conta de fazer? Também pensei, como a China, com tantos anos de janela, não conseguiu recuperar a tradição dos primeiros jogos olímpicos, suspendendo todos os conflitos em curso e firmando um período de trégua, durante os jogos, para o congraçamento dos países? Quem me explica esse destempero na Ossétia do Sul?

A única coisa que entendi disso tudo é que o mundo não é tão pequeno assim quanto queriam me fazer imaginar. Os limites do mundo vão muito mais além da consciência que tenho dele. Nunca na minha vida tinha ouvido falar em Ossétia do Sul. Tudo bem, o último Almanaque Abril que comprei foi de 2006, mas podia já ter tido alguma notícia de Ossétia do Sul. E nunca. E isso me incomodou muito. E mais ainda, porque desconheço não apenas Ossétia do Sul, mas muitas outras regiões do mundo. Nunca tinha escutado falar, por exemplo, de Kiribati, Naurú, Lesoto, Eritréia e o escambau. Acho que na Era Beijing, o mundo ficará maior também.

Se pudesse e se quisesse, poderia ficar por aqui digitando milhares e milhares de caracteres, formando centenas e centenas de palavras e frases com todas as idéias que me passaram pela cabeça, enquanto assistia a performance da nova senhora do mundo. Mas vou poupá-los. Vou desfrutar um pouco mais do mundo minimalista, enquanto ele ainda é possível.

Uma semana de trégua para todos e de boas vitórias para o Brasil.

Inté

Fotos: pescadas na internet.

4 comentários:

Anônimo disse...

Essa experiência de reconhecer o mundo muito maior do que imaginamos é maravilhosa. Espero que jamais sejamos realmente reduzidos a uma aldeia global. O sentimento é de que as coisas não têm de ser necessariamente como estão no lugar onde estamos.
Bom também é sentir um nó na garganta quando as meninas da ginática fazem aquelas piruetas e caem em pé.
Lindo.

patricia duarte disse...

É impressionantes mesmo o que elas são capazes de fazer. Parece que voam, apesar da força que, imagino, elas precisam fazer para desenvolver qualquer movimento.
Também gostei da idéia do mundo ser maior do que imaginava. Já estava ficando muito chato esse mundo do tamanho de um ovo.
bjim

Anônimo disse...

Patricia, belíssimo texto! Fico feliz por estar nesta fase "minimalista" que te referes... Apesar dos sonhos buscarem o infinito, estou curtindo pra caramba as pequenas coisas na minha microaldeia, minha casa, família, cachorrinhos...

patricia duarte disse...

Agradecida, Rafael. Também estou tentando preservar o meu mundo minimalista. Este ano adotei uma agenda de bolso para não caber muitos compromissos. Na medida do possível, tem dado certo. Um abraço.