domingo, novembro 12, 2006

Uma verdade impertinente

Trilha alternativa: Jack Johnson outra vez, com Good People

Vou dizer uma coisa pra vocês. No substantivo, Al Gore concorda comigo. Ele não acha que bush seja um idiota, é apenas um homem com grandes idéias idiotas. Ele falou isso ao editor da revista The New Yorker, o jornalista David Remnick, em uma das entrevistas publicadas no livro Dentro da Floresta, da Companhia das Letras. Como vêem, a nossa discordância é apenas de classe gramatical. No que é essencial, concordamos e, pra mim, isso basta.

Acho que não só para mim. Também para Al Gore e boa parte do mundo e, agora, para mais de 50% dos americanos. Finalmente. Não sei se muda muita coisa, pois lá também o Congresso não anda com essa bola toda, mas, pelo menos é um sinal de alerta para os marqueteiros de bush. E eles, parece, ouviram o recado das urnas e já admitem que a neocanoa está dando água. Os colegas de trabalho de bush, idem, idem. O secretário da Defesa, o diabólico Donald Rumsfeld, por exemplo, pediu demissão assim que saíram os resultados da eleição.

bush se sentiu tão desamparado, que agora está pedindo à oposição sugestões para o Iraque. Agora, né? Depois da morte de quase 3 mil americanos e mais de 50 mil iraquianos, né? Tô entendendo. Depois da lambança que fez por lá, bush quer que alguém lhe dê sugestões para uma saída honrosa. Por que não pergunta aos iraquianos, uai? Quem sabem eles têm alguma boa idéia. Uma saída à francesa, por exemplo? Ou uma saída em fila indiana, um por um se desculpando e entrando no avião de volta pra casa? Poderia ser se houvesse uma saída. Mas não tem saída. bush se meteu numa grande encrenca e só sairá de lá corrido, como no Vietnan.

A tragédia da Guerra no Iraque já tem números suficientes para dar a dimensão do desastre. 53 mil mortos. Não é pouca gente, mas tem quem ache que esses números ainda não dizem tudo. A revista médica britância, The Lancet, estima, entre os civis, quase 650 mil mortos, desde a invasão do país. É o equivalente a 2,5% da população do Iraque. As autoridades dos Estados Unidos e do próprio Iraque contestam esse número. É claro, só reconhecem aqueles da sua própria contabilidade. Tudo bem, que seja 50 mil, já é uma boa estatística para meter medo em bush. Eu ficaria. Por mais ou menos isso, Saddam Husseim foi condenado à forca.

Mas não é só a guerra do Iraque que derrotou o projeto dos republicanos. A atuação de bush, aquele que não assinou o Tratado de Kioto, desagradou oito entre 10 eleitores ouvidos nas pesquisas de boca-de-urna. Quase uma unanimidade. No mundo já é, pra desgosto de Nelson Rodrigues, que vê derrubada uma de suas teses mais populares, a que diz que toda unanimidade é burra. Até concordo com ele, mas toda regra tem uma exceção e bush é uma delas. Talvez, até porque não conhecia essa máxima de Nelson Rodrigues. Desde que se instalou na Casa Branca, vem tentando implantar o projeto da maioria permanente, essa sim, uma unanimidade burra, principalmente numa das maiores democracias do planeta e a que serviu de referência para todos nós, até pouco tempo atrás.

Mas tem gente que não muda nunca. bush, por exemplo. Al Gore, que se tornou para sempre, aquele que deveria ser o próximo presidente dos Estados Unidos, não concorda comigo, porque, nesse ponto, se parece muito com bush. Os dois são cabeça dura. Com uma diferença, bush não está nem aí para as questões ambientais que põem em risco a sobrevivência do nosso planeta. Em Nairóbi, voltou a afirmar que não assina o Protocolo de Kioto. Continua batendo pezinho. Al Gore, mesmo admitindo que seria difícil pra ele também assinar o Protocolo, caso tivesse levado a vitória que obteve nas urnas, hoje lidera um movimento para conscientizar o mundo da emergência deste tema. Al Gore, que esteve recentemente no Brasil, lançando o seu documentário Uma verdade inconveniente, onde denuncia o terror do aquecimento global, garante ainda que os Estados Unidos vai mudar sua política ambiental, seja quem for o vitorioso nas eleições de 2008.

Penso que isso pode acontecer mesmo. Não por pressão do novo Congresso ou dos democratas, mas pelo movimento da própria sociedade americana. A Califórnia, maior Estado americano, já aderiu a Kioto.Trezentas e dezenove cidades americanas e mais lideranças conservadoras e religiosas, da mesma forma, já abraçaram Kyoto. Então, a mudança é só uma questão de tempo, se é que a democracia americana ainda tem fôlego para funcionar mais algumas temporadas.

E, por aqui, se fosse Lula, ficava esperto também. Em Nairóbi, o Brasil ganhou o prêmio Fóssil do Dia, que é concedido pela rede de ongs Climate Action Network aos países que mais tentam atravancar as negociações do novo acordo internacional, que substituirá o protocolo de Kioto, a partir de 2012. Achei injusto. O Brasil pode ter até pisado na bola, mas, se fez isso, foi sem querer. Pior que nós, são eles. E aí acho que bush mereceria essa honraria com muito mais razão. Mas, seja como for, o Brasil foi premiado e Lula, doravante, deveria andar com mais cuidado quando fosse tratar das questões ambientais, se não quiser virar também uma unanimidade nacional.

Um restinho de domingo em amenas divergências

Inté.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uau em Patrícia!Encontrei seu Blog na comundade "jornalistas blogueiros" do orkut, e me apaixonei!
Também tenho um blog, bem mais relfexivio filosoficamante digamos assim, mas logo que der quero postar temas politicos assim também, é um assunto que me interessa muito!
Parabéns, e se quiser deixar sua opnião la no meu, serei grata!

Beijo!
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