domingo, novembro 19, 2006

As dores do crescimento

Trilha alternativa: Amanhã, aquele de Guilherme Arantes, mas na voz de Caetano.

Meninas, me errem em 2007. Não me esqueçam, mas me errem quando forem olhar as vitrines. Nem me chamem quando forem à Lysia, mesmo que seja só para ver as novidades. Conheço esse refrão. Cinema em shopping? Piorou. Não vou. Pode até ser o lançamento do último filme de Almodovar ou de um blockbuster da vida. Anjos e Demônios! Não vou. Se quiserem a minha companhia, podem me convidar para um festival de cinema iraniano, de clássicos do cinema mudo ou de uma série ouro da produção indiana. Qualquer coisa do tipo, mas que seja no cineclube Savassi. Lá mesmo, naquelas cadeiras duras, onde você não vê, mas pescoça um filme. Aí, podem contar comigo, eu vou. Mas em shopping, desistam.

Outra coisa. Cafezinho na Savassi, no sábado pela manhã, nem com creme nem sem creme. Não vou cair na tentação. Conheço minhas fraquezas. Hoje passei por lá e não ia parar. Mas parei e entrei na Quixote. Resultado: saí com um exemplar da edição especial do Grande Sertão: Veredas e com o último livro de Douglas Adams e um de John Grisham, esses para os meninos. Em 2007, não vou cair nessa armadilha. Também não vou embarcar naquela conversa mole, de dar só uma entradinha naquela lojinha que tem ali na esquina, que está com os preços ótimos. Ótimos para qualquer pessoa, menos para mim. Em 2007, vou ser radical. Caminhar na Savassi, só no domingo pela manhã, antes das 10 horas. E levando uma garrafinha d´água a tiracolo.

Compras no supermercado? Também vou reduzir. Ficarão restritas a uma vez por mês. Estarão suspensas as idas diárias ao Super Nosso para comprar pão, verduras ou um lanche para noite. Sei como termina essa história. O carrinho sempre sai carregado de outros itens que vi por acaso e achei que seriam necessários em algum dia da semana. Pão em 2007, só na padaria. Mesmo saindo mais caro. Meninas, vocês repararam que, depois dessa invenção de só vender pão a quilo, o pãozinho francês teve uma aumento de 100%? Fiz as contas ontem. O paõzinho que comprava a R$ 0,15 passou para R$ 0,30 e ficou ainda menor. Mas não tem importância. Na padaria só compro pão e isso já é uma economia. Da mesma forma, frutas e legumes, só vou comprar no sacolão. Nem em caso de emergência vou entrar num supermercado.

Outra coisa, táxi estará definitivamente proibido. Só em casos extremos. Se os meninos quiserem circular no final de semana, vou ter de usar o mercedão. Vou até comprar uma cartão de vale-transporte para os dois, mas dinheiro para táxi, esqueçam. Não. Eu não estou com medo de 2007. Pelo contrário. Estou apostando em 2007. E é por isso que vou cortar na carne. Subtrair até a última gota os gastos correntes e gerar uma poupança para investir. Vou fazer a minha parte. Sabemos muito bem, quando estamos educando nossos meninos, que não adianta ficarmos só falando: tem de fazer isso, não pode fazer aquilo, faça desse jeito e assim por diante. É inócuo. Temos de dar o exemplo. E é isso que vou fazer em 2007.

O Brasil precisa crescer, não precisa? Pelo menos, todo mundo está dizendo que sim. Eu até tenho minhas dúvidas, se não sobre o crescimento, pelo menos, sobre o como. Mas o que penso agora não vem ao caso. O que importa é que, para crescer, o governo precisará cortar gastos correntes e liberar recursos para investimento. Mas, parece, está confuso sobre como fazer isso. Então vou dar o exemplo. Vou fazer a minha parte e esperar para ver o espetáculo que está sendo anunciado, de um crescimento de 5% ao ano. Será que eles vão prestar atenção?

Também estão confusos sobre onde investir. Não tem problema, dou o exemplo outra vez. Não vou aplicar os recursos que economizar no mercado financeiro. Claro que não, ficaram doidas meninas? Vou investir no setor produtivo. Gerar empregos, renda e riquezas. Vou investir no setor da construção civil, que tem um poder multiplicador fantástico. Tinha até pensado de fazer um puxadinho no quintal, para abrigar os livros que estão ficando empilhados no chão do escritório. Num cantinho, ainda poderia instalar a tevê e o som e, no outro, uma mesa de ping-pong ou de totó. Mas abandonei os planos. Vai que os meninos se entusiasmem e gostem da idéia. Vão me deixar num beco sem saída. Além do mais, agora já tenho outros projetos. Vou é construir muros. Ainda não sei bem onde, mas vou, porque ouvi dizer que é super in construir muros, e não vou ficar de fora dessa, não é mesmo?

Então, o bush, aquele que não assina o tratado de Kioto e ainda bate pezinhos, já anunciou que vai construir um muro entre as fronteiras dos Estados Unidos e México. É uma bobagem, porque o México já está dentro dos Estados Unidos faz séculos. E vice-versa. Os Estados Unidos está dentro do México desde o início da sua história. Mas já entendi o que bush pretende com seus planos. Depois de um mandato ganhando rodos de dinheiro vendendo armas para o mundo todo e promovendo a destruição em massa pelo planeta, agora chegou a hora de buscar novas fontes de renda. Chegou a hora de dar uma canja para a indústria americana da construção civil. bush vai promover uma nova onda de crescimento, reconstruindo tudo que destruiu no seu primeiro mandato. O muro será apenas um treino para os contrutores.

Mas não é só bush que tem planos concretos. O príncipe Nayef, ministro de Interior da Arábia Saudita, já anunciou que vai também construir um muro ao longo dos 900 km da fronteira do seu país com o Iraque. A obra incluirá a instalação de guaritas militares e equipamentos de vigilância, somando um investimento de US$ 12 bilhões. A turma da construção civil nos Estados Unidos já está dando até gritinhos de satisfação. Vai disputar tijolo por tijolo dos quase 2 mil quilômetros de muros que serão construídos até o final de 2010. É o mundo globalizado fechando as porteiras. Êita!

Mas, então. Vou construir muros também. Talvez no quintal ou no jardim. Vou licitar uma obra para construção de labirintos domésticos. De repente, vira até uma obra de arte, hem? Só espero que Lula tenha um pouco mais de imaginação do que eu, que só faço seguir a moda. Além do mais, o Brasil já é todo cortado por muros virtuais. Espero que Lula seja mais criativo e invista na construção pesada. Invista, por exemplo, na construção de pontes, unindo esses brasis que estão isolados por aí. É uma idéia. Posso até pensar sobre ela também. Ao invés de labirintos, posso construir pontes no meu quintal. Quem sabe? Enfim, de um jeito ou de outro, vou fazer a minha parte. Espero que eles prestem atenção e também façam a sua parte.

Um restinho de domingo sem sorvete, sem trufas ao rum, sem pipoca nem guaraná. Ficou muito triste, né? Vou ponderar.

Um restinho de domingo cheio de novos planos e um cafézinho fresco, acompanhado de pão de queijo e broinha, para todos. Afinal, é só um lanchinho, né? Não vai fazer diferença no final do mês.

E buenos dias a friente tambien.
Hasta.

Um comentário:

patricia duarte disse...

O blogspot está sequestrando os comentários dos meus amigos. Qualé, hem?

Esse é da minha amiga Ana Paula. Recebi pelo correio e vou colar uma parte dele aqui, que é o seu lugar (rsrs).

Aí Patricia chic demais...adorei ler isso...mas não se esqueça q o Dani adora um taxi.....!!!!!!!
bjs