quarta-feira, novembro 29, 2006

Melhor tampar o nariz!

Trilha alternativa: A Prayer, com a mesma de sempre, Madeleine Peyroux

bush foi visitar o Iraque. Finalmente me deu ouvidos. Foi pedir aos iraquianos sugestões sobre o que fazer com eles. Mas deu azar. Olha só. Ia para o Iraque e foi parar na Jordânia. Parece que o vírus que atacou os sistema brasileiro de controle de vôos está se espalhando. A turma da torre dos aeroportos americanos também já está meio que perdida, hem? Vôo 3.709 civis mortos apenas no mês de outubro, com destino ao Iraque! bush, que não assina o Tratado de Kioto nem que a mamãe dê beijinhos, levanta as orelhinhas e grita: é o meu!

Entra saltitante e já armando confusão. Briga com Jaap de Hoop pra ficar na janela. Uma bobagem! Jaap de Hoop ia até reagir, mas tinha outros planos. Prometeu fazer um duelo de rap com Snoopy Dog, bem no centro de Bagdá, para acalmar os ânimos. Precisava, portanto, se concentrar muito para não fazer feio. Deixou pra lá e cedeu a janela a bush. júnior não se deu por vencido e resolveu discutir agora com a aeromoça. Fez um papelão só porque não tinha balinhas toffe caramelizadas para distrair durante a decolagem. Esse bush, pelo amor de deus!

Bom, aí, depois de mais de 10 horas de viagem, sendo seis sobrevoando zonas de alta turbulência, o avião pousa. bush desce sonolento e aí vem o susto: ué! Vocês me falaram que a situação aqui estava periclitante e está tudo calmo! Querem me enganar, é? E foi lá se informar no balcão da American Airlines. Foi é armar barraco outra vez, isso sim. Queria furar fila, vê se pode? Mas a recepcionista pôs moral e ele teve de encarar a espera sem chiar.

Depois dos quinze marmanjos que estavam na sua frente, bush finalmente conseguiu falar com uma atendente da Airlines, para descobrir que definitivamente não estava no Iraque. Mas onde estou, então? Que país é este, meu deus? Foi aí que o avisaram que havia pousado na Jordânia. Mas, sabe, ele nem discutiu. Isso parece estranho, não parece? Só que, no fundo, no fundo, ele ficou é agradecido e verdadeiramente aliviado. Pensa bem, o Iraque está uma zona! Era fria, na certa. Baixar no coração de Buhriz ou em plena Nassiriya não ia ser nada divertido.

Depois tem outra coisa. Não seria muito conveniente mesmo descer no Iraque em pleno calor da discussão. Afinal, o que está acontecendo ali? Uma guerra? Mas qual guerra? Uma guerra civil? Um conflito sectário? Uma onda de violência? Um distúrbio social? Um confronto entre facções rivais? A barbárie? Os especialistas e analistas de guerra americanos estão bem confusos. A grande imprensa dos EUA não. Ela tem um jeito simples para resolver questões muito polêmicas. Faz uma enquete junto a seus leitores. E fez. O resultado saiu ontem e ontem mesmo a grande imprensa dos EUA anunciou que, a partir de amanhã, passará a se referir ao conflito como guerra civil. Percebeu a simplicidade?

Bom, aliviado, bush deixou o aeroporto e foi se encontrar com os aliados da força de coalizão, para tentar encontrar uma saída honrosa do Iraque. júnior defendeu o envio de mais tropas ao país e Jaap de Hoop apoiou. Mas fico desconfiada de que Hoop está pensando mesmo é no seu público para o duelo com Snoppy Dog. Os parceiros da coalizão também estão cabreiros e, até prova em contrário, vão ficar em silêncio. Só Tony Barbie manifestou a sua concordância. Mas bush não leva Barbie muito a sério e, por isso, já enviou um e-mail a Condolezza pedindo a convocação de uma reunião do Conselho de Segurança de Guerras e outros Conflitos Armados para discutir o assunto. Orientou-a também a convidar dois especialistas para o encontro: Lula, expert em coalizão sem oposição e o jedi Obi-Owan-Kenobi, que enfrenta qualquer parada. Agora é aguardar.

Desviado e meio do meu caminho, desviado por inteiro. Acho que foi isso que bush pensou, quando descobriu que estava na Jordânia e que seus aliados não estão lá muito entusiasmados de continuar mais uma partida de War Júnior. Aí resolveu mudar de assunto. Pediu aos aliados para enviar tropas ao Afeganistão. Surtei. Quem que entende esse bush? Não era para o Iraque? Bom, mas continuou a prosa e arrematou culpando Al Qaeda pelo que está acontecendo no Iraque. Ah, claro! As tropas do Al Qaeda estão espalhadas pelas ruas do Iraque. Como não vi isso antes? E daqui a pouco bush vai dizer: se não é do Al Qaeda é de Osama Bin Laden. E se não é de nenhum dos dois, então é do cabo Júlio.

Que papo, hem? Enquanto bush perde tempo, discutindo em tese soluções para a guerra que inventou, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e o presidente iraquiano, Jalal Talabani, resolveram juntar seus trapinhos e botar um ponto final nessa bagunça toda. bush não quer nem ouvir falar nessa história. Está se fazendo de surdo e bobo. Mas Jalal e Khamenei estão on line e vibrando com a nova amizade. Como é que isso vai acabar é que não sabemos, não é? Teremos de aguardar mais uma vez.

O meu medo é que, diante dessa situação, não poderemos nem mesmo buscar abrigo na Igreja Globalizada Deixe Jesus em Paz. O controle agora está mesmo nas nossas mãos. Ou esses carinhas resolvem isso por lá mesmo e de uma vez por todas, ou temo que vamos cruzar definitivamente o portal do Inferno de Dante. Deus nos guarde!

E nossos anjinhos da guarda também, que, mais uma vez, fiquem de prontidão e não nos abandonem a nossa própria sombra.

Um belo dia.

domingo, novembro 26, 2006

Mayday, mayday

Trilha alternativa: Dreamland, com Madeleine Peyroux

Não tenho mais medo de avião hoje do que tinha ontem. Mas nem sempre foi assim. O ronco de um avião cruzando o céu era uma senha. Onde estivéssemos, fazendo o que estivéssemos fazendo, tudo era interrompido, para ver o avião passar. Era um fascínio. Eu me lembro que quem primeiro apontasse o dedo, indicando de onde ele iria surgir, podia se gabar da sua esperteza por bons dias, pois não era toda hora que tínhamos a chance de ver, sobrevoando a cidade, um cessninha que fosse e, menos ainda, um boeing 707 ou um caravelle.

Enquanto os aviões não vinham, nos distraímos, às vezes, olhando o vôo dos urubus. O vôo de um urubu é muito parecido com o de um avião. Pelo menos de longe. Com as asas bem abertas, planando numa corrente de ar, fazendo curvas, descendo e subindo, parecem aviões acrobatas. E os urubus rondavam a cidade com muito mais freqüência do que os aviões. Hoje é o contrário. Mas, naquele tempo, e nem tanto tempo faz, eram eles que nos distraiam quando uma brincadeira perdia a graça. Só de vez em quando, muito raramente, os aviões tornavam-se a nossa brincadeira.

Então. Passado o fascínio pelos aviões, veio a indiferença. Ainda olhávamos para cima, mas só para conferir se aquele trambolho não ia cair em cima de nossas cabeças. Não saíamos mais para rua e nem caçávamos no céu aquele estranho pássaro. Alguns ainda preservaram a fissura por aviões, mas só por aqueles de guerra. E declamavam os feitos de cada um deles, na 1ª. e na 2ª. Grande Guerra, como se fosse uma poesia. Mas não eram diferentes daqueles que discutiam o valor de um selo ou dos que trocavam figurinhas de carros ou recitavam a escalação de times que nunca viram jogando. Era só mania ou um jeito esquisito de passar o tempo.

Foi quando nós mesmos tivemos de entrar dentro de um avião, para cortar o céu e sobrevoar a terra de uma cidade a outra, é que o medo começou a nos provocar. Alguns foram definitivamente derrotados e nunca venceram a paura de voar. Até hoje só trafegam em terra firme. Outros, mesmo amedrontados, enfrentaram o desafio e fizeram o seu batismo no ar. Uns poucos realizaram o sonho de criança e fizeram a sua primeira viagem com o nariz grudado no vidro da janelinha para não perder nada. Foi só quando tivemos de entrar dentro de um avião é que começamos a nos questionar como é que aquela geringonça toda, muito mais pesada do que o ar, muito menos flexível do que a asa de um passarinho, poderia se manter nas alturas sem cair sobre nossas cabeças.

Mas com o advento dos relógios digitais, que controlam com absoluta precisão até os segundos dos nossos dias, as viagens de avião começaram a se tornar mais freqüentes. Valia tudo para ganhar mais tempo. Assim como hoje. Não é que perdemos o nosso medo de voar, portanto, mas ficamos aterrorizados só de pensar em perder tempo. E, na hora de avaliar os custos e benefícios, as viagens de avião tornaram-se imbatíveis e, por isso, se banalizaram. Não o nosso medo, que ficou contido, mas nunca foi superado.

E não adianta os fissurados virem me dizer que andar de bicicleta é muito mais perigoso do que de avião. Ou que corremos muito mais risco ficando dentro de casa do que viajando num learjet desses que voam por aí. Segundo esses fanáticos, estatísticas do Departamento de Transportes do governo dos Estados Unidos já comprovaram que os acidentes aeronáuticos foram responsáveis apenas por 0,08% das fatalidades, enquanto acidentes ciclísticos contribuíram com 0,67%, acidentes domésticos com 17,99% e acidentes rodoviários, com 38,70%.

Americano acha que só tem bobo no resto do mundo. Ora bolas, quantas pessoas andam por aí voando num avião e quantas ficam por aqui em terra firme? Qual impacto é mais intenso: o de uma batida entre duas bicicletas, a 40 km por hora, se muito, ou entre dois carros, a 120 km por hora? E quantas pessoas ficam só em casa, porque nem tem para onde ir? Tenham paciência, né?

Também não me esqueci das tempestades solares e das bolhas ionosféricas. Sei muito bem que estamos entrando num período de atividades solares intensas. E mais, que o Brasil, pra mal dos nossos pecados, encontra-se exatamente numa das raras regiões do planeta onde ocorre o fenômeno das bolhas ionosféricas. Também sei que as tempestades solares interferem fortemente nos sistemas de comunicação, como aqueles utilizados pelos aviões. Sei ainda que os efeitos das bolhas ionosféricas sobre as telecomunicações e, principalmente em sistemas de posicionamentos, como os de um GPS, ocorrem em diversos graus de intensidade, dependendo de quanto o sistema está ou não preparado para resolver o problema da interferência. Se vocês se esqueceram disso, eu ainda me lembro.

O nosso medo, portanto, é muito justificado. E não vai ficar maior só porque a Aeronáutica resolveu agora, só agora, divulgar que, entre 1988 e julho deste ano, foram registrados no Brasil 796 casos confirmados de quase-colisões entre aviões. Isso não nos assusta mais do que os próprios aviões. O nosso medo é antigo e o mesmo de sempre: medonho. Mas, para superar o tempo, vamos continuar voando, como provam todos aqueles que estão pernoitando nos aeroportos, a espera da chegada de uma aeronave e do anúncio do próximo vôo. A todos, boa viagem e boa sorte.

Agora, como já é tarde, vamos nos recolher nas asas de morfeu e, se for possível, ter apenas bons sonhos.

Durmam com os anjinhos.

Voei.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Conversa fiada

Trilha alternativa: Within You, Without You, com eles, os Beatles

Eu entendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Também acho que têm conversas que é melhor não tê-las. Não que nunca, mas talvez só no momento certo. Têm conversas que são até boas, mas mesmo assim, não convém. Outras, nem tanto. Melhor evitá-las. E dos pescopapos, temos de fugir deles. Passo léguas de distância.

Têm conversas que é melhor mesmo não tê-las, porque não levam a nada. Vocês já tentaram conversar com um adolescente em crise? É bobagem puríssima. Não adianta falar que ele é lindo, forte, inteligente, engraçado, que todo mundo é doido com ele, que a vida é bela, que tudo passa, que em terra firme nada é definitivo, que o céu é azul e que o melhor de tudo é que depois de um dia, vem outro dia. Besteira.

Adolescente em crise acha que o mundo desabou, que o chão escapou, que o abismo é fundo e que no fundo do fundo tem outro fundo que não tem fundo. Nessas horas, melhor do que conversar é fazer um brigadeiro bem cremoso e deixar encima da mesa, assim meio que esquecido. É deixar o cd, que ele adora, tocando no som e ainda comentar, distraidamente, que essa é a música. É assistir, ao lado dele, bem agarradinha, o último jogo de futebol de não sei quem contra quem e comentar furiosamente todas as bobagens que o juiz fizer. Só isso e não mais que isso, pois todo o resto é em vão.

Só quando tudo passa, o tudo que não é nada, é que dá pra voltar a conversar. Aí vale o que vier. Vale até conversa afiada. E, melhor que isso, bem melhor, depois que o tudo passa, é jogar conversa fora. Parece que também não levam a nada, mas é ledo engano. Dois dedos de prosa sobre nada e, de repente, percebemos que já não vemos mais o mundo como o víamos antes. São palavras ao vento, mas no bom sentido, pois são capazes até de mudar o rumo de uma história. Mas hoje são raras. Ninguém gasta tempo com conversa fiada, um assunto puxando outro, um caso emendando em mais um e outro mais, como se tecêssemos uma grande história. Nem rola. Ninguém mais joga conversa fora.

Fernando Henrique não joga e eu entendo. Pode até falar sozinho, falar até pelos cotovelos, atabalhoadamente. Mas se é uma conversa, é preciso dois. No mínimo. É preciso então saber quem está a conversar com quem. Cada um tem que ser cada um. E aí é que está. Qual PSDB vai conversar com Lula? Qual Lula vai se apresentar? E onde vão conversar? Atrás de portas fechadas? A luz de velas acesas? Outra vez Fernando Henrique tem razão. É melhor conversar com o povo, de quem se distanciaram tanto, se é que já estiveram próximos um dia. É melhor conversar à luz do sol, no meio da rua, sob os holofotes do Plenário. Um de frente pro outro, um olhando olho no olho do outro. E mais, se é mesmo pra conversar, tem que ter o que conversar. De abobrinha, basta a que já nos fartamos durante as eleições, não é não?

Um restinho de semana com muita conversa fiada no ar.

Até mais ver

domingo, novembro 19, 2006

As dores do crescimento

Trilha alternativa: Amanhã, aquele de Guilherme Arantes, mas na voz de Caetano.

Meninas, me errem em 2007. Não me esqueçam, mas me errem quando forem olhar as vitrines. Nem me chamem quando forem à Lysia, mesmo que seja só para ver as novidades. Conheço esse refrão. Cinema em shopping? Piorou. Não vou. Pode até ser o lançamento do último filme de Almodovar ou de um blockbuster da vida. Anjos e Demônios! Não vou. Se quiserem a minha companhia, podem me convidar para um festival de cinema iraniano, de clássicos do cinema mudo ou de uma série ouro da produção indiana. Qualquer coisa do tipo, mas que seja no cineclube Savassi. Lá mesmo, naquelas cadeiras duras, onde você não vê, mas pescoça um filme. Aí, podem contar comigo, eu vou. Mas em shopping, desistam.

Outra coisa. Cafezinho na Savassi, no sábado pela manhã, nem com creme nem sem creme. Não vou cair na tentação. Conheço minhas fraquezas. Hoje passei por lá e não ia parar. Mas parei e entrei na Quixote. Resultado: saí com um exemplar da edição especial do Grande Sertão: Veredas e com o último livro de Douglas Adams e um de John Grisham, esses para os meninos. Em 2007, não vou cair nessa armadilha. Também não vou embarcar naquela conversa mole, de dar só uma entradinha naquela lojinha que tem ali na esquina, que está com os preços ótimos. Ótimos para qualquer pessoa, menos para mim. Em 2007, vou ser radical. Caminhar na Savassi, só no domingo pela manhã, antes das 10 horas. E levando uma garrafinha d´água a tiracolo.

Compras no supermercado? Também vou reduzir. Ficarão restritas a uma vez por mês. Estarão suspensas as idas diárias ao Super Nosso para comprar pão, verduras ou um lanche para noite. Sei como termina essa história. O carrinho sempre sai carregado de outros itens que vi por acaso e achei que seriam necessários em algum dia da semana. Pão em 2007, só na padaria. Mesmo saindo mais caro. Meninas, vocês repararam que, depois dessa invenção de só vender pão a quilo, o pãozinho francês teve uma aumento de 100%? Fiz as contas ontem. O paõzinho que comprava a R$ 0,15 passou para R$ 0,30 e ficou ainda menor. Mas não tem importância. Na padaria só compro pão e isso já é uma economia. Da mesma forma, frutas e legumes, só vou comprar no sacolão. Nem em caso de emergência vou entrar num supermercado.

Outra coisa, táxi estará definitivamente proibido. Só em casos extremos. Se os meninos quiserem circular no final de semana, vou ter de usar o mercedão. Vou até comprar uma cartão de vale-transporte para os dois, mas dinheiro para táxi, esqueçam. Não. Eu não estou com medo de 2007. Pelo contrário. Estou apostando em 2007. E é por isso que vou cortar na carne. Subtrair até a última gota os gastos correntes e gerar uma poupança para investir. Vou fazer a minha parte. Sabemos muito bem, quando estamos educando nossos meninos, que não adianta ficarmos só falando: tem de fazer isso, não pode fazer aquilo, faça desse jeito e assim por diante. É inócuo. Temos de dar o exemplo. E é isso que vou fazer em 2007.

O Brasil precisa crescer, não precisa? Pelo menos, todo mundo está dizendo que sim. Eu até tenho minhas dúvidas, se não sobre o crescimento, pelo menos, sobre o como. Mas o que penso agora não vem ao caso. O que importa é que, para crescer, o governo precisará cortar gastos correntes e liberar recursos para investimento. Mas, parece, está confuso sobre como fazer isso. Então vou dar o exemplo. Vou fazer a minha parte e esperar para ver o espetáculo que está sendo anunciado, de um crescimento de 5% ao ano. Será que eles vão prestar atenção?

Também estão confusos sobre onde investir. Não tem problema, dou o exemplo outra vez. Não vou aplicar os recursos que economizar no mercado financeiro. Claro que não, ficaram doidas meninas? Vou investir no setor produtivo. Gerar empregos, renda e riquezas. Vou investir no setor da construção civil, que tem um poder multiplicador fantástico. Tinha até pensado de fazer um puxadinho no quintal, para abrigar os livros que estão ficando empilhados no chão do escritório. Num cantinho, ainda poderia instalar a tevê e o som e, no outro, uma mesa de ping-pong ou de totó. Mas abandonei os planos. Vai que os meninos se entusiasmem e gostem da idéia. Vão me deixar num beco sem saída. Além do mais, agora já tenho outros projetos. Vou é construir muros. Ainda não sei bem onde, mas vou, porque ouvi dizer que é super in construir muros, e não vou ficar de fora dessa, não é mesmo?

Então, o bush, aquele que não assina o tratado de Kioto e ainda bate pezinhos, já anunciou que vai construir um muro entre as fronteiras dos Estados Unidos e México. É uma bobagem, porque o México já está dentro dos Estados Unidos faz séculos. E vice-versa. Os Estados Unidos está dentro do México desde o início da sua história. Mas já entendi o que bush pretende com seus planos. Depois de um mandato ganhando rodos de dinheiro vendendo armas para o mundo todo e promovendo a destruição em massa pelo planeta, agora chegou a hora de buscar novas fontes de renda. Chegou a hora de dar uma canja para a indústria americana da construção civil. bush vai promover uma nova onda de crescimento, reconstruindo tudo que destruiu no seu primeiro mandato. O muro será apenas um treino para os contrutores.

Mas não é só bush que tem planos concretos. O príncipe Nayef, ministro de Interior da Arábia Saudita, já anunciou que vai também construir um muro ao longo dos 900 km da fronteira do seu país com o Iraque. A obra incluirá a instalação de guaritas militares e equipamentos de vigilância, somando um investimento de US$ 12 bilhões. A turma da construção civil nos Estados Unidos já está dando até gritinhos de satisfação. Vai disputar tijolo por tijolo dos quase 2 mil quilômetros de muros que serão construídos até o final de 2010. É o mundo globalizado fechando as porteiras. Êita!

Mas, então. Vou construir muros também. Talvez no quintal ou no jardim. Vou licitar uma obra para construção de labirintos domésticos. De repente, vira até uma obra de arte, hem? Só espero que Lula tenha um pouco mais de imaginação do que eu, que só faço seguir a moda. Além do mais, o Brasil já é todo cortado por muros virtuais. Espero que Lula seja mais criativo e invista na construção pesada. Invista, por exemplo, na construção de pontes, unindo esses brasis que estão isolados por aí. É uma idéia. Posso até pensar sobre ela também. Ao invés de labirintos, posso construir pontes no meu quintal. Quem sabe? Enfim, de um jeito ou de outro, vou fazer a minha parte. Espero que eles prestem atenção e também façam a sua parte.

Um restinho de domingo sem sorvete, sem trufas ao rum, sem pipoca nem guaraná. Ficou muito triste, né? Vou ponderar.

Um restinho de domingo cheio de novos planos e um cafézinho fresco, acompanhado de pão de queijo e broinha, para todos. Afinal, é só um lanchinho, né? Não vai fazer diferença no final do mês.

E buenos dias a friente tambien.
Hasta.

quarta-feira, novembro 15, 2006

À Nossa Senhora das Boas Práticas

Olha só. Hugo Chavez estava andando, andando, andando e aí encontrou uma lâmpada mágica. Esfregou e, tchanam!, apareceu um gênio. Em tempo de vacas magras, o gênio disse:
- Pode fazer um pedido.
- Huuummmm! – pensou Chavez. Já sei! Quero que você construa uma ponte ligando Venezuela a Cuba!
- Huuummm! – pensou o Gênio. É impossível! É muito difícil!
- É o que eu quero e com quatro pistas! – insistiu Chavez.
- Não vai rolar – encerrou o gênio. Pede outra.
- Huummm! Está bem. Então lá vai. Quero entender a minha mulher.
- Huuummm! Está bem. Com seis pistas!

Não fui eu que inventei essa historinha. Foi um amigo que nos contou hoje, durante o almoço. Tudo bem. Reconheço. Tem dias que é muito difícil mesmo entender o que se passa na cabeça de uma mulher. Somos um pouco assim mesmo. Complexas e caóticas. Mais caóticas que complexas. Mas tem dias, não todos. Na maior parte do tempo, somos muito práticas. Querem ver?

Semana passada estava atolada no trabalho. Mas nem estava desesperada. Estava lá, fazendo cada coisa de uma vez, com convém. Terminou o dia, fui buscar os meninos na escola. Para não parar em fila tripla, dei a volta no quarteirão e estacionei numa esquina, em frente a uma padaria e um sacolão, numa rua bem movimentada. Me ausentei por poucos minutos e, quando voltei, adivinhem! Não, não. O carro continuava lá. Mas, sem as placas. Levaram as duas. Conheço um menino, que anda aqui pelo bairro, que fala que ninguém gosta de ser tirado. E isso é a pura verdade.

Quando vi meu carro pelado, subiu uma revolta não sei de onde que quase, aí sim, me desesperei. Mas ainda não. Fiquei só atônita. Parada e sem saber o que fazer. Na rua, ninguém viu nada. Eu não via nada também. Nem um guarda. Sem ter mais o que fazer ali, entramos no carro e partimos para mais uma nova aventura. Atravessar a cidade, sem ser notados. E conseguimos.

Cheguei em casa e, imediatamente, fui comunicar o fato à quem de direito: a polícia. Fui super bem atendida. A moça que me ouvia do outro lado da linha até me confortava:

- Ainda bem que não levaram o carro, né?

Eu concordei. Ela tinha razão. Depois me orientou a formalizar a queixa, pessoalmente, no Departamento de Investigação. Claro, também estavam querendo o quê? Denúncia virtual? E a prova material do crime? Só que aí veio a dúvida. Como vou até lá, com um carro sem placas? E se a polícia me parar no meio da rua? Até explicar tudo direitinho, vai ser um sufoco bem desagradável! E se eu perder a paciência? E se a polícia perder a paciência? Enquanto tentava resolver essa questão complexa, tocou a campainha. Era a polícia. Vieram, eles, pessoalmente, formalizar minha queixa. Levei até um susto. Passei todos os dados, relatei em detalhes, os poucos que tinha, tudo o que havia acontecido e o policial, muito educado encerrou o BO. Se despediu e disse:

- Amanhã, até 9 horas, a senhora deve ir ao Posto Policial buscar a cópia deste Boletim. Até as 9 horas, hem? E, agora, a senhora deve ir ao Detran formalizar a queixa.

Pensei que já estava formalizada. Mas concordei. Ele tinha razão. Afinal era o roubo de uma placa de carro. Ninguém vai imaginar que fizeram isso para resolver o problema da fome no Brasil, né? Quem roubou essas placas não tem planos solidários na cabeça. Vão usá-las para fazer alguma confusão. Imediatamente, chamei um táxi, não ia me aventurar novamente nas ruas com um carro sem identidade. Cheguei no Detran em poucos minutos e apresentei meus documentos.

- Quero dar uma queixa do roubo das placas do meu carro. Foi agora mesmo.

O rapaz que me atendeu foi super educado. Anotou tudo e perguntou se tinha mais alguma coisa a declarar.

- Ah sim. Já fiz o BO. O número do boletim é tal.
- Mas como? Se a senhora já fez o registro da ocorrência, porque está fazendo outra vez?
- Porque me mandaram – respondi.
- Mas não precisa – respondeu ele. Duas ocorrências sobre o mesmo fato? Qual a lógica disso?
- Sei lá, uai. Foi essa a orientação que recebi.
- Pode ir embora – despediu-se o rapaz, agora secamente.

Voltei pra casa. No dia seguinte, levantei cedo para buscar a cópia do Boletim e levá-la ao Detran para reemplacar o carro. Claro, desci de carro, para não perder a hora. E, admito, também para viver mais alguns minutos perigosamente. Estacionei ao lado do posto policial e entrei. Fui super bem recebida. Agiram com rapidez e simplicidade. Nada de burocracia. Saí feliz e me sentindo até bem protegida, com três cópias do BO nas mãos, para não ter dúvidas.

Quando cheguei perto do carro, dois policiais rondavam o meu possante. Fingi que não os vi e abri a porta do carro. Já ia entrando, quando um deles me chamou:

- Ei, você!
- Eu?
- Isso mesmo. A senhora é a proprietária desse carro?
- Sou.
- A senhora já percebeu que ele está sem as placas.

Perceberam vocês? É claro que ele já estava pensando que eu estava naqueles dias caóticos, em que nos tornamos incapazes de dar conta do que se passa debaixo do nosso nariz. Mas não perdi a paciência. Pelo contrário, foi como um alerta para que me tornasse mais paciente ainda.

- Justamente – respondi. Foi exatamente isso que vim fazer aqui, formalizar a minha denúncia do roubo das placas do carro e buscar as cópias do BO.
- A senhora já fez o registro da ocorrência?
- Foi a primeira coisa que fiz. Até antes de servir o lanche aos meus filhos, ainda ontem à noite.
- A senhora tem o BO?
- Exatamente. Foi isso que vim buscar.

O policial, educamente, pegou o papel das minhas mãos e pôs-se a ler. Por alguns minutos ficou assim, de cabeça baixa, lendo linha por linha do Boletim de Ocorrência. Depois, dobrou o papel cuidadosamente, me devolveu e disse:

- Agora a senhora deve ir ao Detran e providenciar o reemplacamento do carro. O quanto antes. A senhora sabe, a rua anda cheia de marginais, né? Até pensei que esse carro sem placa, aqui no meio da rua, era de um deles! A senhora me desculpa. Não deixe para depois.

Não deixe para depois. Essas palavras ficaram retumbando na minha cabeça.

- Mas por que não posso deixar para depois? – eu pensei.

Sentiram o vacilo? É exatamente assim que começa. Do momento em que percebi o roubo das placas até aquele instante, agia de forma prática e objetiva. Sem desespero algum. Mas aquelas palavras, me desconcertaram, confesso. Não deixe para depois. Por que não? Por que? Estava com três cópias do BO nas mãos, com toda a documentação do carro em dia, com uma agenda apertada de compromissos. Porque deveria largar pra trás todos os meus compromissos e ir rapidamente e direto ao Detran? Por que, ao invés de correrem atrás de mim, não iriam eles, os policiais, correr, isso sim, atrás do clone do meu carro que deve estar andando por aí?

Mas, como vocês, também percebi que estava começando a entrar numa zona caótica: povoada de dúvidas e interrogações.

- Não. Não vou embarcar nessa – disse a mim mesma.

Também não vou deixar que me confundam toda com essa história: agora faça isso! Não, não, faça aquilo! E faça mais isso. E vá ali. Não, vá naquele outro lugar! Podem parar! Não vou deixar me contaminar pela complexidade da vida é de jeito nenhum!

Entrei no carro, me aventurei novamente nas ruas e fui trabalhar. Cheguei calma, com tudo sob controle e, inspirada por Nossa Senhora das Boas Práticas, identifiquei um despachante, passei os documentos do carro, a cópia do BO, as chaves e o carro para o rapaz e disse, agora sim, já quase à beira do desespero:

- Pronto. Agora é só o senhor ligar o carro ir até o Detran resolver isso pra mim, de qualquer jeito. E sem relatos. Não quero saber de nenhum dos detalhes da trabalheira toda que o senhor terá pela frente. Só vá e faça, por favor. O mais rápido possível, porque ao meio dia tenho de pegar os meninos em casa e levá-los à escola. Faça assim, então, pelo amor de deus!, e sem detalhes.

O despachante olhou para mim consternado e disse:

- Não se preocupe, minha senhora, esse é o meu serviço. Ao meio dia estarei de volta.

E assim fez. Viram como somos capazes de ser bem práticas também? É claro que tudo poderia ter sido bem diferente. Poderia ter sido uma história bem mais complexa e caótica, mas não era o dia. É assim que somos.

Uma boa noite a todos e um resto de semana só de boas práticas

domingo, novembro 12, 2006

Uma verdade impertinente

Trilha alternativa: Jack Johnson outra vez, com Good People

Vou dizer uma coisa pra vocês. No substantivo, Al Gore concorda comigo. Ele não acha que bush seja um idiota, é apenas um homem com grandes idéias idiotas. Ele falou isso ao editor da revista The New Yorker, o jornalista David Remnick, em uma das entrevistas publicadas no livro Dentro da Floresta, da Companhia das Letras. Como vêem, a nossa discordância é apenas de classe gramatical. No que é essencial, concordamos e, pra mim, isso basta.

Acho que não só para mim. Também para Al Gore e boa parte do mundo e, agora, para mais de 50% dos americanos. Finalmente. Não sei se muda muita coisa, pois lá também o Congresso não anda com essa bola toda, mas, pelo menos é um sinal de alerta para os marqueteiros de bush. E eles, parece, ouviram o recado das urnas e já admitem que a neocanoa está dando água. Os colegas de trabalho de bush, idem, idem. O secretário da Defesa, o diabólico Donald Rumsfeld, por exemplo, pediu demissão assim que saíram os resultados da eleição.

bush se sentiu tão desamparado, que agora está pedindo à oposição sugestões para o Iraque. Agora, né? Depois da morte de quase 3 mil americanos e mais de 50 mil iraquianos, né? Tô entendendo. Depois da lambança que fez por lá, bush quer que alguém lhe dê sugestões para uma saída honrosa. Por que não pergunta aos iraquianos, uai? Quem sabem eles têm alguma boa idéia. Uma saída à francesa, por exemplo? Ou uma saída em fila indiana, um por um se desculpando e entrando no avião de volta pra casa? Poderia ser se houvesse uma saída. Mas não tem saída. bush se meteu numa grande encrenca e só sairá de lá corrido, como no Vietnan.

A tragédia da Guerra no Iraque já tem números suficientes para dar a dimensão do desastre. 53 mil mortos. Não é pouca gente, mas tem quem ache que esses números ainda não dizem tudo. A revista médica britância, The Lancet, estima, entre os civis, quase 650 mil mortos, desde a invasão do país. É o equivalente a 2,5% da população do Iraque. As autoridades dos Estados Unidos e do próprio Iraque contestam esse número. É claro, só reconhecem aqueles da sua própria contabilidade. Tudo bem, que seja 50 mil, já é uma boa estatística para meter medo em bush. Eu ficaria. Por mais ou menos isso, Saddam Husseim foi condenado à forca.

Mas não é só a guerra do Iraque que derrotou o projeto dos republicanos. A atuação de bush, aquele que não assinou o Tratado de Kioto, desagradou oito entre 10 eleitores ouvidos nas pesquisas de boca-de-urna. Quase uma unanimidade. No mundo já é, pra desgosto de Nelson Rodrigues, que vê derrubada uma de suas teses mais populares, a que diz que toda unanimidade é burra. Até concordo com ele, mas toda regra tem uma exceção e bush é uma delas. Talvez, até porque não conhecia essa máxima de Nelson Rodrigues. Desde que se instalou na Casa Branca, vem tentando implantar o projeto da maioria permanente, essa sim, uma unanimidade burra, principalmente numa das maiores democracias do planeta e a que serviu de referência para todos nós, até pouco tempo atrás.

Mas tem gente que não muda nunca. bush, por exemplo. Al Gore, que se tornou para sempre, aquele que deveria ser o próximo presidente dos Estados Unidos, não concorda comigo, porque, nesse ponto, se parece muito com bush. Os dois são cabeça dura. Com uma diferença, bush não está nem aí para as questões ambientais que põem em risco a sobrevivência do nosso planeta. Em Nairóbi, voltou a afirmar que não assina o Protocolo de Kioto. Continua batendo pezinho. Al Gore, mesmo admitindo que seria difícil pra ele também assinar o Protocolo, caso tivesse levado a vitória que obteve nas urnas, hoje lidera um movimento para conscientizar o mundo da emergência deste tema. Al Gore, que esteve recentemente no Brasil, lançando o seu documentário Uma verdade inconveniente, onde denuncia o terror do aquecimento global, garante ainda que os Estados Unidos vai mudar sua política ambiental, seja quem for o vitorioso nas eleições de 2008.

Penso que isso pode acontecer mesmo. Não por pressão do novo Congresso ou dos democratas, mas pelo movimento da própria sociedade americana. A Califórnia, maior Estado americano, já aderiu a Kioto.Trezentas e dezenove cidades americanas e mais lideranças conservadoras e religiosas, da mesma forma, já abraçaram Kyoto. Então, a mudança é só uma questão de tempo, se é que a democracia americana ainda tem fôlego para funcionar mais algumas temporadas.

E, por aqui, se fosse Lula, ficava esperto também. Em Nairóbi, o Brasil ganhou o prêmio Fóssil do Dia, que é concedido pela rede de ongs Climate Action Network aos países que mais tentam atravancar as negociações do novo acordo internacional, que substituirá o protocolo de Kioto, a partir de 2012. Achei injusto. O Brasil pode ter até pisado na bola, mas, se fez isso, foi sem querer. Pior que nós, são eles. E aí acho que bush mereceria essa honraria com muito mais razão. Mas, seja como for, o Brasil foi premiado e Lula, doravante, deveria andar com mais cuidado quando fosse tratar das questões ambientais, se não quiser virar também uma unanimidade nacional.

Um restinho de domingo em amenas divergências

Inté.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Tragam as chaves do cofre!

Trilha alternativa: Sitting waiting, wishing, com Jack Johnson, do cd In Between Dreams

Ó céus, a China é desproporcional mesmo! Agora está desorientada porque não sabe o que fazer com suas reservas, no valor de US$ 1 trilhão!. Vou escrever de novo, com letrinhas, para não deixar dúvidas: um trilhão de dólares!. Esse é o dinheiro que ela está juntando no cofrinho e que equivale, mais ou menos, ao tanto que ela ganha com a venda de seus produtos no supermercado mundial, menos o que ela gasta comprando matérias primas e maquinários para fazer esses produtos e mais a fábula de investimento que ela vem atraindo do mundo todo. Sacaram? Ela juntou essa grana boa em menos de dez anos e, desde o início de 2006, suas reservas têm aumentado a uma média de quase US$ 20 bilhões por mês.

Querem saber o que isso significa? US$ 20 bilhões é mais ou menos a metade de todo o superávit comercial que o Brasil deverá ter neste ano, segundo a Folha de São Paulo. Dimensionaram o tamanho do problema que a China pôs no cofre? Um trilhão de dólares equivale a 40% do seu próprio PIB, o que é muito, segundo os analistas econômicos. Mas é mais, muuuuito mais do que o PIB de boa parte do mundo todo e mais também, muuuuito mais, do que as reservas de qualquer país no planeta. É um super-hiper-mega fenômeno. Só que agora a China não sabe o que fazer com essa montanha de dinheiro. É o que eu digo, esse negócio de crescer desembestadamente é um problema.

E as autoridades chinesas concordam comigo. Elas já estão até tentando diminuir o ritmo de crescimento, só que não é fácil. É como parar um carro que vem a toda, a 200 km por hora. Não breca de jeito nenhum. Vai deslizando um pedaço de chão, se não encontrar um boi na pista ou qualquer outro obstáculo. E a China vai deslizar muito, se não ficar esperta. Por isso, com um trilhão de dólares na caixinha, eu não teria dúvida, começaria a distribuir já. O que qui custa?

A China tá apinhada de famílias carentes, não seria preciso nem exportar reservas para atender os pobres do mundo. Bastava vender dólares no mercado interno, captar yuans e dividí-los com o resto da população. Tudo bem, não precisa distribuir, vamos supor, três saquinhos de moeda por família, mesmo porque, já pensaram o tamanho da fila? Mas poderiam reverter esses dólares em obras e outras políticas sociais que beneficiassem essa população, sem obrigá-la a ter de sair do campo para cidade, como fizemos aqui, em busca de melhores oportunidades de vida. Nós acabamos na favela. O que de mais grave poderá acontecer com as megacidades chinesas?

Eu fico preocupada. Fico de verdade, sabem porque? Porque se a China se desorientar no mesmo grau e ritmo com que acumulou essa graninha, vai pirar o resto do mundo e mais um pouco e nós juntos. Por favor, nos incluam fora deste barco. Acho até que deveríamos dar uma mãozinha aos chineses, para ajudá-los a resolver esse problemão em que se meteram. Não vou mendigar dólar de ninguém, mas acho que deveríamos iniciar um movimento mundial de boicote aos produtos chineses. Que dó, hem? Os produtos chineses são tão baratins!

Mas olha só, a China já é o segundo maior país poluidor do mundo, só perde para os Estados Unidos. Se ficássemos por aí, já teríamos uma boa causa. Mas tem mais. A sua mão de obra é a mais mal paga do planeta. Ela trabalha em regime de escravidão e não é beneficiada com nenhuma política de assistência do Estado. Ela não tem nem previdência social. Segunda boa razão para boicotarmos os made in china. E tem mais: trabalho infantil, perseguição às crianças e desrespeito aos direitos humanos. Esses seriam alguns tópicos, entre outros, que poderiam constar de um manifesto de apoio ao Movimento Internacional de Boicote aos Produtos Chineses (MIBPOC). É uma idéia e desconfio que eles até iriam nos agradecer, considerando o sufoco que estão passando com o cofre cuspindo dólares pelo ladrão.

Agora tive mais uma idéia. E nem estou na beira do mar, mas os pensamentos estão vindo em ondas. Olha só, não é que o Brasil esteja passando por um problema semelhante ao da China. Quem nos dera, hem? Mas US$ 80 bilhões de dólares de reservas também não é pouca coisa para uma economia como a do Brasil. Não é uma fortuna, mas se pegássemos um pouquinho mais de 10% dessa nossa poupança, uns US$ 15 bilhões, para investir em obras de infra-estrutura já daria um bom agito na economia, sem comprometer os seus fundamentos. Ou não?

Ufa, cansei de fazer conta. Agora vou arrumar gavetas, que ninguém é de ferro.

Um fim de semana sem direito a fast food chinês.

Vamos variar, não é não? Que tal um lombo com tropeiro em Ouro Preto? Nós todos merecemos!

Até de repente!