Trilha alternativa: É primavera!, com o grande Tim Maia
Meninas, tenho uma notícia meio chata. Sabem aquelas contas que fizemos no final do ano passado? Sabem aqueles planos que fizemos? Os projetos de viagem, de abrir um Armarinho no litoral capixaba, de montarmos um curso de literatura brasileira só sobre Clarice? Ah, e a coleção de palavras cruzadas, que trocaríamos entre nós, no chá das quartas-feiras? E o cinema da quinta? As aulas sobre história das religiões na sexta? Tínhamos mais planos, não tínhamos? Ah, sim, o passeio no zoológico com as crianças de nossos filhos; no museu da ciência, no parque das Mangabeiras, na casa da Beatriz Alvarenga e onde mais? Estão lembradas? Melhor. Nem se esforcem para lembrar. Na verdade, esqueçam tudo!
A partir de outubro, tudo será diferente. Pra mim, do jeito que as coisas andam, acho que, antes mesmo de outubro, tudo será diferente. Mas, vá lá. Me disseram que é pós-outubro. Me disseram que, seja quem for o presidente eleito, já existe um projeto de reforma da previdência em fase de acabamento. Será colocado em discussão assim que as urnas forem fechadas e, assim que possível, em votação. Mais provável, no início do próximo ano. E me disseram que não ficaremos bem na foto. Nem com photoshop, nem com botox, nem com pancake velvet, nem com nadinha de nada.
Os rapazes que estão costurando o texto final da proposta acreditam piamente na igualdade entre os sexos. Para eles, essa está em pleno vigor. E, se é para ser igual, vão radicalizar. Será tudo igual, igual mesmo. Fizeram as contas e canetaram lá no texto. A idade para aposentadoria será uma só: de 65 anos para todos. Homens e mulheres. Idade mínima, claro, como bem frisou Sardenberg, num dos últimos CBN Brasil que ouvi. Podemos até ir além, se quisermos. Viram? Eu não disse que era meio chata. Meninas, planos adiados!
Agora vou dizer uma coisa: não me incomodo. Nem ligo, desde que façamos a repartição de tudo mais. Apoio a igualdade radical. Das pequenas às grandes coisas. Revezar na lavação da louça de domingo à tarde, ao invés de ficar no computador até acabar o Fantástico; revezar nas noites em que temos de levantar para tirar a temperatura do caçula que está com virose; e os dois, trabalhar; dividir quando tivermos de decidir o que fazer no almoço e no lanche, isso TODOS OS DIAS; e trabalhar; revezar nas idas ao supermercado; no arrumar as gavetas; e trabalhar; no pregar um botão na camisa; no passar a camisa; e trabalhar; revezar na hora de acompanhar os meninos nos deveres escolares; nas pesquisas e recortes de gravuras ilustrativas dos diversos biomas do Brasil; e trabalhar e em tudo mais dessa lista infindável de pequenas tarefas que consomem, no mais das vezes, todas as nossas horas vagas do dia. O terceiro turno.
Compartilhar também as grandes aflições: por que ele chegou do trabalho e não me perguntou como foi o meu dia? Como foi o dia dele? O que será que ele fez? Com quem conversou? Por que não me ligou durante a tarde? O que meu filho está pensando? O que está querendo? Está feliz? Está triste? O que está acontecendo? Quem ligou para o meu filho? Por que ele fechou a porta do quarto e está falando baixinho? Por que fica tanto tempo no telefone? Que barulho é esse no quintal? Será que tem um ladrão? Por que ninguém atende o telefone na casa dos meus pais? O que terá acontecido? Será que saíram? Para onde foram? Por que a vizinha desceu a rua e não me deu bom dia? Será que está com problemas? Será que posso ajudar? Ai, ai, preciso descer pra trabalhar, mas quem vai olhar se o meu caçula está tomando o seu banho direitinho? Quem vai ver se está se alimentando bem, comendo alface, feijão e o bifinho de fígado acebolado (argh!)? Quem?
Revezar também nos grandes momentos: nos nove meses que carregamos todos eles na barriga (eu disse que ia radicalizar!), na amamentação, nas tpms, nas menopausas, nas dietas, na musculação e por aí afora vai. Isso é que é ser igual igual. Mas sou uma pessoa bastante razoável e, tenho certeza, de que qualquer esforço nessa direção será inútil. Por isso, prefiro negociar. Não deixemos que, em nome de nossa igualdade, se crie injustiças e nem que, pelas nossas diferenças, se promova privilégios, como diz a Rutinha. Mas, sejamos razoáveis. A começar pelo limite de idade para aposentadoria. Enquanto tivermos de cumprir o terceiro turno, sem direito a revezamento, mantemos a diferença. É uma boa proposta não é, meninas?
Umas horas de folga para todas nós, neste resto de semana
Inté.
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