Trilha alternativa: Marginália, com Gilberto Gil
Meninas, vocês viram como somos felizes? Uma pesquisa da Datafolha, publicada neste domingo, constatou que 75% do universo feminino brasileiro é feliz. Somos nós. A pesquisa mostrou ainda que 76% dos brasileiros se dizem felizes. Somos todos nós. Já ia comemorar, claro, mas o jornal de São Paulo está sempre alerta. Pensam que ele se deixaria enganar pelos números? Nem por aqueles que ele próprio apurou. É rápido no gatilho e parte para a sabotagem sem nos dar tempo nem para respirarmos aliviadas. Desconstrói o próprio cenário que montou. Isso é que é autocrítica red bull. A vitalidade questionadora do jornal de São Paulo é um espanto!
Assim, na mesma manchete, já nos adverte que essa felicidade declarada faz parte de um sistema de autoengano que utilizamos para enfrentar as agruras do mundo. Minha vó fazia muito isso, de fato, o que não quer dizer que não era sinceramente feliz . Mas o jornal não quer deixar dúvida. Usa o olhar do outro, nossos vizinhos, amigos, colegas, testemunhas vivas da nossa felicidade, para comprovar sua anti-tese. E aí a pesquisa aponta que só 28% dos entrevistados consideram a população em geral feliz.
Vê se pode? O Cláudio diz que pode. Nós nos avaliamos sempre em relação ao outro. Se dizemos que somos felizes, é porque olhamos para o outro e achamos que a situação dele é pior que a nossa. Logo, estamos melhor que eles e, portanto, devemos ser feliz por isso. Que vínculos estranhos criamos para compreender o mundo, hem? Não posso olhar para o outro e vê-lo feliz e ser feliz por isso? É cristão demais para o nosso ateísmo?
Seja como for, o jornal de São Paulo, no corpo da matéria, busca validar essa desconfiança em relação ao resultado da pesquisa que ele próprio patrocinou, ouvindo diversas autoridades no assunto. De Eduardo Giannetti a Rosely Sayão, passando por líderes religiosos e educadores. Todos concordam que não é recomendável levar os números a sério. Não? Não devemos? Então, não entendo. Se não devemos levar os números muito a sério e se o que eles estão dizendo, nessa pesquisa, não procede, quer dizer que a pesquisa é fajuta? Que confusão mental nos metemos, hem?
Se é fajuta, para quê divulgar? Para demonstrar que, diferente do que muita gente poderia estar pensando agora, nesses últimos quatro anos não perdemos o medo de ser feliz? Não, não perdemos o medo de ser feliz. Apenas nos enganamos. Nos enganamos com a felicidade, nos enganamos com Lula, nos enganamos com o Congresso, com os empresários, com os publicitários, com os caseiros, motoristas, secretárias, ex-companheiros e ex-companheiras, maridos, mulheres, etc,etc,etc. É isso?
Que baita zorra, hem meninas? Que coisa caótica o jornal de São Paulo foi nos contar. Somos e não somos felizes. Somos mais, porém menos felizes do que em 1996, como demonstram os números da economia, citados na matéria. O que vivemos hoje é puro engano, eleitores! Ops, leitores! Não caiam nessa armadilha! É isso que o jornal de São Paulo quer nos dizer? Porque não diz? Porque finge não dizer? Porque se engana também?
Querem saber, meninas? Não vou levar essa pesquisa a sério. Acho que os números são mesmo um engano. Além do mais, não passo o dia me questionando se sou feliz ou não. Nem penso nisso, na maioria das vezes, porque essa definição é muito subjetiva para o meu gosto. Não acho que é possível medir a felicidade com se fosse uma peça de tecido, ou pesar como um punhado de arroz. O que sei é que há muitos momentos na minha vida em que estou feliz e outros nem tanto. Essa possibilidade, essa liberdade, de estar ou não feliz, e não ter medo disso é que me deixa muito feliz. Vocês não?
Uma semana desesperadamente feliz ou calmamente infeliz, do jeito que vier e do que jeito que quisermos transformá-la
Até quando der.
3 comentários:
Sabe o que pensei quando li essa matéria? Que há uma mensagem subliminar na mídia dizendo que quem não é feliz é um fracassado, feio, gordo e pobre, especialmente, e então você deve sempre aparentar que é feliz senão, além de não ser feliz, você vai ter todos à volta te achando, no mínimo, fora de moda. Quando, então, te perguntarem se é feliz, você diz imediatamente: sim! Seria alguma coisa em oposição àquela tão exaltada fossa dos anos dourados que, senão me engano, era coisa de comunista ou similar. Você analisa o jornal pra ajudar a gente a pensar um pouco sobre ele, o que é bom que se faça, mas eu fiquei mesmo estarrecida com a Felicidade que me cerca.
Também concordo com isso. A Rosely até fala da cultura da felicidade. Mas estou preocupada é com a insistência da folha em dissimular suas posições políticas, para manter uma fachada de jornal democrático. Ando preferindo ler quem assume uma relação transparente com o leitor. Enfim, choses de la vie. Eu critico, mas continuo lendo a folha também, porque sempre encontro alguma coisa boa nas entrelinhas, nos textos fora do noticiário, no mais e etc. Mas que ele está me cansando está.
É verdade. O que é interessante no Febeapá que te falei é que a maior parte dos casos saiu em jornal. O jornal antigamente assumia mesmo e botava pra quebrar. Se não há como relatar fatos de maneira isenta, nada melhor que um jornal brigando abertamente com outro e com defensores de ideologias das quais discorda. Dá licença mas eu vou dizer: bons tempos aqueles.
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