sábado, setembro 23, 2006

Terceira idade

Trilha alternativa: Vai levando, com o sempre Chico

Meninas, acho que vou mudar de idéia. Pensando bem, vou encarar de cabeça erguida os efeitos colaterais da igualdade. Que venha a idade mínima! É pura bobagem essa história de querer se aposentar antes de ficar assim bem velha, até um pouco quase caindo pelas tabelas. Me escutem meninas! Aposentar-se antes disso poderá ser uma tremenda encrenca. Acabaremos antecipando a velhice. Pelo que tenho ouvido por aí, o valor das aposentadorias será cada vez mais enxuto, se é que essas sobreviverão às repetidas fraudes, legalizadas ou não, do nosso sistema previdenciário universal e solidário.

Desta forma, nos restará mesmo é o plano B. Vamos acabar em casa, limpando poeira, arrumando gaveta, escrevendo cartas, lendo livro velho, bula de remédio, falando pelos cotovelos, implicando com o cachorro do vizinho, passando desgosto com as personagens de novelas, como se parentes fossem, e quebrando galho para deus e todo mundo.

- Ôw, já que você está por conta do nada mesmo, será que você poderia.....

E titititátátá e pronto! O problema está terceirizado. Lá vai você pra fila de um banco resolver pendenga alheia. Não que isso me incomode, de jeito nenhum. Faço com a maior boa vontade, até antes mesmo de me aposentar. O que vai me aborrecer com certeza é o por conta do nada. Aliás, já me aborrece. Não podem me ver parada, com os olhos perdidos no vazio, pensando qualquer coisa, para acharem que estou à toa e já me arrumarem um servicinho qualquer. Até buscar um copo d’água na cozinha já é uma boa forma de me ocuparem.

Diante dessa perspectiva, prefiro continuar batendo ponto. Quando nada, será sempre uma boa desculpa para sairmos todos os dias. É a porção social do emprego, né? Só não sei qual será o impacto dessa medida no ambiente do trabalho. Já pensaram, todas nós chegando pra trabalhar? Que tricô, hem? Não acho que as organizações vão nos despachar para o arquivo morto. Acho que isso não. Afinal, seremos a memória viva das organizações. Isso será inevitável. Apesar da facilidade dos bancos de dados, com formas cada vez mais amigáveis de consulta, nossos jovens colegas vão preferir, com toda certeza, ouvir os detalhes picantes de nossos relatos. Virão recheados de sabedoria, com mais um plus de informações, que dificilmente estarão arquivadas. Principalmente aquelas que se referem aos micos que ocorreram em cada episódio da história da organização.

E nós não. Nós estaremos lá, de prontidão, com os relatos sempre na ponta da língua. O que é outra vantagem sobre os bancos de dados. Quanto mais o tempo passa, esses bancos, mesmo amigáveis, exigirão recursos de filtragem cada vez mais complexos, para melhorar o resultado de cada busca. E isso demanda tempo. Vai ser uma enconha pesquisar nesses bancos. Agora, tem uma coisa. Que não nos venham perguntar onde pusemos aquele papel, que nos deram ontem, com as orientações do presidente para a solenidade que acontecerá à tarde.

- Que papel?

Também já é querer muito, não é não? Outra coisa, não queiram nos impôr o mesmo rigor adotado para os estagiários. Esse negócio de marcar reunião para 15 horas e querer que antes disso já estejamos todas na sala, aguardando a chefia, tem dó, não é não? Precisaremos de um tempo! Um tempo para encontrarmos os papéizinhos, os vários onde anotamos as observações da última reunião. Um tempo para encontrarmos a caneta, que estava tão bem guardada. Mas onde? Onde? Ah!, e o remedinho da memória, já ia me esquecendo! Teremos de tomá-lo exatamente às 15 horas! Aí passaremos antes pela copa e lá nos encontraremos com o fulano, com a fulana, a sicrana, o beltrano e ficaremos ali, divagando, tricotando, porque ninguém é de ferro. Até alguém nos chamar, claro, e aí, o espanto:

- Reunião??!! Que reunião?

Isso vai acontecer. Temo que sim. Sorte é que poderemos continuar contando com os estagiários, esses jovens tão cheios de boa vontade, tão dispostos a trabalhar, a cooperar, a compartilhar conhecimentos, principalmente aqueles relativos às inovações tecnológicas, que serão um fantasma sempre a nos amedrontar. Sorte é que poderemos continuar contando com os novos colegas, corajosos, sempre disponíveis para assumir novas tarefas, loucos para mostrar serviço, entusiasmados com a possibilidade de poder qualquer coisa... mas hem?, o que mesmo estava falando? Ah, sim, isso poderá acontecer. Temo que sim.

Boas lembranças e os melhores esquecimentos para todos, além claro, de um fim de semana sem nenhum compromisso!

Buenas!

4 comentários:

Anônimo disse...

Me deu arrepios agora. Mas aos sessenta e poucos, provavelmente, nossa memória ainda estará a mesma. Eu acho. As pernas e as ancas é que deverão estar mais doloridas e duras. E a lentidão de raciocínio? É melhor tentarmos prever tudo que poderemos fazer. Acho que a lista fica mais enxuta e boa, afinal de contas.Poderemos passar na frente de todo mundo nas filas! Andar de ônibus de graça! Tomar chuverada de graça nas praias do Rio! Dizer o-que-nos-vi-er-à-ca-be-ça!!! Já pensou que maravilha? Não há de ser tão ruim.

patricia duarte disse...

Uau!!! Nem acredito! Você conseguiu relevar a crueza da realidade, hem? Hehehe...Mas tudo bem, concordo plenamente! Embora, devo admitir, que isso já acontece de vez em quando. Essa semana, por ex., consegui esquecer o dentista do Rafa e uma reunião super importante, as duas marcadas para o mesmo horário! Acontece, né? Mas acho que quando 65 chegar, vou me divertir mais do que sofrer com a agenda do dia a dia. bjim

Anônimo disse...

Patrícia, Patrícia... você anda me espiando...

patricia duarte disse...

Ei Cris! Hehehe....mas ando nada. A vida é que está chegando de um jeito igual pra nós todas, né?