sexta-feira, setembro 15, 2006

Mac Feliz!

Trilha alternativa: Soy loco por ti, América, com Caetano e Gil

Olha só, estava ouvindo a CBN e fiquei sabendo da última. A Mc Donald´s pôs à venda a sua rede de lojas no Brasil. Aqui e em mais 20 países pelo mundo afora. Tá vendo? Acontece nas melhores famílias. É claro que não é à toa que estão fazendo isso. Devem ter se cansado de contabilizar prejuízos. Nos últimos 10 anos e em qualquer parte do mundo, toda manifestação anti-globalização sempre terminou na porta de uma lanchonete Mc Donald’s, com os manifestantes jogando pedra, quebrando vidro, destruindo fachada, fazendo o maior auê. Isso, quando não, simplesmente, se postavam à porta de uma das lojas, com cartazes e faixas, convidando a população a boicotar os sandubas de chuchu.

A situação estava saindo fora de controle já fazia um bom tempo. Pode não ter sido fácil chegar a essa decisão, mas também não deve ter sido difícil. Imagino que foi mais ou menos assim: um dia, o CEO, o manda chuva do pedaço, acordou de mau humor. Chegou no escritório com cara de poucos amigos e ficou a manhã inteira trancado na sala do 23º meditando. Na hora do almoço (é sempre na hora do almoço!), convocou uma reunião dos executivos seniors e juniors da organização. Expôs a situação: quebra-quebra não sei onde; boicote aqui e ali; médicos, num ato sem precedentes, concordando que as calorias Mc são puro veneno; vendas despencando, enfim, uma crise! E o CEO, de pouca conversa, resumiu a ópera: estamos ferrados! E os srs. têm uma tarde para encontrar a solução. E saiu da sala, né?

Os seniors e os júniors - famintos, mau humorados, com os celulares apitando em todos os tons -, ficaram lá, olhando um pra cara do outro, franzindo a testa, coçando a cabeça, rabiscando setinhas no papel em branco, tamborilando na mesa, enfim, sem rumo mesmo, esperando brotar um túnel no fim da luz. Foi aí que alguém se lembrou do vice-presidente de Marketing, que não estava na sala. Não estava, porque fora convidado para falar sobre As Estratégias de Marketing de Ronald Mc Donalds num seminário internacional sobre Marketing de Guerra, em Oman.

Ligaram pra ele, claro. O cara já estava num restaurante, experimentando um vinho não sei de onde e saboreando porções de kibe cru, esfirra de frango brasileiro, kaftas e outras cositas más. Ouviu os colegas, que estavam em viva voz, e depois pediu um tempo. Tomou um gole de vinho, pensou, pensou e disse: não dá pra saír de fininho, fazendo as trouxas e picando a mula. Temos de bolar uma estratégia de marketing. Elas são fabulosas! Os colegas, do lado de lá, responderam: dãwrr!!! E juntos, num gesto único, fecharam as mãos em punho e bateram-na no alto da testa.

O vice-presidente de Marketing pediu mais um tempo e disse que voltava a ligar. A sala ficou em silêncio. Nisso, entrou a copeira com uma bandeja de Big Mac e coca cola pra todo mundo! Os seniors e os juniors se entreolharam, agradeceram, disseram que estavam muito preocupados, ocupadíssimos e sem fome, aquelas coisas, né? E a copeira deu meia volta com a bandeja e desapareceu. Aí o telefone tocou. Era o vice mesmo. Ele disse: Já sei! Nós vamos fazer uma coisa bem original, vamos terceirizar os prejuízos e administrar os lucros!

- Heeeem? – gritaram os outros do outro lado da linha.
- Isso, vamos vender as lanchonetes para os nativos. Eles é que vão administrá-las e mantê-las dentro do nosso padrão de qualidade. Se o negócio estiver indo bem e quiserem abrir uma nova loja, vá lá. Desde que assumam os investimentos de implantação. E nós, nósitos, vamos cobrar um pequeno percentual sobre o faturamento, tipo assim um royalties, se vocês me entendem, pelo uso da marca. Vammmmmos ficarrr riiiiicos!!!! – disse ele, todo feliz.

E assim está sendo e será. Viu como é simples? Ninguém foi pedir ajuda ao papi bush, aquele. Deram uma solução de mercado. É assim que as grandes empresas fazem, porque elas, principalmente, acreditam no mercado. E é claro que vai aparecer um banqueiro, que também acredita no mercado, e vai achar que essa história de lanchonete é uma boa opção para diversificar seus investimentos e vai fazer uma oferta. Vão negociar, descontar um tanto daqui outro tanto de lá e bater o martelo.

Tudo bem que o caso da Petrobras é um pouco diferente. Mas se for, é muito pouco. Nem vem com essa história de que a Petrobras é patrimônio do povo brasileiro, que o governo tem de defendê-la, que o povo tem de ir pra rua e, se preciso for, tem até de lutar com unhas e dentes para preservar os interesses da empresa brasileira na Bolívia. Nem vem. Tá certo, a Petrobras foi construída com o dinheiro do povo mesmo e pára por aí. Nunca nem um brasileiro recebeu um dividendo da Petrobras. Nem em dinheiro vivo nem em investimentos sociais, a não ser que pudessem ser descontados do imposto de renda. Nunca nem um brasileiro deixou de pagar cada gota de gasolina que consome e ainda mais os impostos que incidem sobre esse valor.

Então. Mas não quero discutir. A Petrobras é uma empresa público-privada! Pronto. Chegamos a um bom termo. Os prejuízos são coletivizados e o lucro privatizado. Mas, se é que vamos mesmo, nós brasileiros, ter de assumir esse prejuízo, com a desapropriação dos bens da Petrobras na Bolívia, tive uma idéia! Vamos convidar o vice-presidente de Marketing da Mc Donald’s para nos fazer uma visita. Vamos oferecer a ele um churrasco de picanha, daquelas bem suculentas, vermelhinhas, temperada só com sal grosso e regada a caipirinha ou doses controladas de Maria da Cruz. É, Maria da Cruz é só em doses controladas. Não dá para entornar, né?, igual os gringos gostam de fazer. Aí, no meio da confusão, a gente senta com ele num canto e arranca dele uma estratégia dessas de marketing, das boas, para nos tirar do território estrangeiro. Quem sabe? Não custa tentar, né? Melhor que nada. Ou vamos esperar o Lula dar uma solução?

É isso.

Um fim de semana mac feliz para todos!

Eu vou, mas volto. Quando der!

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