Acabou. Ufa! Já estava ficando enfarada de futebol. Essa final mesmo, só vi por ver. Queria que a Itália ganhasse, porque os italianos são mais alegres e saberiam comemorar com mais entusiasmo. Mas pela experiência que adquiri nessa Copa, achei mais prudente não contar pra ninguém e torcer pela França. Deu certo. E não foi só esse truque que aprendi nesses 30 dias não. Foi um período de grande aquisição de novos conhecimentos.
Aprendi, por exemplo, que futebol também se joga com a cabeça. Isso é óbvio. Mas até onde eu entendia, a cabeça era para cabeçear a bola, como o Ronaldinho fez e funcionou num dos jogos do Brasil. Depois de muito sofrimento, compreendi, no entanto, que não bastam só as cabeçadas dos jogadores. O técnico também precisa usar a cabeça, bem mais do que os pés. Aliás, os pés devem ter uma utilidade convencional para os técnicos, a cabeça é que precisa estar turbinada para bolar as jogadas que vão surpreender os adversários. Sobre cabeçadas, aprendi também que, no caso dos jogadores, eles devem ter como alvo única e exclusivamente a bola. Quando um jogador tenta usar a cabeça para, por exemplo, neutralizar um adversário, ele pode zidanar. Essa foi uma grande lição.
Outra coisa que aprendi nesses 30 dias foi que todos nós, quando atingimos o nosso limite, chegamos à exaustão, quando já estamos prestes a desmontar, todos nós temos o direito, o dever, a obrigação de nos jogarmos ao chão. Doravante, isso passa a ser normal pra mim. Nunca vi, principalmente depois das quartas de finais, tantos jogadores se jogarem ao chão, sem nenhuma razão aparente, a não ser o cansaço. Ficavam ali, olhando pro céu, até receber, nem que fosse por alguns mínimos instantes, a assistência da equipe técnica. Aí bebiam uma águinha fresca, respiravam, levantavam e bola pra frente. Vou adotar essa prática com maior freqüência também. Ando cansada de correr pra lá e pra cá, segurando peteca, descascando abacaxi e tapando buraco que não abri. Vou me jogar ao chão e ficar olhando as estrelas de vez em quando.
Tem mais, aprendi o novo significado da expressão fair play. A língua é assim mesmo, está em permanente movimento. Até onde eu sabia, fair play é aquela qualidade de quem joga limpo, com classe, com elegância, sem ferir as regras do jogo. Eu nunca usei essa expressão, embora tenha muitos amigos que têm fair play. Mas já tinha visto, algumas vezes, pessoas se referirem a outras, até mesmo dentro da política, como sendo alguém que tem fair play. Este significado, no entanto, parece, caiu em desuso nesta Copa. Fair play agora significa aquele que está abúlico, apático, sem vontade, sem desejo, sem alma. Pelo menos é isso que entendi, quando deram o título de campeão de fair play para o Brasil. É isso mesmo, né?
Aprendi ainda, distraidamente, que nem sempre que a bola balança a rede, é gol. Isso foi o Maurício que me ensinou. Ele entende tudo de futebol. Comemorei muitos gols que não existiram, só porque a bola balançou a rede, mas pelo lado de fora. Paguei esses micos sim, mas aprendi, né? Aprendi o que é impedimento. Aliás, isso eu já sabia, só que, conhecia por banheira. Era assim mesmo que o Fernando Sasso dizia, mas isso, no meu tempo: fulano estava na banheira. Aliás, de novo, Fernando Sasso fez muita falta nessa Copa. Os jogos do Brasil estavam perfeitos para o seu estilo de narração.
Outra coisa que aprendi é que futebol se resolve é no campo. Como na vida. Pode até ser que esta Copa tenha tido bastidores impublicáveis ou, pelo menos, ainda não decifrados pelos repórteres e comentaristas esportivos, que não têm muito faro investigativo, com raríssimas exceções. O Brasil é um exemplo. O Brasil não jogou porque se jogasse ganhava e não podia ganhar. Isso é uma hipótese. Pode ser que o Brasil estivesse impedido de ganhar por alguma negociação de bastidor, feita por não sei quem e nem por qual objetivo. Pode ser. Mas isso não interessa ao torcedor. Ao torcedor, interessa o jogo que está sendo jogado no gramado verde. E nesse, o Brasil zidanou. Isso é o que vai para a história. Os bastidores, se ninguém revelá-los, entrarão para a galeria do esquecimento. Como na vida. O que vai pra nossa história, é só aquilo que fizemos em campo. Nossas intenções, por melhores que fossem, servem só para descrever o que não fomos.
Mas isso já é divagação. Antes, aprendi muitas outras coisas. Nesses 30 dias, aprendi a fazer um risoto de cerveja preta e linguiça que é uma delícia. Ficou com uma aparência e um sabor tão parecidos com o da culinária da Croácia, que resolvi incluí-lo entre os pratos típicos dessa cozinha. Não sei se os croatas vão gostar da idéia, mas do risoto, tenho certeza que aprovariam. Aprendi também o que é um cassulê. Não aprendi a fazer, mas gostei de degustá-lo. Aprendi também uma receita de bacalhau na nata. Não arrisquei fazer, claro, mas quem sabe um dia.
Então. Foi um período de intenso aprendizado. Estou exaurida. Vou me jogar ao chão. Mas, antes disso, vou pôr em dia o que ficou pra trás, por conta dos jogos da Copa. Depois pego a estrada. Vou repôr o meu estoque de ares marinhos. Repensar em ondas tudo o que aconteceu ou qualquer outra coisa que me venha a cabeça.
Bom fim de jogo pra todos. Aproveitem e joguem-se ao chão também e se deixem ficar olhando as estrelas só por alguns instantes. O suficiente para retomar o folego e, depois, bola frente, que a vida continua!
Até de repente.
2 comentários:
hey, KPat, o meu antigo provedor deu cabo do meu site e tive que me f%%% pra fazer outro. Pô cara, se der pra vc arrumar o link (ou excluí-lo de vez), eu agradeço.
o novo link é:
www.opastrame.cjb.net
-generic-
abrax
Ei Maick,
Vou atualizar com toda certeza, só se você preferir não. Ando na correria e não tenho tido tempo para navegar e ver as novidades da praça. Espero que no segundo semestre o relógio ande mais devagar. Nessa semana de férias vou ficar longe do mund real e virtual, mas assim que voltar,
vou por a minha navegação em dia.
[]s
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