Meninas, menos. Menos. Já disse que nosso estilo está em desuso, não disse? Mas é mais grave. Caímos na obsolecência absoluta. Nós e mais todo mundo. Li isso na coluna do Merval Pereira, no O Globo do dia 21 de abril. No feriadão. Não estou brincando. Ele esteve em Baku, capital do Azerbaijão, um país que fica na região do Cáucaso, numa esquina entre a Europa e a Ásia. Pois então, Merval Pereira, que já se tornou obsoleto também, foi lá acompanhar um seminário da Academia da Latinidade sobre Cultura da diferença na Eurásia - Passado e presente no diálogo da civilização. Como isso foi parar lá, não me perguntem. Mas foi.
O que entendi, se entendi, é que essa Academia da Latinidade, criada em 1999 e ligada à Universidade Cândido Mendes ou coisa assim, está fazendo uma rodada destes seminários pelo mundo todo. O atual secretário-geral da Academia é o próprio Cândido Mendes, sociólogo e filósofo brasileiro e irmão de Dom Luciano Mendes. E o que pretendem com esses encontros é discutir a questão do multiculturalismo, contrariando o som monocórdio do império do discurso único. Então. Esse é apenas mais um giro da Academia.
Em Baku, entre vários temas e expositores muito famosos, mais ou menos famosos e alguns até muito desconhecidos, pelo menos para nós mortais dessas bandas de cá, a Academia reuniu duas feras do pensamento europeu do momento: o sociólogo Alain Touraine e o filósofo Jean Baudrillard. Quem anunciou a nossa obsolecência foi Baudrillard que, por sinal, me desculpem, também se tornou obsoleto. Tá certo que ele não é uma pessoa lá muito bem humorada, pelo menos é o que dizem, e nem pensa muito na vida como ela é, mas sim na vida como pensam que ela é. Nos universos construídos, nas realidades virtuais e nas vidas inventadas, com direito a 15 minutos de fama em qualquer mídia, em qualquer parte do mundo e assim por diante.
Então, olha só, Baudrillard não é nada otimista em relação ao nosso futuro. Não tem nada a ver com as promessas catastróficas do poderoso, com o aquecimento global ou com o destempero de bush Jr., que, além de não assinar o Protocolo de Kioto, agora está querendo comprar briga com o Irã. Segundo relato de Merval Pereira, para Baudrillard, é a perfeição e a hegemonia tecnológica que estão promovendo a desqualificação definitiva do homem. Diante da máquina (ops!, olha nós aqui!), estamos perdendo não apenas nossa liberdade, mas a imaginação que temos de nós mesmos. E ele vê, nas decisões tomadas cada vez mais pela lógica dos computadores do que pela decisão humana, um seqüestro da inteligência humana em benefício da inteligência artificial, que marca o ponto em que o homem renuncia definitivamente a seu destino em benefício da instância técnica, cuja superioridade reconhece. Meu pai também fala assim.
Mas Uau! Não era bem sobre isso, mas é claro que também era sobre isso que estávamos pensando outro dia. Olha se não era. Estávamos conversando sobre como é difícil hoje em dia pensar sobre o mundo. Uma coisa tanto pode ser uma quanto outra e seja qual delas for, para cada uma teremos uma argumentação lógica, precisa e racional que a justifica e legitima. É como o Clóvis Rossi disse hoje também na Folha. Ele toma, como exemplo, a situação do Irã. Tanto podemos assumir uma posição em sua defesa, quanto podemos condená-lo. Ou, pior, podemos assumir as duas posições ao mesmo tempo, sem sermos incoerentes. Pelo contrário, às vezes, sendo até mais coerentes. Ruthinha esclareceu, para nosso alívio, pois já estávamos afundando num mar de angústia, que isso é normal. Normal, gente! Faz parte da complexidade mesmo do mundo em que vivemos e é muito bom que seja assim. Não estamos mais limitados a duas opções: o bem e o mal, o bom e o mau, o preto e o branco. O mundo binário, lembra?
Quando temos de fazer nossas escolhas, encontramos é um hipermercado de idéias, de visões de mundo, tantas quantas cabem na diversidade desse nosso mundão. Mas, para Ruthinha, o que torna nossas escolhas mais difíceis não é essa diversidade. Sofremos é porque insistimos em acreditar que escolhemos com a razão. E isso não é verdade. Fazemos nossas escolhas é com o coração. Mas é claro! Como podemos nos esquecer disso toda hora, hem?
Pois é. Aqui e agora, tudo está me parecendo bem simples. Terminamos essa nossa conversa bem mais otimistas. E olha só, mesmo que não seja bem por aí, que o mundo seja um pouco mais perverso do que supõe a nossa vã imaginação, e que Baudrillard seja mais viável do que Ruthinha, ainda assim, não vou me aborrecer, nem me preocupar, sabia? Vou transferir o problema para os meninos da área de Desenvolvimento & Sistemas. Eles são novos, entendem bem do negócio, dominam a tecnologia e encontram solução pra tudo. Às vezes fazem gambiarras, mas funcionam. Se funcionam, tá bom, né?
Vou deixar tudo na mão desses meninos, desligar o computador, o celular, o palm, o i-pod, o teclado programável e todos os eletrônicos domésticos e fugir pra praia. Se estamos obsoletas, prefiro morrer na praia, né não? E esses meninos que se preparem para o duelo final. Um Mac de um lado e um nerd do outro. Se precisarem, poderemos fazer torcida. Se muito. Ou então, que chamem Neo e seus amigos.
Quero só olhar pra ver tudo.
Estou brincando. Eu puxo a torcida.
Hasta la vista e um belo dia para todos.
2 comentários:
Espera, estou pensando em um comentário...
Hehehe. Eu diria que é sem comentários. Só que não acredito muito nesse pessimismo de Baudrillard. Ele desconsidera o fator humano. Na última hora sempre surge alguém com alguma idéia brilhante que muda toda a história, né não? Nesse caso, pode ser até um dos meninos da área de D&S. Hehehe
Brigadinha pela visita.
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