Olha como são as coisas. Mal conseguimos uma carteirinha do restrito clube de chefes de governo e já começaram as retaliações. Não estou reclamando, só constatando. Nem estou tendo uma recaída feminista, pois nunca advoguei essa causa. Quando cheguei, as portas já estavam entreabertas e o que fiz e faço é só tocar o barco. Muitas vezes com dificuldade, outras mais devagar, às vezes com mais esforço, mas tocando. Em frente. Também não é pelo gosto de polemizar. Longe de mim tal prática. Mas deixar passar de liso, não posso, vai que a moda pega!
Pior é que, por aqui, isso já pegou, só não caiu ainda nas generalidades. Então. As universidades americanas estão adotando uma ação afirmativa para homens, reservando um percentual das inscrições nos cursos superiores aos alunos do sexo masculino. Em outras palavras, criaram um sistema de cotas para preservar a vaga de homens nas universidades. Não é lei, mas é como se fosse. É um acordão entre elas. Pronto. Deu pra entender, né? Embora seja difícil de acreditar. Mas tá lá, a Rutinha me mostrou com todas as letras. Vimos no O Globo do dia 2 de abril. Não é mentira.
Jennifer Britz, diretora de seleção do Kennyon College, uma tradicional faculdade americana, admitiu que, como em todas as demais escolas, ela também tem feito vista grossa às exigências de currículo dos candidatos homens que disputam uma vaga no ensino superior. Britz explicou que tem sido mais flexível, para manter uma paridade entre os sexos no campus: 50% homens e 50% mulheres. Ela confirmou que, se os critérios fossem igualmente rigorosos para os dois sexos, a maioria dos campus teria 60% de mulheres, ou mais, porque as candidatas são mais numerosas, mais bem preparadas e com projetos de estudos mais interessantes. Não estou acreditando no que estou escrevendo. Vou escrevendo, lendo, pensando e fico pasma! Pasma!
Não estou com tempo para fazer essa investigação agora, mas será que essa paridade se repete no conjunto da sociedade americana. Lá, a divisão é certinha assim mesmo, meio a meio? Aqui, por exemplo, desde o Censo de 80 que o número de mulheres é superior ao de homens e a diferença só vem crescendo. Como as oportunidades são iguais - elas se diferenciam é em outros quesitos e por outras razões - o número de universitárias também é maior do que o de universitários. Hoje, dos 4,2 milhões de alunos matriculados em curso superior, 2,4 milhões são mulheres e 1,8 milhão são homens. Fazer o quê? Vamos adotar também cotas para homens? Fala sério, né?
E esses números nem são muito importantes não, embora façam a diferença. Mas o que tem feito mulheres ocuparem um espaço cada vez maior nas escolas, em todos os níveis, e também no mercado de trabalho, é outra variável. Como disse a própria Britz, é porque elas são mais preparadas e seus projetos são mais interessantes. É claro que somos todas muito esforçadas. É claro que nossos cérebros são capazes de fazer um número de sinapses muito maior do que outros cérebros, como, por exemplo, os dos homens. Ou seja, é claro que somos mais inteligentes mesmo. Brincadeira! Brincandeira! Nem acredito nisso, só agora, que os números estão demonstrando, é que estou tendendo a crer que somos mesmo muito especiais.
Mas um amigo, mais sensato, e que também não leva a sério essas teorias, tem outro argumento para explicar o sucesso das mulheres nos estudos e no trabalho. Para ele isso é um complô de mães. Ele tem observado que as mulheres são muito mais rigorosas na educação de suas filhas mulheres do que na educação de seus filhos homens. Exigem delas mais disciplina, mais dedicação, persistência, compromisso e tudo isso que torna uma pessoa capaz de conquistar e exercer sua autonomia, mesmo num mundo habitado por maioria de marionetes, como esse em que estamos vivendo. Quanto aos meninos, bom, é melhor que eles fiquem na deles mesmo. Deixa eles fazerem do jeito que eles quiserem, se não vão emburrar e homem emburrado é muito aborrecido. Deixa eles, vamos ver no que vai dar. E como mão na cabeça não educa ninguém, taí o resultado. Mas, para o meu amigo, tudo isso foi de caso pensado, foi esperteza das mulheres para consolidar os espaços que conquistaram. Não concordo não, mas outro dia volto nisso.
Agora, numa coisa os administradores desses centros educacionais americanos têm razão. Eles têm um argumento a favor das cotas que tendo a considerar até imbatível. Para eles, a superpopulação feminina nos campus tornaria a vida nas universidades muito desinteressante, afugentando os alunos e levando as escolas à bancarrota. Não sei exatamente o que eles querem dizer com "desinteressante", mas reconheço que seria um tédio mortal. Já pensaram um campus repleto de legalmente louras? Aquela mulherada falando toda ao mesmo tempo, ou rindo, ou chorando, ou, pasmas de tudo, xingando, execrando, pleiteando todos os direitos que acham são merecedoras! Êita! Seria uma cansaço.
Claro, meninas, um campus repleto de mulheres como nós, sensatas, recatadas, discretas, abertas ao diálogo, já seria bem diferente, né? Mas não somos tantas assim para encher um campus, né? Nosso estilo está em desuso. Além do mais, acho que nenhuma de nós abre mão da agradável convivência com amigos como os que temos hoje, não é verdade? Então, vamos lá, peguem suas bandeiras, faixas, cartazes, megafone e vamos pra rua já! Vamos fazer uma manifestação preventiva: Abaixo o sistema de cotas para homens nas universidades públicas e privadas! Por escolas mistas com vagas proporcionais! E aproveitando: Xô bush, aquele que não assina o Protocolo de Kioto! E mais: Queremos voto aberto em todas as votações! Queremos o recall! Queremos o recall! Ai, ai, cansei!
Um fim de semana ameno para todos, ao som de Cantatas de Bach, sabiás e águas rolando na cachoeira, que ninguém é de ferro!
Inté.
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