O provocador Paulo Francis
Quando estava sozinha, preferia mesmo era a coluna do Paulo Francis: Diário da Corte. Era publicada às quintas-feiras e aos domingos, primeiro na Folha de São Paulo e depois no Estadão. Francis e Castellinho não tinham nada em comum, mas gostava dos dois. Como diria minha avó: Castello e Francis eram duas belezas diferentes. E nessas leituras, muitas vezes panorâmica, me interessava menos pela notícia e mais pelo como eles a trabalhavam. Castellinho era um clássico. Impossível não apreciar a sua leitura. Até hoje me cativa.
Paulo Francis já é outra história. Ou melhor, duas: sua leitura despertava paixão ou ódio. Não tinha meio termo. E isso era uma das coisas que me fazia preferi-lo. Mas, principalmente, o que mais gostava em Paulo Francis era a confusão mental que ele nos impunha. Com frases curtas e cortantes, ele discorria sobre vinte e cinco assuntos ao mesmo tempo e ainda concluía. Também apreciava o seu mau humor e a sua ironia sentinela. Hoje, fico pensando, essa preferência era uma coisa bem adolescente mesmo. Achávamos bacana aquele texto debochado, irreverente, bronqueado que ele tinha. No como de Paulo Francis, me fascinava, especialmente, o ritmo do seu texto. Nos obrigava sempre a fazer uma leitura em alta velocidade. Isso até hoje me fascina.
Não costumo ser saudosista. Revisito, releio, rememoro, mas sem nostalgia. Relembro mais para conferir, para ver se continuo pensando igual pensava quando da primeira vez. Se ainda me emociono, se ainda gosto, se tudo que vi um dia ainda faz algum sentido para mim. E é impressionante como mudei nesse tempo todo. Mas relendo os dois jornalistas, desconfio que não mudei nada. Continuo gostando dos dois e apreciando neles o que já apreciava. Aliás, acho que hoje gosto mais. Sinto falta deles e mais ainda de tudo o que eles representaram para todos nós.
Hoje, a figura do jornalista está em decadência. Posso estar blasfemando, mas essa é a minha percepção. As pessoas têm birra de jornalista. Criticam a nossa superficialidade, nossa generalidade, nossa imprecisão, nosso texto, muitas vezes, descuidado e, não raro, simplificador. Até concordo com algumas dessas críticas, mas por outros motivos. Me aborrece ainda mais a desvalorização do trabalho dos jornalistas dentro das organizações. Desde o advento do marketing, mais vale uma imagem que uma informação. Sem matéria prima para trabalhar, ficamos sem identidade e sem direção. Relendo Castellinho e Francis, tenho certeza de que estamos mesmo com um problemão nas mãos.
Que os dois nos iluminem e olhem por nós lá de cima.
Uma semana de grandes leads para todos nós.
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