quinta-feira, janeiro 31, 2008

Aventuras virtuais

Choveu. E choveu mais e continua querendo chover. Meus planos foram todos por água abaixo. Outra vez. Acho que minhas férias encroaram de vez. Mas não me rendo às evidências. Na falta de um roteiro promissor no mundo da vida, resolvi viajar pelo universo virtual. Navegar por mares nunca dantes navegados, conhecer novos sítios, como dizem os portugueses, novas personagens. Mudar de assunto, trocar a música, descobrir novas plagas, novas paisagens.

Tinha de sair por algum lugar. Poderia ser por qualquer uma das janelas que mantenho abertas nesta praça. Escolhi uma por acaso. Depois percebi que, dependendo de por onde você sai, os caminhos te levam por trilhas temáticas e de alcance limitado. Parece que dão voltas em torno de uma grande aldeia, mas uma só aldeia, habitada por várias tribos, mas de costumes e interesses muito próximos. Cheguei a pensar que, se insistisse um pouco, acabaria chegando de volta ao ponto de onde saí. Pode ser, mas me cansei antes disso e voltei para casa.

Cansei da tela do computador, da cadeira, do teclado, mas não da viagem. Foi uma aventura prazerosa e descobri muitas praças interessantes que pretendo, uma hora, quando der, voltar para visitar com mais calma. Comecei a minha caminhada pelo blog do Márcio, uma praça que já conheço bem: Pimenta nos olhos. O Márcio é baiano, acho que é, na blogosfera essa informação não chega a ser relevante. É economista, formado pela Universidade de Salvador e se dedica às pesquisas acadêmicas e projetos voluntários. Atualmente está fazendo o doutorado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Santiago do Chile, sobre desenvolvimento local e regional.

O Pimenta nos Olhos não trata só de economia, embora também aborde temas dessa natureza. Márcio escreve sobre política, cultura, principalmente música, sobre o cotidiano e agora dá notícias do Chile e de toda a América Latina. Sempre passo por lá para ler as últimas e postar algum comentário rápido, já que sempre navego com pressa. O Márcio promete mudanças para 2008. Vamos aguardar. Do Pimenta nos Olhos escolhi outra janela para escapar: Catatau. Foi por pura curiosidade. Faz tempo que acompanho os comentários de Catatau no blog do Márcio ou comentários do próprio Márcio, um fã de carteirinha do Catatau, sobre essa praça. Nunca tive tempo de visitá-la. Por isso fui por ali.

Não sei exatamente se Catatau é alguém de fato ou uma personagem ou uma tribo. Acho que é uma personagem: acho que é homem. É formado em filodoxia na Universibar do Pernambuco. Não sabia o que era filodoxia e achei mais prudente me informar primeiro antes de sair por aí copiando coisas que desconhecemos. Só por essa oportunidade, já valeu a pena passar pelo Catatau. Filodoxia, segundo o Houaiss, é a atitude ou predileção daqueles que, atraídos pelas aparências sensíveis, amam a opinião, a crença infundada e irrefletida, em oposição ao procedimento filosófico, movido pelo amor ao conhecimento e à verdade.

Tem mais: filodoxia, diletantismo intelectual, que se compraz em levantar problemas filosóficos, sem pretender chegar a soluções rigorosas e verdadeiras. Em suma, conversa de bar. Gostei. E, como defini seu próprio criador, o blog é para isso mesmo: para conversas de botequim e tertúlias entre amigos. Como tudo é miscelânio, o blog fala um pouco do tudo sobre tudo. O texto que gostei, no dia em que estive lá, já não está mais na tela, mas para quem quiser ler, basta clicar no título do artigo: Robert Fisk e o jornalismo imparcial.

Fiquei impressionada com a agilidade do Catatau em atualizar seu blog. É impressionante. Hoje voltei lá e já tem mais dois ou três artigo que ainda não li. O último está ótimo, sobre estatísticas. Penso muito sobre essa fúria com que os jornalistas avançam sobre estatísticas tentando utilizá-las para dar credibilidade a suas notícias. Não percebem que os números são vazios, que empobrecem a realidade e as histórias de vida que ela contém. Se percebessem, voltariam a praticar o jornalismo reportagem para sustentar as teses que criam para nos explicar o mundo.

Do Catatau, pulei para o Ler sem Olhar. Escolhi pelo título. Achei-o curioso. Lembrou-me das situações de risco que enfrentava, quando inventava de andar de bicicleta pelas ruas do bairro: uma hora era sem as mãos no guidom, outra, com as pernas no ar, outra de olhos fechados. Era tudo pela emoção. Em Ler sem Olhar, francamente, não consegui experimentar nenhum sentimento radical com os que vivi naquela época, mas o seu autor, Diego Viana, não sei se de São Paulo ou de Paris, posta em outra praça que me conquistou de cara: Cálculo Renal. Por isso só passei em Ler sem Olhar. Outro dia volto lá com mais paciência e leio todos os textos que não li nesta viagem.

Cálculo Renal é um coletivo. Reúne sete autores, mais ou menos freqüentes na blogosfera, que postam, se não me engano, de várias partes do Brasil, de Brasília ao Rio Grande do Sul. Sem sair de lá, escapei para o Cumulus Nimbus, de uma das colaboradores do Cálculo Renal: Manoela Afonso. Gostei de tudo no Cumulus Nimbus: do texto de apresentação, dos posts, das fotos, do jeito como a Manoela escreve e de como e de onde olha o mundo. Às vezes é engraçada, às vezes mais observadora, às vezes cruel. Gostei de ter lido ahá! A-ha. Me identifiquei com a citação que está lá, desde novembro de 2007:

“A experiência, e não a verdade, é o que dá sentido à escritura. Digamos, com Foucault, que escrevemos para transformar o que sabemos e não para transmitir o já sabido. Se alguma coisa nos anima a escrever é a possibilidade de que esse ato de escritura, essa experiência em palavras, nos permita liberar-nos de certas verdades, de modo a deixarmos de ser o que somos para ser outra coisa, diferentes do que vimos sendo.”
Jorge Larrosa e Walter Kahan - do livro ‘O mestre ignorante’, de Jacques Rancière

Escolhemos esse mesmo trecho para ilustrar uma exposição que montamos no ano passado, com o objetivo de comemorar e inspirar uma reflexão sobre os 15 anos de atividade da instituição onde atuamos.

A partir desse ponto, a viagem começou a ficar mais árdua, mais difícil. Os caminhos ficaram mais tortuosos e, em alguns momentos, temi me perder na blogosfera sem ter como voltar para casa. Da Cumulus Nimbus, já sem muitas opções, entrei no Le Mur. É também um coletivo, com quatro colaboradoras ou colaboradores, sei lá. O blog não tem muitas informações sobre os escrivanhadores. Também não sei de onde postam. Gostei do visual do blog, bem clean. Gostei das imagens: fotos e desenhos. E gostei do texto E o que você faz dos seus muros. Para chegar nele, quem se aventurar, tem de rolar a tela. Mas vale a pena. Não me demorei muito, mas talvez volte no Le Mur um dia.

Do Le Mur, pulei para o ArteCultDesign. Fiquei surpresa. A mantenedora desse blog posta de Belo Horizonte. Coincidência. Ou não. O mundo é pequeno em qualquer lugar. A menina que aparece na foto da tela principal, acho, chama-se Marly e gostei da pergunta que vem logo abaixo: o que nos olha? Não consegui deixar de não ri. Quando somos crianças, imaginamos que é deus quem nos olha. Nos espreita de longe o tempo todo. Hoje penso que somos nós mesmos que estamos, o tempo todo, a nos olhar. A nos vigiar, nos controlar, nos avaliar, criticar, exigir, cobrar e assim por diante.

Foi do ArteCultDesign que quase voltei para casa. Senti que dali para frente ia andar em pedregulhos, escalar paredões íngremes e atravessar corredeiras assassinas. De lá, só consegui escapar por uma trilha meio sinistra: Chama Violeta. Sem nenhum juízo de valor, mas com toda sinceridade, levei susto. O blog é violeta mesmo, com letras azuis, e é musical, Assim que termina de carregar, toca uma música dessas meio celestiais. Não é a minha praia. Definitivamente. Mas é um blog interessante e bem feito para quem gosta. Não li nada da Chama Violeta, mas acho que os posts merecem ser lidos. Um dia volto lá.

E o que eu mais temia aconteceu. Estava presa. Não tinha por onde escapar. Parecia que estava numa torre muito alta de algum castelo mal assombrado. Senti até um frio na barriga. Pasmem, a Chama Violeta não tem nenhuma janela para o mundo. Foi uma constatação bem desagradável. Mas antes de me desesperar resolvi entrar nos comentários e ver se de lá conseguia fugir para algum outro lugar. Deu certo. De lá pulei no Oceanus. Não sei nada sobre o senhor ou senhora Oceanus, mas ali tem as melhores fotos sobre o mar que consegui ver nessa viagem. Demorei bastante no Oceanus, só apreciando as fotografias. Vale a pena dar uma espiada.

Do Oceanus, fui para a Jardineira Aprendiz. Esse tema tem me interessado muito, porque, conforme havia me prometido no início do ano, estou cuidando melhor do meu jardim. Fiz até uma extravagância nessas férias e criei um espaço, na varanda da copa, para cultivar temperos e ervas. Foi muito gostoso fazer isso e ficou tudo muito bonito. Mas voltando à Jardineira Aprendiz, sei que é o blog de uma mulher e que posta de algum lugar em Portugal. O blog tem muitas fotos de flores, folhagens, árvores, todas, todas, maravilhosas. Foi um belo passeio. Me deixei ficar por ali muito tempo. Muito mais do que havia previsto. Quando dei por mim, já precisava voltar para casa.

E foi aí que os problemas apareceram de verdade: como voltar? Descobri que os portugueses às vezes falam do Brasil, mas não abrem janelas para nossas praias. Passei pelo O murmurar das pedras, de Mofina Mendes, que tem um post sobre uma Orquestra de Legumes muito engraçada e curiosa. Sai pelo Funes, o memorioso, de um advogado do Porto e de lá fui para o Fado Falado. Gostei dessa pracinha, com posts curtos e bem humorados. Fiquei feliz quando vi um texto especial dedicado ao nosso Garrincha. Ele merece, ele merece! Merece um post e outros mais. Quando pensei isso, já estava clicando em outro blog, Do alto da Penha - Mira-se o mundo sem binóculos, também de Portugal. E olha que coincidência: lá também tinha um post dedicado ao Garrincha, com vídeo e tudo mais. Fiquei bem orgulhosa, mas cada vez mais aflita, porque nada de achar um caminho de volta para o Brasil.

Já sem muita paciência de pesquisar links sugeridos, comecei a clicar nervosamente no Próximo Blog, que fica na barra de ferramenta do Blogger. Sobrevoei muitos sítios, cada um mais esquisito do que o outro, em línguas mais estranhas do que outras. Por acaso, passei por um blog em português, de Portugal, claro. Não resisti e dei uma paradinha: Desenhador do Quotidiano. É muito bom, o autor tem uma libreta preta, não sei se moleskine, onde registra paisagens da cidade. Lamentei não ter passado por ele mais cedo, quando ainda me divertia.

Voltei para o Próximo Blog e continuei clicando enfurecidamente. Nada! Nient! Rien! só blogs holandeses, húngaros, chineses ou japoneses sei lá e de outras línguas mais. Estava escurecendo, os meninos começando a reclamar pelo lanche, minha mãe já tinha ligado, o moço que vai consertar a secadora também. Precisava mesmo voltar para casa. Foi aí que vi, num desses blogs em língua indecifrável, um campo da Google pesquisa. Não tive dúvidas. Digitei rapidamente: espera, estou pensando e cheguei de volta em casa. Ufa! Da próxima vez terei mais cuidado com a carta de navegação. Mas é assim mesmo, vivendo e aprendendo.

Uma semana de novos e divertidos aprendizados para todos.

Inté fevereiro!

7 comentários:

Anônimo disse...

Olá Patrícia,
Costumo viajar como vc pelos blogs, sites e afins. Pego suas sugestões vou em alguma, pego a sugestão daquele, do seguinte, do seguinte e entro em órbita.
Visitei o Pimenta nos Olhos pelo seu blog e morri de rir da última postagem do Márcio. Não que estivesse engraçada, mas é que quando vi que a postagem era sobre o Festivald e Jazz em Santiago, pensei: "num é que quase encontro o Márcio e entrego o abraço que a Patrícia mandou dar?". Por puro acaso, vi uma apresentação (Ravi Coltrane) no dia 17 ou 18.
E fiquei pensando no seu recado no meu blog "se encontrar o Márcio dê um abraço, que eu mandei. Coisa de mineiro".
Pois é, por pouco esta coisa de mineiro não acontece mesmo.
Gostei do blog do Pimenta.
Vou seguindo tb os passos da Ana Paula Pedrosa, jornalista do Tempo, que vc pode olhar de vez em quando. O endereço dela também está no meu espacinho.
Abraço,
Adriana

patricia duarte disse...

Oi Adriana. Ia ser uma bela coincidência, hem? Bem mineiramente mesmo. Estive lá no blog da Ana Paula e gostei muito. Depois vou voltar e incluí-lo nos meus roteiros. bjim

Anônimo disse...

Excelente post, Patrícia. Isso revela que a sociabilidade na web ocorre mais por afinidades do que por questões geográficas.
Acho que as chances de nos sentirmos sozinhos no mundo é cada vez menor, você por exemplo descobriu uma "vizinha" blogueira.

i disse...

Oi Patrícia,

Obrigado pelas visitas! Volte sempre.

Uma única correção é necessária: o Cálculo Renal faz parte do Breviário, esse sim o nome do coletivo. O endereço principal é www.breviario.org

Abraços!

patricia duarte disse...

Puxa vida, que mico! Você tem razão. Não estou dizendo que preciso melhorar a qualidade das minhas cartas de navegação? Obrigada pela correção. Voltarei sim, com certeza. Um abraço

Anônimo disse...

Patrícia! Que loucura esse seu passeio! Nossa, achei demais, um dia (quando temrinar o mestrado) tenho que experimentar me perder pela rede. Obrigada pela visita no Cumulus Nimbus, ele está parado por causa do mestrado (esse tal de mestrado me fez parar tudo!). Mas você pode acompanhar um pouco do assunto da minha dissertação em www.manoelaafonso.wordpress.com e sugiro a visita também ao meu Diário de Bordo (que é por onde ando com mais frequência) www.manoelaafonso.zip.net. Pois é, acho que posso dizer que sou uma blogueira; o Le Mur é um projeto de intervenção urbana, para saber sobre o projeto você tem que ir lá no histórico e procurar o primeiro post. Ah! Outra coisa, como sou das artes visuais, muitas imagens são links para outros lugares... o olho no Le Mur leva ao meu Diário... e no Diário algumas imagens são links também. Ufa, por enquanto te dou essas dicas de visitas... mas tem mais heheh. Muito obrigada por ter lido meus textos, em breve retomarei aquele projeto. Um beijo grande, boa semana!

patricia duarte disse...

Oi Manoela, obrigada pelas dicas. Agora fiquei curiosíssima! Vou dar uma esticada até lá neste final de semana. Vou fazer uma viagem curtinha, de fim de semana (rsrsrsrs), porque já voltei pra lida também: levar e buscar menino na escola, trabalhar, trabalhar, aulas, estudar e tudo de novo outra vez. Mas é bom também. bjim