Também adoro fazer e ajudar os outros a fazer lista de festa. Passar uma a uma todas as providências, depois ir cortando cada uma delas à medida que as tarefas vão sendo cumpridas. É o máximo. Mas não fico só nisso. Tenho também uma coleção de listas inúteis: lista dos cds que preciso ouvir uma hora, dos filmes que não posso deixar de ver, dos livros que estão me esperando na estante e outra daqueles que preciso comprar quando tiver uma chance, dos passeios que quero fazer, dos lugares onde não posso deixar de ir um dia. Já fiz lista das palavras que me agradam e daquelas horripilantes, que devo evitar a qualquer custo, lista de frases para sempre, de frases engraçadas e frases de filmes, pérolas ou imperdíveis.
Mas, admito, não levo minhas listas a sério. Poucas vezes termino o dia cumprindo todas as prioridades eleitas. Raramente consulto a lista do supermercado, prefiro passear pelos corredores e comprar o que me dá vontade. Às vezes isso é um problema, porque deixo de levar exatamente o que estava faltando e sou obrigada a voltar para refazer o dever. Mas não me importo. Também não levo a sério as minhas listas inúteis. Aliás, é por isso mesmo que as chamo de inúteis. Acabo sempre escutando as músicas que os meninos escolhem, vendo os filmes que outros estão afim de ver e lendo os livros que me dão. E isso também não me incomoda, porque acabam sendo boas escolhas também.
Por exemplo, estou com três livros na Lista de espera: Inês Pedrosa, Pamuk e Mia Couto. Até o final das férias pretendo ler pelo menos dois deles, de preferência numa varanda, com o vento batendo no rosto e o mar lá na frente, quebrando na areia e esparramando água até quase na calçada. Mas agora, agora mesmo, não tive vontade de ler nenhum deles. Preferi pegar outros que não estavam na lista, mas que me pareceram bem mais apetitosos para esse início de ano improvisado que estou passando. Tudo que havia planejado, furou. Mais uma lista que foi para o lixo. Sem mapa de navegação para me orientar, estou praticando a arte da improvisação. Acho que vou ficar boa nisso.
E enquanto fico por aqui, distraindo o tempo, já li três livros. Eles têm algumas coisas em comum: os três são pequenos, quase de bolso. São de leitura rápida, não porque sejam pequenos, mas porque o texto flui e a história prende. Depois que começamos, não dá para interromper antes do fim. E os três têm uma programação visual que me agrada aos olhos. Isso para mim é fundamental num livro. Por exemplo, faz tempo que não leio livros da Record e só porque não me agradam aos olhos. Além das letras miúdas e entrelinhas apertadas, as capas são feias. Isso é uma grande bobagem, sei disso, mas como temos muitas ofertas, posso me dar a esse luxo. Hoje não sei como andam as edições da Record. Espero que tenham melhorado. Mas os três livros que li, são impecáveis. E as coincidências acabam por aqui.


Ainda não li o primeiro, mas o segundo devorei de uma vez só. É uma história de amor ou de amores ou de desamores, de encontros e desencontros, de tentativas. Resumindo assim, não parece muito original, mas isso é irrelevante para quem sabe contar uma história. E Patrícia Reis sabe. Usa as palavras na dose certa, mistura poesia e cinema para dar ritmo à narrativa. Como se fosse um quebra-cabeça, desmonta sua história peça por peça e remonta com novos enredos até voltar à trama inicial. Se não fosse um livro, Morder-te o coração seria a ventania que anuncia uma chuva. Vou deixá-lo na minha cabeceira para reler de novo alguns pedaços. Ou uma frase, como essa: eu consigo saber como é tudo porque consigo imaginar...

Foi assim que burlei a minha Lista de espera. Também furei a lista de filmes que Ainda vou ver, mas essa já é outra história. Se der, volto aqui antes de viajar para contar como foi.
Até lá, uma semana de improvisações para todos.
Inté
3 comentários:
hum...
e não é que essa história de lista ajuda mesmo...ainda mais para quem memória fraca, como eu.
hehehe
abs
Se quiser furar a fila novamente com Amós Oz, experimente "O mesmo mar" ou "Pantera no porão" (este é bem curto também).
Então vou de Pantera no Porão (rsrsrs), afinal, é ritmo de férias, né?
Postar um comentário