domingo, janeiro 13, 2008

Pé na estrada

Estávamos preparados para assistir neste final de semana o filme de David Lynch, Império dos Sonhos. Arrumei a matula com um pouco de tudo: pipoca, água, bala de goma, água e menthos. Afinal, três horas de filme não é pouco tempo. Mas na hora de sair, cadê? Olhamos o jornal de cabo a rabo e o filme não estava mais em nenhuma das salas de cinema da cidade. Já tinham corrido com ele. Isso acontece demais comigo. Sempre vou deixando pra depois, pra outro dia, pra mais tarde e, quando assusto, perdi.

Na falta de um Lynch atual, recorremos ao vídeo para rever algum outro do passado que, da mesma forma, devo ter perdido quando estava rodando no circuito comercial. Foi uma sorte. Encontramos História Real, de 1999. É claro que ainda não tinha visto. Não me lembro o que estava fazendo em 1999, mas tenho certeza de que não tinha tempo sobrando para ir ao cinema nos finais de semana ou numa sexta à noite. O filme é um poema sobre a vida e, apesar de não representar o Lynch original, tem tudo dele, só que em doses mais doces do que ácidas, mas não menos reais.

História Real é um road movie a 12 km por hora, como alguém já disse. É o relato da viagem de Alvim Straight, um homem de 73 anos, com algumas dificuldades próprias da idade, mas disposto a continuar sua aventura na terra até quando der. Ele atravessa quase 500 km de estrada, num cortador de grama, para rever seu irmão, vítima de um derrame. Os dois não se falavam há muito tempo, mas com a notícia, Alvim resolve esquecer o passado e reencontrá-lo. Faz a viagem sozinho e, no caminho, encontra pessoas e vive as mais diversas situações e complicações, mas sem nunca se afastar do seu plano de vôo original.

Não é um melodrama. Poderia ter virado, mas não nas mãos de David Lynch. Alvim faz a sua viagem solitária, como todos nós estamos fazendo todos os dias, desde a hora em que nascemos até a hora em que, um dia, partiremos. Os amigos que faz durante o trajeto são como nossos companheiros de viagem, que encontramos no meio da vida. Nessa caminhada, Alvim fala da velhice, da amizade, do futuro, do passado, do presente. Vai digerindo tudo devagar, expurgando os maus momentos até tornar a alma mais leve, para se encontrar com o irmão.

Não pensei nada sobre História Real. Só vi e senti. E vou rever agora mais uma vez. Em 2008, quero um pouco do ritmo desse filme para a minha vida. Quero tudo mais lento e mais doce, para ter tempo de saborear. Se vocês tiverem a oportunidade de assistir ou de rever esse filme, não deixem ela escapar pelos dedos.

Uma semana a 12 km por hora para todos!

Buenas.

Imagens: de divulgação, capturadas na internet

3 comentários:

Ricardo Ballarine disse...

Esse é um dos meu preferidos do Lynch. Vi no cinema, quando foi lançado, na época ainda morava em BH. Depois, fui rever no DVD. Alcança os mesmos níveis dos melhores trabalhos de Lynch, como Twin Peaks, Veludo azul e O homem elefante.

Anônimo disse...

Fiquei com vontade de ver o filme, que também perdi na época do lançamento... Lento, doce e leve me parece uma boa pedida para 2008!
Beijos.

Anônimo disse...

Esse filme é de um David Lynch sem doença. É muito simples, é belo. O diretor devia estar numa fase beeem sensível, porque nunca fez nada igual.
P.S.: O meu favorito dele continua sendo o Coração Selvagem, claro.