sábado, outubro 27, 2007

Carrossel voador

Foto: Vitória de Samotrácia na Praça da Liberdade
(minha)

A vida é um trem. São mais de 6 bilhões de locomotivas partindo em todas as direções. Às vezes elas se cruzam. Às vezes não. Às vezes páram em alguma estação. Alguns caem fora, outros embarcam, outros mudam de vagão, outros voltam. Mas a vida é um trem que segue sempre em frente. Acreditava nisso. Hoje tenho dúvidas. A vida está me parecendo mais um carrossel, que fica dando voltas, girando, girando, quase indo, mas quando parece que vai, volta sempre para o mesmo lugar. Girando.

Às vezes tenho essa impressão. Estou ali, mergulhada num momento presente qualquer e, de repente, me vem sensações absolutamente estranhas àquela situação, mas que me remetem a experiências passadas que insistem em permanecer vivas, como se retornassem desde sempre, no giro de um carrossel. É como se o tempo não existisse mesmo. O presente é só o passado revisitado. Reescrito mil vezes, se preciso for. O futuro é o passado idealizado, utopia pura. Não existe futuro na roda de um carrossel. Só um mesmo movimento no mesmo lugar. Girando.

Não é muito comum. A bem da verdade, é muito raro mas, às vezes, a força centrípeta, que nos aprisiona a um eixo de rotação e nos faz girar como um carrossel, se liberta da influência de seus vetores e nos lança no espaço. Por alguns segundos ficamos soltos no alto e olhamos a vida com se tivéssemos na mão uma possante lente panorâmica. Segundos. Um instante mínimo, mas o suficiente para termos a exata dimensão da vida e fazermos novas escolhas, as mesmas, que sejam, mas ainda assim novas, pois que revisitadas. Segundos.

Girar na roda de um carrossel e deixar a vida nos levar num eterno movimento circular em torno de uma mesma história. Mil vezes, reinventar o passado, até que dele surja um novo enredo. Ou vagar pelo espaço, espalhando lampejos de luz do olhar que lançamos sobre o mundo. Sobrevoar novos mares, semeando dúvidas na certeza dos timoneiros. Navegar em águas desconhecidas, como Vitória de Samotrácia, e colher lendas inéditas que inspirem novos jeitos de viver. E voar de novo, como Vitória de Samotrácia. Voar tão rapidamente, tão velozmente, que o vento nascido do bater de nossas asas corte todos os caminhos, espalhando-os em mil direções, fazendo surgir mil novas versões de todas as milhares de histórias que já vivemos. Segundos.

Uma semana de volta à órbita original, mil vezes renovadamente.

Inté

2 comentários:

Anônimo disse...

A vida está me parecendo mais um carrossel, que fica dando voltas, girando, girando, quase indo, mas quando parece que vai, volta sempre para o mesmo lugar. Girando.

É o eterno retorno: as possibilidades são infinitas, já a força finita.

Posso colocar o seu blog como o Blog da Semana lá no Herdeiro?

Anônimo disse...

Sensações que nos levam a estas impressões e perguntas que temos que lidar para fazer com que estas locomotivas estejam sempre em uma direção positiva.

Beijos!!!!