quinta-feira, outubro 18, 2007

Oh quão dessemelhantes somos!

Foto: Aniversário da Marina
(Minha)


Dizem que de perto todos nós somos meio loucos. Não discordo, mas diria de um outro jeito. De perto, todos nós somos diferentes. Mesmo que insistam em nos fazer parecer todos iguais, o como de nossas histórias, diria Lisbela, nos torna únicos e, em qualquer situação, insubstituíveis. Mas para os estatísticos, nossos enredos privados não têm nenhuma relevância, viram meros pontos percentuais na composição de perfis representativos da população, para as mais diversas finalidades.

Somos identificadas não pela nossa biografia, mas pela condição em que estamos no mundo. Mulheres, na faixa de 50 a 54 anos, com um nível de escolaridade acima do desejável, trabalhadoras, renda média ou um pouco mais que isso, casadas, mães de uma prole sob controle, eleitoras, consumidoras, leitoras medianas, ainda que bem acima da média nacional e assim por diante. Viramos quase uma mesma dentro dos grupos nos quais somos incluídas.

Somos vagamente definidas pelas pesquisas de opinião, quando nosso perfil se encaixa nas escolhas que uma mostra limitada da população se dispõe a revelar sobre os mais diversos temas. Não importa se o que nos oferecem é uma variedade absolutamente restrita de opções, nos classificam como favoráveis, desfavoráveis ou indiferentes a determinada situação ou objeto. Não importa se não conseguem captar as nuances do nosso pensamento, nos enquadram em grupos genéricos e afirmam tudo que não dissemos e nos fazem mais iguais ainda, ignorando solenemente todas as nossas diferenças.

Aí, quando acontece de nos encontrarmos num canto qualquer do país, quando acontece de nos sentarmos à mesa desarmadas e sem defesa, olhamo-nos desconfiadas e não nos reconhecemos. Desfiamos nossas histórias inéditas e tecemos opiniões originais sobre tudo que vemos e nada coincide com o diabo do perfil no qual fomos incluídas. Nos estranhamos e cismamos que existe uma porção qualquer de loucura em tudo que falamos ou escutamos. Mas não é isso. Não há sombra de loucura nas vivências que experimentamos. Só há particularidades. Exatamente aquelas que nos diferenciam e nos tornam uma cada qual e não a mesma junto com todas.

Ainda estava pensando nisso, quando vi bush, aquele que não teve coragem de assinar o Tratado de Kioto, bater boca com Vladimir Putin e advertir os demais governantes do mundo sob o risco de enfrentarmos uma terceira guerra mundial, caso o Irã venha a dominar a tecnologia de fabricação de armas nucleares. Vi ainda Recep Tayyip Erdogan comemorar a decisão do Parlamento turco, autorizando uma ofensiva militar daquele país contra curdos que mantêm bases de treinamento no Iraque. Vi Hillary, Condoleezza, Chávez, Sarkozy e outros menos vips.

Admito, minha tentação primeira foi a de achá-los todos iguais, mas se cada um é cada qual posso pelo menos dizer que todos repetem, desde sempre, o mesmo velho discurso rançoso dos poderes imperiais e, nessa repetição, acabam se tornando muito parecidos, ainda que dessemelhantes. Olham o mundo da mesma empoeirada janela de vidros embaçados. É uma pena.

Uma semana de descobertas para todos. Novas palavras, novos significados, novos ares, novas idéias.

Inté

Um comentário:

Anônimo disse...

Descobri que os versos "Triste Bahia, oh quão dessemelhante és" é do Gregório de Matos, na situação mais improvável. Estávamos eu e um grupo na casa do prefeito de São Felix do Araguaia. Em sua ausência. A casa só pra nós. Examinando uma pequena estante de livros com coisas "esquecíveis", eis que lá estava Gregório de Matos. A partir das lembranças desse prefeito, creio que existem graus de dessemelhança. E é aí que a coisa pega.