Só consigo pensar escrevendo. De outro jeito, me confundo toda. Os pensamentos vêm em ondas e se misturam uns com os outros e, no final, morrem na praia. Por isso criei esse blog. Para todos que só conseguem pensar escrevendo. Ou, pelo menos, só assim conseguem dar precisão ao que pensam.
domingo, outubro 07, 2007
Deveria
Esta semana deveria ter vindo aqui mais cedo e mais vezes para plantar algumas bandeiras, mas estava ocupada construindo idéias. Juntando palavras, colando umas nas outras até formar um conjunto harmonioso de linhas retas, uma página depois da outra, numa construção lógica e precisamente correta. Deveria ter vindo, mas não vim. Abandonei os birmaneses à sua própria sorte. Sei que não deveria ter feito isso, pois os birmaneses são quase crianças ainda e carecem de mãe, como todos nós. Sua população é formada em mais de um terço por meninos e meninas com menos de 15 anos. Crianças, na maioria desassistidas, como de resto toda a população. Myanmar é ainda o país mais pobre da região asiática e vive sob a burduna de um regime militar fortemente beligerante, apesar da oposição ter um movimento absolutamente pacífico. Foi mal Ko-Hitke.
Se isso serve de consolo, não abandonei só os birmaneses. Deixei mais gente sozinha não meio da caminhada. Deveria ter vindo aqui, para segurar a bandeira da Mobilização Nacional por Democracia e Transparência nas Concessões de TV e Rádio . Mas também não vim. Deixei a caravana passar e larguei minha bandeira no primeiro site que encontrei, só para carregar pedras e flores no mundo da vida. Isso acontece, podem ter certeza. Não vim, mas também não deletei essa causa. Gastei algum tempo maquinando sobre as redes de rádio e TV comunitárias, que acredito serão mais capazes de democratizar o processo da comunicação dos que as mídias de massa. E também elas carecem de mãe, pois estão da mesma forma abandonadas, aguardando uma política mais coerente que viabilize sua organização. Foi mal outra vez.
Deveria ter vindo aqui ainda para rodar a baiana com o presidente esquerdista do Equador, Rafael Correa, que defendeu o fechamento do Congresso daquele país, alegando que é muito difícil governar com os parlamentares que lá estão, escolhidos pelo voto direto, da mesma forma que Correa, nas eleições passadas. Não acho que seja fácil, como aqui também não é. Mas essa é a regra do jogo, se rompermos com os combinados no meio da partida, corremos o risco de embarcar numa canoa furada e cair bem no meio de um rio de águas turvas e agitadas. É desastre na certa. Nesse caso sou boba mesmo. Ainda acredito que é no parlamento que nossas vontades se encontram e é lá também que, por meio da palavra e das idéias, dialogamos com nossos contrários até encontrarmos uma negociação possível. Tenho pra mim que o parlamento é a alma da democracia, sem ele viramos zumbis atormentados, vagando na escuridão da ignorância e da tirania. Deveria ter vindo, com certeza, mas perdi o trem da história.
Outra bandeira que escapuliu das minhas mãos, enquanto debulhava novas palavras no dicionário, foi a do movimento em defesa da floresta amazônica. Mesmo vendo o fogo se alastrar mundo afora, mesmo sentindo o calor nos sufocar e percebendo claramente as mudanças do clima, a cada nova estação, deixei cair essa bandeira e nem olhei pra trás, pra tentar recuperá-la. Deveria ter vindo aqui dar o meu apoio ao Pacto pela Valorização da Floresta e pelo Fim do Desmatamento na Amazônia. Mas também não vim. Faltou animus, no final da noite, depois da correria da semana inteira.
Essa próxima não será diferente. Vou dar um logoff geral para não ficar tentada a divagar nas ondas do meu pensamento. Nem vamos para o litoral. Vamos é embrenhar pelo interior paulista a dentro, mergulhar na vida real e sair de nariz tampado, mas muito melhores do que antes, com certeza. Outro dia, quando der, volto para plantar bandeiras, quem sabe elas florescem nessa primavera.
Uma semana com aroma de laranjeira para todos.
Inté.
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2 comentários:
Hum...fantástico a narrativa...o post causou mais impacto do que os manifestos e manifestações dos movimentos citados....
Bom, não acredito na democracia...assim como Aristóteles, penso que ela é o sistema da mediocridade (no sentido do pensamento comum da sociedade). Ela garante apenas a liberdade política e não a justiça social.
Torço para que tudo dê certo p/ vc.
A
Que delícia de texto!!! Amei mesmo.
Suas idéias são suas bandeiras.
Beijos.
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