domingo, setembro 16, 2007

Uma versão livre

Foto: Isso mesmo: a de sempre.

Tem um mundo pairando sobre minha cabeça. Mesmo de olhos fechados, posso pressenti-lo. Tem um vento vindo de algum lugar. Tem um burburinho qualquer, mas de longe, só de bem longe. Desconfio que seja o mundo mudando. Ou girando, girando. E bate um pé de vento mais perto e espalha meus pensamentos. Não consigo mais alcançá-los. Nem tenho vontade. É melhor assim. Mas sei que o mundo continua lá. Pairando sobre minha cabeça. Se não despencar sobre ela, pode ficar, não tem problema.

Bate outro vento e traz novos pensamentos. Nem chegam a ser, são apenas palavras soltas, poeira de idéias, que vai baixando devagar e se acumulando aqui e ali. Juntei só algumas palavras que ainda estavam suspensas no ar e deu nisso: a vida não acaba mais em pizza como antes. Já desconfiava. Hoje tudo acaba em jogo. Quem perde e quem ganha. É só o que importa. É a mesma lógica que movimenta o mercado. Quanto vou ganhar e quem vai perder.

Deixei a poeira baixar mais um pouco. Algumas palavras se atraem. Quem sabe delas surja algum pensamento iluminado que me obrigue a abrir os olhos novamente? Houve um tempo em que preferíamos as palavras na sua forma mais substantiva. Na sua concretude, se bastavam. Democracia. Liberdade. Justiça. Igualdade. Mas algumas palavras se atraem. Aderem umas nas outras como os vagões que se encaixam um a um até formar um trem. E tudo ficou relativo. A culpa é de Einstein.

A vida substantiva tornou-se obsoleta. Nossas carências objetivas estão out. A obviedade tornou-se uma intrusa no mundo da complexidade. É a subjetividade quem está no comando. A realidade dos fatos não nos comove mais. Queremos as versões. Todas elas, se possível. Cada uma com a cor que melhor lhe convier. E quanto maior for a incoerência entre elas, mais nos deliciamos, crentes que ali habita a complexidade. Mas, quanto mais inconsistente as versões, apenas mais fluida a realidade. E assim, ela escapa das nossas mãos por entre os dedos e nos abandona perdidos entre as coisas pequenas da nossa própria vida.

Mas, agora-agora, só temo que o vento sopre mais forte e quebre esse equilibro instável da vida e rompa o fino fio que ainda sustenta o mundo. Se isso acontecer, ele vai se esborrachar todo bem em cima de nossas cabeças. Deus nos poupe.


Uma semana bem tranqüilinha, sem movimentos bruscos, para não corrermos muito risco.
Inté.

3 comentários:

Ricardo Ballarine disse...

Oi, vi sua fila de espera. Pelo seu blog, acho que vc vai gostar do livro da Inês Pedrosa. De Istambul também, estou lendo em paralelo ao Unamuno.
Gostei do novo visual do blog.

Anônimo disse...

Ei Patricia,
já estava sentindo falta de passar por aq pra "te ler pensando", mas hj me dei essa vinda de presente e amei os 4 textos q ainda não tinha lido, especialmente os "Mundo mundo, vasto mundo" e o "Olhos nos olhos", mas este aq, "Uma versão Livre" ficou boooom d +. O "Sem cométários" tbm ñ vou comentar de tão bom q ficou, kkkk.
Bj

patricia duarte disse...

Oi Ricardo, pois é, vou antecipar a leitura do livro de Inês Pedrosa. Vai ser o primeiro que vou pegar agora. também acho que vou gostar.

Carla, brigadinha pela visita. Fico feliz que você tenha gostado. Tenho te visitado também, mas não consigo deixar recados na sua página.

Tenho andado meio às pressas e aos trancos e barrancos e, até meados de outubro, não acredito que esse ritmo vá mudar. Depois vem final de ano, aquela correria. Por isso, não vou esperar ter tempo para navegar. Na próxima semana vou por o barco no rio novamente. bjins a todos