sábado, janeiro 07, 2006

Babel ambulante

E nisso já estamos em pleno 2006. Ói procê vê! E ainda das terras litorâneas. Daqui, de onde tentamos tapiar o tempo. Se ainda fosse possível. Não é mais. O delírio ambulante dos adolescentes divide as horas num ritmo alucinante. Eles chegam e vão e voltam e tornam a vazar o tempo todo.

Estão por aqui e querem ir logo ali, onde o mar tem mais onda. Estão por lá e querem vir pra cá, onde o mar é mais azul. Estão por perto e já estão saindo, porque essa noite vão bombar até amanhã. Estão no meio da muvuca e querem distância. Principalmente das xícaras e panelas que batem na pia. Querem sossego para não despertarem do tédio aborrecente que alimenta suas almas de rebeldes sem causa. E vai acompanhar essa turma!

Nisso, o dia passa num estalar de dedos. Nisso, bate uma onda e afunda meus pés na areia. Me deixo parar onde estou. E, enquanto fico, escuto vozes que caminham pelo vento. Sopra um brother, depois um hermano e voam consoantes indecifráveis e is e us que também não localizo de onde. Cruzes! Deve ser o tal do mundo globalizado. Ou o delírio ambulante virou epidemia e contagiou todos nós. E vão que vão!

Nisso, três pirralhos nativos despencam na água e esparramam onda pra tudo quanto é lado. Argh! Definitivamente, argh! Não vou me esforçar pra pensar.

Nisso, bate um vento contra o mar. Escuto um zezinho berrando bonés da Copa! Prefiro camarões à dorê! Brasil já virou hexa no marketing apressado do vendedor descalço. Merecer até que merece, né? Mas prefiro esperar pra torcer. Cê bobo? O Brasil vai à luta com a legião estrangeira. Vai que na hora do vamuvê a turma não se entrosa? Hem?

Não estou agourando, só exercitando 50% da minha desconfiança. Já faz tempo que os jogadores brasileiros foram atacados pelo delírio ambulante. Estão espalhados por todo canto do planeta. Se hoje você for na Moldávia, vai encontrar alguém falando português por lá. Se for no Cazaquistão, vai trombar com um mano desses também. Na Estônia, fácil, fácil. Omã idem e por aí afora tudo, até onde sua vista desejar. São milhares com o pé na estrada. No ano passado, saíram 878 atletas para tentar à sorte nesse mundão. Em 2004, 857. É só ir somando.

Mas nisso, de repente, eles têm de estar juntos de novo, como nos velhos tempos. Todos no mesmo lado do campo. E vai que eles não se reconheçam mais? Bobagem. É o que passa pela minha cabeça nesse agorinha mesmo.

Nisso, bate outra onda e solta meus pés. Saio andando e pensando. Como Leminsk. No andar. Não no pensar, que sei dos meus limites. Prinicpalmente na areia. E penso que não vai ser por falta de time que vamos deixar de torcer nessa Copa. Se a seleção internacional brasileira não der conta do recado, teremos pelo menos mais quatro ou cinco motivos para continuar ali, na labuta.

Acho que foi isso que ouvi na CBN dia desses. Agora, além de jogadores, exportamos técnicos também. Quatro ou cinco deles estarão dirigindo seleções adversárias nessa Copa de 2006. Tô me lembrando do Japão, de Portugal e de Costa Rica. Mas tem mais. Tá tudo dominado. Pode dar Brasil de um jeito ou de outro.

Na arquibancada, com certeza. Lá já somos vice antes de entrarmos em campo. Li outro dia, não sei onde, que o português é a segunda língua da Copa. Em primeiro, claro, está o inglês, com 378,5 milhões de torcedores. Isso muito por conta dos EUA. Eles bem que estão se esforçando pra entrar nesse mercado. Daniel já perdeu três colegas de sala por culpa desse esforço. Eles ganharam uma bolsa do Colégio Americano só porque são bons de bola. Dá pra nós? E lá a mensalidade é equivalente à renda de uma família de classe média. Média média ou baixa, não entendo o IBGE, mas média.Tudo bem, eles podem ganhar o torneio interescolar, mas a Copa, péra lá, né?

Então, se excluíssemos dessa panelinha os EUA, o português assumiria uma liderança inquestionável. Somos 205,9 milhões de torcedores fanáticos, gritando gol, gol, gol, gol!, golo, golo, golo! ou teto, teto, teto!, dependendo do sotaque.

Nisso, fui pensando, poderíamos melhorar ainda mais nossa performance, se incluíssemos o portunhol nessa babel esportiva. Ainda preferimos ficar de frente pro mar, esperando os velhos e mesmos descobridores predadores. Mas, desconfiados, já estamos olhando também pras montanhas. E se abrirmos as porteiras para a América Latina, o portunhol ganharia status de dialeto rapidim. Só está faltando uma forcinha, né? Aí seríamos 410 milhões redondos de torcedores gritando: gôle! gôle! gôle! Quê dyo espero sedjam todos do Brazili, cierto? hehehe.

Nisso, pensei bem, vou é pegar o meu boné da Copa já de uma vez.

Saudações verde-amarela e respingos de sol para todos!

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