terça-feira, março 11, 2008

Gira, gira, gira

Fora de foco

Que situação, hem? Frei Beto é quem tinha razão. Ninguém tem dinheiro para programas sociais na África, para projetos ambientais nos países pobres, projetos de educação e saúde para populações carentes e outras iniciativas afins. Se alguém ainda ousar pedir, ouvirá só o que já esperava: esses problemas não se resolvem com caridade, mas com investimentos na economia. Depois o mercado fará um novo arranjo para essas populações. Mas olha que situação. Basta o mercado financeiro tremer que começa a jorrar bilhões de dólares de tudo quanto é torneira que existe nesse mundo. Os bancos centrais das grandes economias se unem rapidamente e o dinheiro público, que não existia, aparece subitamente para segurar a onda do capital financeiro, coitado, tão desprotegido nesse mundo cão. Uma vergonha. Adam Smith deve estar tremendo no túmulo.

Mas uma coisa é certa: se alguém ainda duvidava da gravidade desta crise, agora tem a certeza de que o chão poderá nos escapar a qualquer momento. Venhamos e convenhamos, não é uma quebradeirazinha mixureba qualquer que vai mobilizar tantos bancos centrais de uma vez só, como aconteceu hoje. O rombo no mercado financeiro internacional deve ser bem maior do que supõe a nossa vã filosofia e a culpa, provavelmente, será dos infelizes dos proprietários norte-americanos. A bolha do mercado imobiliário nos Estados Unidos foi a cabeça d'água que rolou rio abaixo, arrastando tudo que via pela frente e, pelo visto, arrastou não só o que via como o que não via também. São poucos, mas poderosos, os que devem ter a dimensão exata desse desastre ou não iriam formar, com tanta presteza, essa corrente pra frente. Só espero que ninguém nos venha pedir ouro para o bem do mercado financeiro internacional. Caridade, já aprendemos, não funciona.

Outra coisa que desconfio certa: o império não vai jogar a toalha sem espernear. Sabe bem que quando cai não cai sozinho, leva todo mundo junto. E é com isso que ele joga. Sabe também que ninguém é besta de ir para o fundo do buraco sem resistir bravamente. E é assim que começam a barganhar. Um cede de um lado, o outro cede um pouco também e vão reassumindo o controle do andar da carruagem da história. Se é verdade que, mais cedo ou mais tarde, o império irá descer ladeira abaixo, pelo menos que vá devagar. Olha o dólar. Já virou moeda de troca nessa ciranda. Vinha caindo em relação ao euro de forma absolutamente disciplinada desde 2006. Por várias razões. Mas sejam essas razões quais forem, terão agora de se recolher. Foi esse recado que os bancos centrais europeus mandaram para o mundo. Desconfio que iremos obedecer.

Desconfio também que, diferente do que possa parecer, o mundo não mudou nada. É o mesmo jogo que está sendo jogado. Com o mesmo objetivo a ser alcançado os mesmos interesses a serem preservados.

Uma semaninha de fortes emoções para todos.
Inté
Foto: minha. Numa noite de chuva.

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