No seu lugar, eu ficaria muito furiosa, de tão brava, com esse bando de marmanjos que, de seus gabinetes carpetados e empoeirados, apontam metralhadoras giratórias para o resto do mundo e apertam o gatilho sem a menor cerimônia.
No seu lugar, ficaria muito horrorizada com todo este espetáculo bárbaro que somos obrigados a assistir todos os dias, via satélite, ao vivo e à cores, expondo a morte violenta de milhares de homens, mulheres e crianças, nas pequenas e grandes guerras que se espalham como praga pelo mundo inteiro, sem mesmo darmos conta disso.
No seu lugar Papai Noel, ficaria ainda mordida, para não dizer muitíssimo irritada, com os carinhas que não tiram o pé do acelerador nem na entrada de curvas fechadíssimas, como a que estamos agora. Pisam é mais fundo e saem sofregamente empurrando pro lado tudo e todos que estão no meio do seu caminho, derrubando tudo que atravanque sua passagem, detonando todos os limites naturais que impedem seu avanço e ignorando solenemente as conseqüências de seus atos. Tudo em nome do que chamam progresso.
No seu lugar, ficaria também buzina da vida com um carinha em especial, aquele que não assina o Tratado de Kioto nem que um furacão arraste sua casa para o fundo de um abismo. Não que o seu nome tenha poder para conter o aquecimento global, o degelo das placas polares, o avanço dos mares sobre as terras costeiras, os furacões, tornados e vendavais que invadem cidades hoje mega habitadas e provocam estragos monstruosos. Não que esse carinha tenha o dom de conter a desertificação de um continente inteiro, de impedir o crescimento do buraco de ozônio, de reduzir a contaminação do ar e da água e tudo mais. Mas, admitamos, a sua assinatura sinalizaria uma intenção, uma vontade muito forte, por parte de alguém que, efetivamente, se quisesse, se tivesse bom senso, tivesse tino, poderia mesmo fazer tudo isso.
No seu lugar, Papai Noel, ficaria deveras muito fula mesmo com esse carinha em especial, que parece muito poderoso aos olhos do mundo, mas que se submete de forma hiper subserviente, diria até mesmo servilmente, aos financiadores do seu mandato, principalmente o maior deles, a indústria armamentista. Para agradá-los, esse carinha em especial, nos seus seis anos de governo, até então, espalhou a guerra e o terror pelo mundo inteiro e, junto com eles, o medo, o pavor, o horror e a necessidade inescapável das vítimas de sua estratégia eleitoral, de se armar até os dentes para se proteger dos perigos dessa vida. E aí, o carinha em especial, gentilmente, oferece a rodo para o mundo inteiro, em suaves prestações, fuzis M16A2, mísseis sparrows de longo alcance, blindados M60A3, caças F117 night hawk, entre outros armamentos, além, claro, de soldados recrutados mundo afora, principalmente nos países pobres, mas todos muito bem treinados para combater o que quiserem. Qualquer coisa ou coisa nenhuma, pois que não faz a menor diferença.
No seu lugar, ficaria ainda muito desapontada, decepcionada mesmo, com esse bando de marmanjos, que mesmo sem ter o poder do carinha em especial, poderia, sem a menor sombra de dúvida, fazer alguma coisa para subverter o paradigma de progresso a qualquer preço, substituindo-o por um novo modelo de crescimento sustentável, solidário, compassivo. Um progresso que promovesse o bem estar coletivo e não a acumulação selvagem dos 10% , que visa apenas garantir o caviar regado a veuve clicquot dos 2% e os cessninhas citation II dos menos de 1% ou daquelas 10 famílias que estão no topo da pirâmide e assim por diante.
E já que estamos falando tudo mesmo, no seu lugar Papai Noel, sentiria um baita desprezo por essa turma que viajou de classe executiva para a Europa, ficou nos melhores hotéis ou ainda por lá permanece, comendo do bom e do melhor, em troca de alguns poucos minutos de alegria para todos nós, o povão, e me fazem o papelão que fizeram. Nos deixaram todos perplexos, com nossos bonés, camisetas, bandeiras, pandeiros e toda aquela parafernália das grandes torcidas organizadas, com tudo isso nas mãos, sem ter o que celebrar. Nos deixaram boquiabertos, no meio da arquibancada, quando, lá embaixo, no gramado, não viam a bola para chutar, não encontravam o companheiro para fazer uma tabela no capricho, não vislumbravam as traves para nelas mirar e marcar um gol. Nada, nada. Nos deixaram pasmos e assombrados, enfim, quando lá embaixo, no gramado, pareciam não saber o que ali faziam.
Também no seu lugar, ficaria estarrecida, possessa, muguenga de raiva, mesmo sem saber exatamente o que significa muguenga, mas muguenga assim mesmo de raiva, com esse bando de mangonas, que só conseguem olhar para o próprio umbigo, ou melhor, para o próprio bolso, e não alimentam nenhuma sensibilidade histórica para perceberem o seu papel crucial na consolidação da nossa democracia e de uma administração pública mais eficiente e produtiva, que promova a boa aplicação dos recursos públicos para o bem de todos e felicidade geral da nação.
Mas você, Papai Noel, você não! Você não existe! Com sua paciência de bom velhinho, sua generosidade, sua tolerância, sua capacidade invejável de ouvidor, seu espírito compreensivo, sempre disposto a perdoar todas as bobagens que fazemos o ano inteiro, sua sabedoria e compassividade ilimitadas nos faz esquecer de tudo isso. Esquecer e acreditar, piamente, cegamente, fervorosamente de que é possível, de um dia para outro, de uma noite para um dia, zerarmos nossa conta com o todo poderoso e começarmos tudo de novo. Do nada, do princípio outra vez, para ver se agora, quem sabe, vamos conseguir. Quem sabe, vamos acertar. Por isso, Papai Noel, você não existe!
No meio da correria de dezembro, que estamos sempre todos enfurnados, um final de semana de paz e sossego para todos, se ainda for possível.
Buenas e até de repente!
Fundo Musical: Jingle Bell, vocês queriam o quê? (rsrsrsinhos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário