Que o tempo é qualquer coisa de pouco que temos na vida, todos nós já concordamos. Por isso mesmo me intriga como tanta gente se dispõe a utilizar sua reserva escassa, de um bem tão nobre, numa atividade que, a princípio, não tem nenhum significado. Fico doida para saber por que insistimos em passar por aqui e a dedicar um bocado das poucas horas livres que ainda temos escrevendo um amontoado de palavras que nem sabemos se serão lidas ou se serão capturadas por uma corrente de vento e se perderão por aí para sempre.
Foi para matar essa curiosidade que espantei a preguiça e fui lá pro alto da Afonso Pena, no último sábado, conferir o BlogCamp MG. O domingo deixei para descansar. Mas no sábado queria ouvir e discutir com quem quisesse as razões que nos motivam a essa prática insana e irracional. Não consegui resolver minha angústia, o que não quer dizer que não tenha sido bom participar do encontro. Percebi, por exemplo, que ninguém estava lá muito preocupado com essa questão. Talvez por ela não ser mesmo muito relevante. Percebi que estávamos todos muito felizes e realizados por fazermos parte deste pequeno universo virtual. O encontro presencial foi o grande momento de reconhecimento dessa nossa (in)existência. Deu concretude à insolidez das palavras que inventamos e plantamos nesse espaço, na esperança de que um dia dêem frutos. Ou não.
A foto ficou a média luz, mas ninguém cochilou durante os debates.
Quase, mas não me espantei nem me irritei com as discussões, que duraram toda a manhã e tarde do sábado, sobre a monetização dos blogs e sobre os posts patrocinados. Como disse o Jorge, essa é uma tendência, não quer dizer que seja um padrão. Existem outras possibilidades na blogosfera que estão sendo exploradas com o mesmo afinco. E seria ingenuidade mesmo acreditar que esse espaço estaria imune ao poder de sedução do mercado. Hoje, tudo tem seu preço. Até amigos já são ofertados no varejão da vida, por R$
Fiquei pensando ainda que esse pequeno universo da blogosfera nem é mais tão pequeno assim. Nele cabem mesmo todas as tendências. Estava relendo um estudo da portuguesa Catarina Rodrigues sobre Blogs e a fragmentação do espaço público, que me ajudou a lembrar a dimensão desse mundico. Em 2006, quer dizer, há muito tempo atrás, já eram criados 50 mil novos blogs por dia em todo o mundo. Já éramos quase 28 milhões de pessoas gastando parte de seu precioso tempo nesta ciranda de idéias. E em cada cinco meses, a blogosfera duplica. Se essa previsão procede, já somos hoje mais de 100 milhões. Fiz a conta certa?
Não foi uma boa idéia relembrar esses números, porque volta a minha angústia de querer saber o que estamos fazendo aqui. Catarina também estava aflita para descobrir esse mistério. No seu estudo, entre outras questões maiores, pesquisou essa também. Naquela época, em
Os blogs corporativos, os blogs de jornalistas vinculados às grandes mídias, os blogs de celebridades, os blogs vitrines para venda de produtos, os blogs especialistas, os blogs musicais, os blogs portais, os blogs baixaria, que me recuso a vê-los e assim por diante. Se quiserem saber mais quantos, é só visitar o Herdeiro do Caos. Yuri publicou um post sobre o encontro que teve na Bahia que traz mais detalhes dessas tendências. Mas seja quantas tribos forem, cada uma se apodera desse espaço como bem lhe convém e não poderia ser diferente, pois a liberdade é uma das virtudes do espaço virtual. O desafio, portanto, não é mais o de criar um blog, mas o de sobreviver na blogosfera. E aí a discussão é outra.
Mais do que a persistência ou a capacidade de transformar em dinheiro os espaços vazios de um post, os autores de blogs enfrentam um desafio maior. Temos de dar conta de produzir conteúdos consistentes, para conquistar credibilidade junto aos nossos leitores e aos internautas desavisados que, sem querer, tropeçam nas nossas páginas e distraidamente colhem algumas palavras que estão ali plantadas. Criar conteúdos consistentes exige um trabalho árduo, do cão, que nem sempre estamos dispostos a empreender. Às vezes, preferimos, como eu, só divagar, planar sobre o mundo das idéias, sem maiores comprometimentos. Talvez, isso não seja suficiente para dar longa vida a um blog. Paciência. Seremos como a CPMF, eternamente provisórios.
Um restinho de semana na concretude dos fatos.
Até de repente.
Fotos: minhas. Dá para perceber, né? E ainda deu pau na máquina.
Ela está juntando fotos que fiz com outras que nunca fiz.
Reparem a primeira foto. Cruzes! Parece coisa do cão.