quinta-feira, julho 12, 2007

Não dá samba

Os franceses como os brasileiros. Parece chique, mas não é. É preocupante. Os ingleses como os brasileiros, vá lá, pode dar samba. Eles são meio loucos e um pouco cabeça dura. Essa combinação costuma funcionar. Às vezes. E é o que eles vão testar. Depois de nos observar por um bom tempo, resolveram adotar o nosso modelo de orçamento participativo. O projeto piloto vai abranger 10 regiões do país e, nessas áreas, os ingleses poderão influir na destinação de 23 milhões de libras do orçamento público. Não disse que os ingleses são meio loucos?

Mas os franceses como os brasileiros não vai dar nem marchinha de carnaval. Olha só procê vê. Ainda estava amuada com os resultados da pesquisa de Álvaro Moisés e fui surpreendida, num pleno domingo, com um comentário sobre a tolerância dos franceses que só reforça o aspecto mais negativo daquela pesquisa. Como já contei, Moisés nos revelou que mais da metade dos brasileiros aceitaria de bom grado um governo que passasse por cima das leis, do Congresso e das instituições, quando tivesse de resolver uma situação difícil que o país pudesse estar enfrentando. A pesquisa não explica o que é uma situação difícil, mas os brasileiros responderam que aceitariam esse despropósito.

Fui olhar na Constituição. Não li tudo, mas do que dei conta, o estado democrático de direito poderá ser suspenso, em alguma proporção, apenas quando, por razões que não vou listar aqui, o governo não tiver outra alternativa a não ser decretar no país o estado de defesa, de sítio ou de guerra declarada. Espero estarmos longe disso. Mas, ainda assim, se um governo brasileiro se encontrar em uma situação tão difícil que não tenha outra opção a não ser tomar decisões daquela ordem, estaria agindo estritamente de acordo com as regras constitucionais e não acima delas.

Bom, mas isso é outra história. Aí veio o domingo. Manhãzinha preguiçosa e coisa e tal, até que peguei o jornal pra ler. Fui direto na última página, como faço sempre, e lá estava: um artigo, que acreditava ser, despretensioso sobre o estilo sarkozy de governar. Li só porque era domingo. Ando tão desencantada com as saídas que o mundo tem nos apontado, que agora estou optando por desconhecê-las. Mas, como era domingo, li.

Sarkozy está construindo sua imagem de governante e faz ele muito bem. Mas, pra começar, não precisava exagerar. Aqui no Brasil não deu muito certo. O último presidente que pousou de super-homem e desfilou sua hiperatividade em supersônicos, submarinos e pistas de cooper, acabou no olho da rua. Mas é assim que ele quer ser visto pelos franceses: como um hiperpresidente. E, parece, está conseguindo. Sua taxa de confiabilidade continua a subir, de 63% para 65% em apenas dois meses, desde a sua posse.

Segundo seus marqueteiros, Sarkozy passa essa imagem naturalmente. Não é um super mário, mas é aquele que tudo pode e tudo faz, independentemente do conteúdo ideológico de suas decisões. Isso é novidade, imagino. Não é um costume muito francês. E quando ainda Sarkozy afirma ter sido eleito para fazer alguma coisa em todas as questões, sugere, sutilmente, que fará, de um jeito ou de outro, ainda que tenha mesmo de atropelar alguns desses costumes. E isso é que é hiper preocupante. Não que os franceses não possam mudar. Tudo está mudando nesse mundo. Mas me dá uma cisma danada dessas situações sem limite, sem referência, escancaradas para qualquer possibilidade. Normalmente, não dão samba. Nem no Brasil, nem na França, suponho.

É isso. Se não estivesse com sono, emendaria com um outro artigo que acabei de ler - Educação para a Democracia, de Maria Victória Benevides - e que me trouxe um novo alento. Mas vou dormir, que faço melhor.

Uma sexta-feira bem facinha para todos, nada de situações difíceis.

Inté.

6 comentários:

Anônimo disse...

Patricia, eu dei uma lida rápida no texto da Mary, ela fala sobre coisas estranhas educar umas pessoas pra governar e outras pra obedecer e tals, bacana. Mas eu mesmo não entendo porque tanta gente fala tanto dessa tal democracia, patricia, a única diferença entre democracia e outros regimes autoritários é que na democracia a gente vota antes de obedecer.
Um beijo, bom final de semana

Anônimo disse...

Ess ju aí sou eu, dedos nervosos. rsss

Unknown disse...

rs gostei da descrição do seu blog.
mas eu as vezes acho que nao sei escrever pensando. por isso sai esse monte de sentimento misturado nas palavras.

Anônimo disse...

Hummm... essa eu não sabia! Os ingleses adotando o Brasil? Vai dar samba! Hahahah.... Sou admirador do projeto, embora não tenha visitado uma localidade que o tenha adotado (há uma cidade na Bahia que adotou com muito sucesso).

Sarkozy?!?! Nossa, tenho calafrios...

Beijos!!!

patricia duarte disse...

Júnior e todos:
Olha só, essa democracia que você descreve é a nossa mesmo. Mas ela poderia ser de um outro jeito, se assim quisessemos. E acho que é por isso que falamos tanto em democracia (rsrsrs), pra ver se cola!
Depois vou pensar mais sobre isso, porque acho que, apesar dos pesares, ainda é melhor assim. Você deve ser novo e destemido para achar que a democracia é pouco. Pra mim, ainda é um valor. E é sobre isso que vou tentar pensar. Mas não hoje, porque estou de férias e prefiro deixar meus pensamentos livres só para apreciar (rsrsrs).
brigadinha pelas visitas.

Anônimo disse...

Para te desejar uma excelente semana!

Beijos e curta estas merecidas férias.