Preferiria não ter visto, mas vi. Vi o Cruzeiro ser derrotado desnecessariamente pelo Santos. O Cruzeiro poderia ter jogado com mais vontade e garra, mas preferiu um jogo morno e disperso. Parecia outra equipe em campo. Cuca parecia outro técnico a orientar os jogadores. Mas ao mesmo tempo, parecia o mesmo Cruzeiro de sempre que, a qualquer momento, poderia reagir e ao menos empatar. Por isso torci até o último minuto, inutilmente. Mas tudo isso são coisas do futebol. Mesmo quando um jogo ou um campeonato, como o Brasileirão, começam a se tornar previsíveis, mesmo quando os resultados vão sendo forjados sutilmente pelos erros e desatenções da arbitragem, pela catimba dos adversários, pela alma vira-lata dos times fora do eixo, mesmo assim, o futebol é um jogo imprevisível. No campo, tudo pode acontecer.
O craque do time pode acordar de mau humor, o perna de pau acordar inspirado, a equipe desentrosada, por alguma razão inexplicável, pode entrar em sintonia e a equipe sempre afinada perder as conexões e correr perdida de um lado para o outro do campo até o apito final. E é disso que eu gosto no futebol: da caixinha de surpresa. Eu gosto dos gols finalizados na prorrogação, dos perebas que surpreendem com jogadas insuportavelmente belas, dos jogadores invisíveis que se materializam no lugar certo quando ninguém espera, das vitórias de virada e de todos os lances únicos, daqueles que não podem nunca ser programados, porque são inventados ali, naquele exato instante em que a bola cai no pé do jogador e ele olha pra frente e enxerga uma oportunidade qualquer.
É claro que, fora de campo, a vida reserva outros momentos caixinha de surpresa. As eleições, por exemplo. Por mais que as pesquisas de opinião, cada vez mais sofisticadas, ajudem a dar previsibilidade aos resultados, ainda assim é possível sermos surpreendidos pelas urnas. O segundo turno das eleições de 2006 foi um desses momentos. Lula e Alckmin caminhavam juntos em todas as enquetes e até o final do primeiro turno. No segundo, Lula disparou e deixou Alckmin para trás, contrariando a expectativa de boa parte dos analistas, que apostavam num resultado apertado.
Já as eleições proporcionais, estas sempre reservam surpresas, porque é quase impossível tentar antecipar seus resultados usando as ferramentas convencionais de pesquisas de opinião. Em Minas Gerais são 553 candidatos a deputado federal e 977 a deputado estadual e um eleitorado próximo de 15 milhões de pessoas, espalhadas por 853 municípios com as mais diferentes histórias. Uma bela caixinha de surpresa. E se isso não bastasse, o fato das eleições proporcionais serem coincidentes com as eleições majoritárias, que mobilizam mais as atenções dos eleitores, poucos são os que já escolheram seus candidatos para o Parlamento. Muitos só se decidem na beira da urna.
Neste ano, espero, mais uma vez, um momento caixinha de surpresa nas eleições. Torço para que seus resultados nos façam recuperar a crença de que a política ainda pode ser o espaço do encontro. O espaço do diálogo verdadeiro e sincero, para troca de ideias e construção coletiva de soluções e alternativas que garantam uma vida boa para todos. Sonhar não é defeito.
Inté
Foto: minha
2 comentários:
Há muitas caixinhas a se abrir. E quando abrimos, há outras ainda menores dentro. Gosto disso. Sempre haverá surpresas que nos permitam não viver o previsível.
Beijos!
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