sábado, setembro 18, 2010

Nua e crua

Brotos de bolas de flores

A primavera está chegando. Já não era sem tempo. Não aguentava mais a mesmice de tudo desde sempre. Vamos ver se agora florescem novas ideias. Não quero nada requentado, reprogramado, repaginado. Quero é o que ainda nem existe nem foi inventado. Quero o que eu nem sei o que é, mas ainda assim é o que eu quero. E na primavera eu posso. Ou penso que posso.

Estou enfarada da vida com photoshop. Dos sorrisos perfeitos; das medidas precisas; das vanguardas moldadas em qualis; dos improvisos cuidadosamente elaborados; das falas absolutamente previsíveis, exaustivamente ensaiadas para responder exatamente aquilo que quero ouvir.

Estou exausta. Cansada das soluções mágicas que não deixam escapar saídas, a não ser aquelas devidamente sinalizadas; das promessas vazias, das promessas improváveis, das promessas razoáveis, das promessas; dos deuses, dos heróis, dos bandidos, de todas as personagens que não conseguem se reinventar e no mais de tudo que finge mudar para continuar como está.

Mas na primavera eu posso. Posso querer um amarelo como nunca antes existiu. Posso querer um bando de maritacas falando pelos cotovelos coisas que ninguém nunca nem ouviu falar. Com palavras que nunca foram ditas. Posso querer pedras no caminho para tropeçar, casca de banana para escorregar. Na primavera eu posso. Posso querer sorvete de araça azul, igual aquele que vi um dia na capa de um disco do Caetano e nunca mais vi. Posso querer um sorriso banguela, uma gargalhada dissonante, fora de hora, fora de lugar. Um discurso desconexo, desarticulado, desafinado.

Posso. Posso querer uma terra nua e crua. Um papel sem pauta, um livro sem letras, uma música sem notas. Posso querer uma foto sem cor, uma imagem sem formas, um filme sem movimento. Acho que na primavera eu posso. Posso até mais, um dia sem horas, uma vida sem destino, um vento, um ciclone, um tufão, um tornado. Acho que posso.

Inté

3 comentários:

Márcio Pimenta disse...

Uau! Lindo texto! Parabéns Patricia.

Você quer a vida real. Quer cores que sejam verdadeiras. Quer coisas verdadeiras. Adorei isso.

Beijos!

patricia duarte disse...

Obrigada Márcio. Ando desconfiada que estamos precisando muito da vida como ela é. É mais enfrentá-la olho no olho do que do jeito que está.
Estou voltando, devagar, a navegar por essas plagas. Daqui a pouco vou visitá-lo.
Um grande abraço

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