quinta-feira, março 04, 2010

Well...

Norman Rockwell

Esse mundo está muito doido. Tudo bem, vou ser politicamente incorreta, mas é quase óbvio que todos seremos. A terra treme no Chile, destrói casas, abre valas de fora a fora no meio das ruas, soterra famílias inteiras, arrebenta encanações, derruba a rede elétrica, arrasa plantações e não deixa quase nada de pé. A terra ainda treme outras trinta e tantas vezes e espalha um auê pelo país. Aí, o que acontece? Hillary Clinton, consternada, aporta em Santiago levando na malinha uma ajuda para o povo chileno: 25 telefones satelitais! Vinte cinco celulares, para resumir!

Ela mesma ficou sem graça e justificou-se: era a única coisa que poderia vir dentro do avião. Que falta de imaginação, hem? Um cheque, por exemplo! Não poderia vir dentro do avião? Algumas notinhas de dólares, não poderia? Elas cabem até dentro de uma meia, não caberiam dentro de um avião? Sinceramente, sem comentários.

Foi um mico, mas a oferta de Hillary para o povo chileno serviu para alguma coisa. Foi a mostra mais bem acabada do mundo em que vivemos. Entre as nossas necessidades, que se tornaram básicas nos dias atuais, a mais necessária de todas é o celular, porque precisamos, não sei pra quê, mas precisamos estar ligados 24 horas por dia.

Aí eu até entendo Hillary. Sua intenção foi boa. Um dia sem celular é quase como um dia sem água ou sem oxigênio. Volta e meia me pego pensando como é que minha mãe conseguiu criar seis filhos sem celular. Os meus, eu acho, prefeririam não tê-los. Ou melhor, prefeririam que pais fossem proibidos de usar celulares. Mas, como nós, eles também precisam desesperadamente de celulares, para falar nada, mas precisam.

O dia que esqueço de carregar meu celular, fico de pés e mãos atados. E, engraçadamente, são os dias em que mais preciso do celular. Ou não. Mas são os dias que percebo com mais clareza como preciso deles, mesmo odiando tê-los dentro da minha bolsa. E, como nós, os chilenos devem sentir falta também de seus celulares, perdidos no meio de escombros. Talvez Hillary tenha acertado. A fome, uma hora passa, o frio vai embora, a tristeza com as perdas irreparáveis, acaba que nos conformamos, mas a necessidade de pertencermos a esse mundo nunca nos abandona.

Inté

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