sábado, maio 23, 2009

Janelas abertas


Sempre prefiro janelas abertas. Se estão fechadas, quando chego em casa, abro todas elas. Prefiro ainda mais as janelas escancaradas, sugando a vida que corre lá fora e despejando-a no meio da casa. Latidos de cachorro misturados à voz rouca da cozinheira, desfiando suas histórias na beira do fogão; o ronco de um motor de carro abafando o grito dos meninos num quintal qualquer da vizinhança; e a luz entrando pela casa, mudando a cor esfumaçada do sofá, iluminando os cantos empoeirados do escritório; e o vento varrendo o corredor, espalhando mais outros sons que saem não sei de onde para se abrigarem dentro da minha casa. De um violão dedilhado que escapa de algum quarto do prédio dos fundos; de um rádio no talo anunciando mais uma desgraça no mundo; do assobio dos lixeiros subindo a rua para recolher nossas sobras desperdiçadas dentro de sacos azuis; de uma torneira aberta, deixando a água jorrar e escorrer ralo a fora; e de um choro, um consolo, um riso e o passou, passou, que alguém repete como se fosse um emplasto embebido em mel, doce, doce, encharcando de esperança a hora que vem depois de outra hora, depois de outra, depois de outra e assim um dia, outro dia e mais outro e um mês, um semestre, um ano, uma vida. Adoro janelas abertas, de par em par, bem escancaradas para deixar a vida entrar com força. Adoro.
Inté

3 comentários:

Ana Márcia disse...

Adoro esse texto

Cristina disse...

Como é mesmo o nome de quem vê beleza onde quase não há? Que texto mais encantador...

Gisa disse...

Nossa, que bacana este texto! Adorei!!! Eu também gosto de janelas escancaradas, permitindo-nos ter a percepção do mundo lá fora e principalmente do sentir os raios de sol, a brisa leve, o som de alguns passarinhos e também de alguma música suave tocando por aí...
Olha, e tudo isso morando numa "selva de pedras"!
Um beijo!