domingo, janeiro 28, 2007

Minhas férias inesquecíveis

Trilha alternativa: Como uma onda, com Caetano Veloso e todo mundo junto, fazendo coro

Pronto, voltei. Foi assim: uns dias de sol, outros de chuva e todos ótimos. Sem relógio, sem agenda, sem pressa, sem rompantes, sem xiliques, sem carro, sem barulho de carro, sem trânsito, sem sirene de polícia varando a noite, sem zunido de computador atazanando o ouvido, sem banco, sem filas, sem correspondência nenhuma, sem jornal, sem rádio, sem infinitos canais de televisão, sem notícia de nada, sem nenhum tenho de, ou um isso ou aquilo para ter de se decidir, sem grandes polêmicas que não tivessem simples e fáceis soluções e, principalmente, sem nenhuma, mas nenhumazinha, vontade de pensar. Pra resumir, todos os dias por conta mesmo de fazer nada. Só o mar, indiferente a tudo isso, indo e vindo, indo e vindo. E o vento, hora soprando de um lado, hora soprando de outro.

E sendo assim, apeei o mundo das minhas costas, calcei as havayanas e fui andar pelo planeta. Quebrava à direita e ia sempre em frente, depois voltava. No outro dia, virava pra esquerda e a mesma coisa. Às vezes deixava as havayanas numa sombra e ia com o pé no chão, beirando o mar e desafiando as ondas que queriam me derrubar. Às vezes subia nas pedras pra espiar o mar do lado de lá, sempre mais verde que o de cá. Às vezes nem isso. Outras vezes mais. Domei uma coleção de bicho geográfico no pé de um dos meninos, joguei paciência até ganhar, passei os olhos nos livros que levei, acompanhei algumas partidas de golf no Tiger Wood dos meninos, cantei com Lulu Santos e mais toda a galera do sub-17, fui de lotação conhecer outros mares, fui a pé, descobri um delivery de pizza para as noites de chuva, mas um dia cozinhei um macarrão de acampamento e no outro encomendei um pernil na Orli para compensar. Às vezes ficava acordada de madrugada, esperando os adola voltar pra casa, e depois levantava cedo e deixava-os dormindo até quando bem entendessem, afinal, estão ainda em fase de crescimento. Mas dormia à tardinha e uma vez dormi o dia inteiro e mais uma noite sem parar. O que qui tem? Férias, né?

Também ouvi muita história. Mas fui eu mesma que cacei. Ia atrás do povo e pedia que me contassem. Eles têm um problema e sabem disso, só não sabem como resolver. É uma história cumprida demais. Não vou contar. Um dia, quem sabe. Mas a solução é fácil. Disse isso a eles. Bastava que tivessem boa vontade e conversassem uns com os outros. Mas isso eles não fazem. E é daí que surgem tantas outras histórias pra explicar porque um não pode falar com o outro e o outro não pode falar com o um e assim por diante. Como vêem, até lá nas bibocas do confins, o mundo é todo igual. Vai entender, né? Não fiz nem força. Só provoquei para ouvir. Fiz que nem o Waldencir. Era pescador, mas cansou. Agora gosta de ficar olhando o mar. A mulher diz que ele é bicho à toa. Ele diz que nada. Fazer o quê? Pra quê? Caixão não tem gaveta! Vou ficar olhando o mar que é o que gosto. Fiquei só ouvindo, que é o que gosto. Fazer o quê? Se eles que são eles não querem se ajudar, vou eu?

Foi assim. Agora voltei. Passei o dia jogando papel fora e abrindo espaço na estante para acomodar os cadernos e livros novos dos meninos. Amanhã desfaço as malas e arrumo gavetas. Na segunda, pego o carro e vou trabalhar. Só passei os olhos de relance na pilha de jornais amontoada na cadeira da sala. Não vou nem me dar ao trabalho de ler notícia velha. Aposto dobrado que nada mudou. Em trinta dias posso ficar um ano mais velha, posso morrer de banzo, de saudade, de tédio. Posso mudar de cor, de humor, de pele. Posso trocar de sonho, pular os pesadelos e cair na real. Tudo muda, em trinta dias ou em trinta segundos. Mas o mundo não muda em trinta dias. Uma hora dessas pago pra ver e vou ler as manchetes vencidas. Êita vidinha, hem?

Um domingo de graça pra todos nós, porque depois é segunda e não vai ter graça nenhuma.

Inté.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que delícia de férias hein? Calçar havayanas e rodar o mundo é bom demais!

Bem vinda de volta.

Beijos!

Ah! Nem me fale em faxina no mundo real, tenho tanto papel para arrumar que preciso dividir por etapas. :)

Anônimo disse...

Patrícia, quando você escreve sobre coisa nenhuma você escreve lindo demais.