quarta-feira, janeiro 31, 2007

Têm certas coisas no ar

Trilha alternativa: Certas coisas. Na falta de Lulu Santos, com um parecido, só pra distrair um pouco.

Enquanto andava pelas areias do planeta, com minhas havayanas verdes, pesquei muitas histórias. Pedaços, na verdade, que juntei como peças de um quebra-cabeça. É mais ou menos assim que se inventam novas histórias ou se constroem novos argumentos para alimentar velhas teorias da conspiração. Sinceramente não sei até onde vai a verdade e onde é que ela se confunde com as invencionices, mas o fato é que o conjunto deste quebra-cabeça fez surgir uma versão mais consistente do que todas as outras que li nos últimos tempos sobre o caos que vivemos nos ares.

Quando o vento sul bateu, ouvi dizer que o Brasil estava prestes a assumir a coordenação geral dos sistemas de controle de vôos da América do Sul ou coisa assim, quando ocorreu o acidente com o avião da Gol, em outubro de 2006. Uma tarefa deveras edificante. Nada mal mesmo. E entre seus vizinhos, o Brasil não teria nenhum outro concorrente mais bem equipado e preparado para essa missão. Vide documentário sobre o sistema de controle de vôos da Argentina que passou recentemente na tevê. Um caos. Mas nem só de vizinhos se fazem concorrentes. Bateu o vento noroeste e escutei mal-mal que uma empresa americana teria interesse em disputar com o Brasil não a posição, mas a operação do sistema. Além de ser um bom negócio, deve ser né?, estrategicamente é uma excelente pedida, principalmente se pensarmos no movimento aéreo na região da Amazônia. E é aí que uma história foi se juntando a outra e surgiu uma versão desconfiada sobre tudo que estamos vendo nas salas de espera dos aeroportos brasileiros.

A história é cumprida e vou resumir. Depois do acidente com o avião da Gol, de um dia para o outro portanto, tudo que vinha funcionando de uma forma até razoável, se considerarmos que as condições de vôo de uma aeronave são, em boa medida, determinadas por fatores incontroláveis, como o tempo, toda essa engrenagem, assim, relativamente bem azeitada, emperrou. O sistema de controle de vôos, que mal sabíamos que existia, entrou em parafuso. Ninguém se entendia e nem acreditávamos mais como é que algum dia isso pôde funcionar, se é que funcionou.

Aí ficamos sabendo que os controladores estavam fazendo greve branca, porque queriam, exatamente, transferir o vínculo de subordinação à área militar para um órgão de natureza civil. Os controladores brasileiros devem ter lá suas razões para reivindicar essa mudança. Mas essa, sem dúvida, deve ser uma condição necessária para viabilizar a entrada de terceiros na disputa pela operação do sistema continental que o Brasil estava prestes a assumir.

E se essa versão tem um fundo de verdade, se não é brincadeira do vento que, na praia, sopra em todas as direções, o acidente com o avião da Gol não seria também uma parte dessa história? Essa foi a dúvida que atormentou o meu adola. Será que foi fatalidade? Será que houve um acidente? Como explicar que os aparelhos de controle de vôo do Legacy, testados obrigatoriamente antes de qualquer decolagem, estivessem desligados? Como um boeing 737-800 explode no ar e o outro, que provocou a sua queda, sai apenas com uma asa danificada? Por que tantas perguntas continuam sem respostas?

Ia pensar sobre isso, mas fui andando na areia e as ondas batendo nos meus pés e me deu vontade de entrar no mar. Mergulhei e um peixinho me fez mudar de assunto. Veio me dizer que há no ar mais histórias para se contar do que supõe a nossa vã filosofia, mas que no mar, existem mais lendas e invencionices do que somos capazes de imaginar. E me contou uma história que um dia, se tiver tempo, vou passar pra frente. Hoje não, que já estou com sono. Mas um dia, quem sabe?

Uma onda de sonhos bons para todos e um despertar ensolarado, cheio de luz, que estamos precisando.

Até mais ver. Um dia.

domingo, janeiro 28, 2007

Minhas férias inesquecíveis

Trilha alternativa: Como uma onda, com Caetano Veloso e todo mundo junto, fazendo coro

Pronto, voltei. Foi assim: uns dias de sol, outros de chuva e todos ótimos. Sem relógio, sem agenda, sem pressa, sem rompantes, sem xiliques, sem carro, sem barulho de carro, sem trânsito, sem sirene de polícia varando a noite, sem zunido de computador atazanando o ouvido, sem banco, sem filas, sem correspondência nenhuma, sem jornal, sem rádio, sem infinitos canais de televisão, sem notícia de nada, sem nenhum tenho de, ou um isso ou aquilo para ter de se decidir, sem grandes polêmicas que não tivessem simples e fáceis soluções e, principalmente, sem nenhuma, mas nenhumazinha, vontade de pensar. Pra resumir, todos os dias por conta mesmo de fazer nada. Só o mar, indiferente a tudo isso, indo e vindo, indo e vindo. E o vento, hora soprando de um lado, hora soprando de outro.

E sendo assim, apeei o mundo das minhas costas, calcei as havayanas e fui andar pelo planeta. Quebrava à direita e ia sempre em frente, depois voltava. No outro dia, virava pra esquerda e a mesma coisa. Às vezes deixava as havayanas numa sombra e ia com o pé no chão, beirando o mar e desafiando as ondas que queriam me derrubar. Às vezes subia nas pedras pra espiar o mar do lado de lá, sempre mais verde que o de cá. Às vezes nem isso. Outras vezes mais. Domei uma coleção de bicho geográfico no pé de um dos meninos, joguei paciência até ganhar, passei os olhos nos livros que levei, acompanhei algumas partidas de golf no Tiger Wood dos meninos, cantei com Lulu Santos e mais toda a galera do sub-17, fui de lotação conhecer outros mares, fui a pé, descobri um delivery de pizza para as noites de chuva, mas um dia cozinhei um macarrão de acampamento e no outro encomendei um pernil na Orli para compensar. Às vezes ficava acordada de madrugada, esperando os adola voltar pra casa, e depois levantava cedo e deixava-os dormindo até quando bem entendessem, afinal, estão ainda em fase de crescimento. Mas dormia à tardinha e uma vez dormi o dia inteiro e mais uma noite sem parar. O que qui tem? Férias, né?

Também ouvi muita história. Mas fui eu mesma que cacei. Ia atrás do povo e pedia que me contassem. Eles têm um problema e sabem disso, só não sabem como resolver. É uma história cumprida demais. Não vou contar. Um dia, quem sabe. Mas a solução é fácil. Disse isso a eles. Bastava que tivessem boa vontade e conversassem uns com os outros. Mas isso eles não fazem. E é daí que surgem tantas outras histórias pra explicar porque um não pode falar com o outro e o outro não pode falar com o um e assim por diante. Como vêem, até lá nas bibocas do confins, o mundo é todo igual. Vai entender, né? Não fiz nem força. Só provoquei para ouvir. Fiz que nem o Waldencir. Era pescador, mas cansou. Agora gosta de ficar olhando o mar. A mulher diz que ele é bicho à toa. Ele diz que nada. Fazer o quê? Pra quê? Caixão não tem gaveta! Vou ficar olhando o mar que é o que gosto. Fiquei só ouvindo, que é o que gosto. Fazer o quê? Se eles que são eles não querem se ajudar, vou eu?

Foi assim. Agora voltei. Passei o dia jogando papel fora e abrindo espaço na estante para acomodar os cadernos e livros novos dos meninos. Amanhã desfaço as malas e arrumo gavetas. Na segunda, pego o carro e vou trabalhar. Só passei os olhos de relance na pilha de jornais amontoada na cadeira da sala. Não vou nem me dar ao trabalho de ler notícia velha. Aposto dobrado que nada mudou. Em trinta dias posso ficar um ano mais velha, posso morrer de banzo, de saudade, de tédio. Posso mudar de cor, de humor, de pele. Posso trocar de sonho, pular os pesadelos e cair na real. Tudo muda, em trinta dias ou em trinta segundos. Mas o mundo não muda em trinta dias. Uma hora dessas pago pra ver e vou ler as manchetes vencidas. Êita vidinha, hem?

Um domingo de graça pra todos nós, porque depois é segunda e não vai ter graça nenhuma.

Inté.