segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Sete vidas

O melhor de não ter nada para fazer é poder ver o por do sol.
(Foto minha)


Onde é mesmo que nós estávamos? Ah, sim! Por aí. Outro dia mesmo, por exemplo, estava andando na areia e, enquanto isso, a terra tremia oitenta e tantas vezes no Haiti. Outra hora, estava lá, escondida debaixo de uma sombra, e, enquanto isso, a chuva despencava em São Paulo. Estava tomando uma coca gelada e, do outro lado, a anistia ampla, geral e irrestrita torrava na frigideira. Mais tarde, caçava nuvens no céu, e os Estados Unidos desistia da lua para concentrar seus investimentos apenas no transporte espacial comercial. Cochilava no sofá e ouvia, de longe, muito longe, a voz de Pedro Bial e a musiquinha do BBB. Definitivamente, enquanto andava por aí, não recebi nenhuma boa notícia, mas não me senti culpada por nada disso. É a roda da vida.

Além disso, estava fechada para balanço. 2009 não foi um ano, digamos assim, normal. Os dias galoparam, como sempre. Mas, em vez de correr atrás, que era o que andava fazendo nesses últimos tempos, entrei no clima do horóscopo chinês. No ano do Boi, preferi ficar ruminando no pasto. Resultado: tudo que estava para ser feito ou não foi feito ou ficou pela metade. Num caso ou no outro, não importa, fiquei devedora, mas não me senti culpada por nada disso. Não foi só eu que preferiu passar um ano pastando. Muita gente boa também gostou da ideia. Resultado: virei credora de outras tantas pessoas que, da mesma forma, deixaram coisas por fazer em 2009. Estamos quites.

Mas se essa mesma premissa prevalecer para 2010, acho que já estou atrasada. Segundo meu consultor para assuntos aleatórios, no horóscopo chinês, 2010 é o ano do Tigre, representa a coragem, a potência, a ousadia e a paixão. As previsões são péssimas e fantásticas. Aliás, essa é a principal característica do Tigre: nada é pequeno ou pouco. Tudo tem dimensões avassaladoras. Será um ano explosivo, para o bem e para o mal. Pelo que já vimos, até agora, o melhor é não duvidar, mas também não vou ficar impressionada com essas previsões.

O que imagino é um pouco diferente disso. Para mim, o tigre é um gato grande. É esperto, ágil, veloz, independente e sabe se defender muito bem. Até admito, às vezes é traiçoeiro e feroz, mas não é por acaso. Antes disso, como um gato grande, é dengoso, dócil e leal com aqueles com quem se afina . Mas, especialmente, o tigre, como os gatos, tem sete vidonas. O que isso significa? Significa que pode errar sete vezes mais do que nós, pois terá sete novas oportunidades para começar de novo.

No ano do Tigre, acho que poderemos ousar mais, fazendo tudo diferente do que já fizemos. Poderemos inventar outros jeitos de estar no mundo, inverter as listas de prioridades, experimentar novas cores, novos sabores, novos sons, novas paisagens. Poderemos refazer o que já fizemos, mudando tudo de lugar, inovando, recriando, concebendo novas formas, novas conexões, novos planos. Se der errado, não tem problema, faremos tudo de novo e de novo e de novo, sete vezes, se for necessário.

Por isso, acho que já estou atrasada. Faltam apenas duas semanitas para o carnaval e eu ainda nem comecei a pensar e, muito menos a traçar, meus planos para 2010. É melhor não perder mais tempo, vamos lá 2010! Que venha o Tigre! Vamos todos errar um pouco, quem sabe assim a gente acaba acertando, né?

Até de repente.

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