sábado, janeiro 31, 2009

Ad infinitum

Voltei. Durante uns dias, fiz o que todos os mineiros fazem nessa época do ano. Se não fazem, gostariam. Se não gostariam, deveriam. Fui para a praia. Pulei ondas, mas, principalmente, observei o céu, no amanhecer e no entardecer. Longe de estar entediada e desinteressada, com o olhar perdido no infinito, me dediquei, neste exercício, a disciplinar a minha atenção, que andava sufocada e dispersa no meio do mundo de informações que nos atolou neste final de ano. Precisava dos ares marinhos para arejar meus pensamentos. Mais do que isso, precisava andar descalça, entrar na água, dormir depois do almoço, jogar conversa fora na beira da praia e andar na chuva, coisa que não fazia desde não sei quando.

Assim, em vez de me preocupar com o conflito na Faixa de Gaza, de querer entender as razões dessa guerra interminável e indecifrável, me dediquei a observar o movimento constante das nuvens no horizonte. Parecem seres vivos, se esticando e se encolhendo, aderindo uns aos outros ou se desgarrando para seguir novos caminhos. É impossível reter uma imagem do horizonte nublado por mais de alguns poucos segundos. E no amanhecer e no entardecer, também as cores mudam de tonalidade como se um pintor distraído estivesse ali, naquele exato momento, testando as tintas da sua palheta para descobrir aquela que melhor expressa seus sentimentos.


É impressionante com o céu e o mar são instáveis. É desconcertante observá-los e pensar que fazemos parte desse mesmo mundo. Em que momento da nossa jornada encasquetamos que poderíamos nos tornar seres estáveis e previsíveis, tendo a mesma natureza, vocacionada para a inconstância? Vai saber. E não sabendo, nos engalfinhamos nessa luta incessante pela permanência, resistindo em vão, mas bravamente, a qualquer tipo de mudança: de humor, de sabor, de norte, de sorte, de qualquer ponto de vista, entre outras possibilidades. Seres inflexíveis, imunes a tsunamis.

Mas, de volta, me esqueço rapidamente dessas divagações. Com a agenda nova que ganhei no natal, uma mini moleskine vermelha, com uma penca de compromissos já anotados, me convenço piamente de que, de fato, temos uma natureza bem diversa daquela do mundo em que habitamos. Trafegando pelas ruas já apinhadas de carros, protegida do sol pela sombra de prédios que se proliferam como praga pela cidade, não tenho dúvidas de que somos mesmo seres de cimento e asfalto, estáticos e previamente formatados, incapazes de improvisar movimentos surpreendentes.

Enfim, 2009! Estamos prontos para nos repetirmos ad infinitum, até o final dos tempos. Sigamos em frente!

Inté quando der.
Fotos: todas minhas. Do sol nascendo nascendo na praia e dos muros da cidade.

sábado, janeiro 03, 2009

Férias coletivas


Pronto. Podemos mudar de assunto. Mesmo porque, 2008 ainda não acabou. Tenho uma cesta de pendências me aguardando no gmail. Só depois de resolvê-las estarei pronta para iniciar o próximo ano. Mas não vou pensar nisso agora. Vou deixar para segunda-feira, porque hoje é sábado e, apesar de tudo, já estou de férias. Eu e os principais líderes políticos do planeta e toda a diplomacia internacional. Só as tropas israelenses e os soldados do Hamas não descansam. Estão na luta e não estão de brincadeira.

Não sei quem tem razão nessa confusão toda, se é que é possível alguém ter razão. Há tempos desisti de querer entender as sutilezas desse conflito, porque, às vezes, me parece, essa é a única coisa que eles sabem mesmo fazer: guerrear. Mas seja lá quem for que estiver com a razão nesse episódio, o fato é que já está suficientemente comprovado que os combates não são o melhor caminho para resolver os impasses que dominam esse pequeno pedaço do nosso planeta. E muito menos uma intervenção militar de terceiros, mesmo que com a intenção de restabelecer um cessar-fogo na região.

Tendo mais a concordar com o meu caçula, que não é diplomata, mas tem bom senso. Para ele, não se apaga o fogo ateando mais lenha na fogueira. Se é que nossos líderes, se são, estão de fato querendo fazer alguma coisa para chamar na responsabilidade os chefes de governo de Israel e do grupo de resistência islâmica Hamas, o caminho é outro. Não sei exatamente qual, mas deve haver alternativas. Já por mais nada, esses líderes continuam apoiando um boicote econômico de mais de 40 anos contra uma ilha perdida no meio do Atlântico, que não ameaça ninguém e nem sobrevive no meio de um campo de batalhas. Pelo contrário, ainda que na míngua, conseguiu nesses 40 anos construir um projeto de nação e garantir saúde e educação para o seu povo. Um projeto que tem seus defeitos, mas tem também seus méritos que hoje me parecem bem maiores que os primeiros.

Então, se é que nossos líderes, se são, querem de fato colocar ordem nessa balbúrdia, devem intervir com sensatez. Ao invés de enviar tropas para uma região já plenamente militarizada, explosiva e desde sempre permanentemente em regime de combate, imponham aos belicosos uma ação simbólica, mas firme, dura e eficiente. Que declarem um boicote econômico a Israel até que sejam retomadas as negociações e o cessar-fogo. Não sei se uma medida dessas poderá afetar um país como Israel, que tem uma economia bem desenvolvida. Mas seja como for, Israel é também dependente de alguns produtos, como grãos, carnes e petróleo e precisa tanto do mercado quanto nós, para comercializar seus produtos.

Já no campo de batalha, terá pouco efeito. A Faixa de Gaza é uma região paupérrima. Praticamente não tem indústrias e sofre uma escassez crônica de água e de qualquer tipo de combustível. Com uma população de pouco mais de 1,5 milhão de habitantes, ainda assim é uma das regiões mais densamente povoadas do planeta. Mas metade de seus habitantes vive abaixo da linha da pobreza e pelo menos 45% da sua população ativa está desempregada. Enfim, um boicote econômico seria absolutamente inócuo, para quem já vive na miséria absoluta. Um boicote militar poderia surtir mais efeito. Afinal, quem abastece militarmente a região? Quem fornece armas e munição para o Hamas?

Posso estar variando, mas minha indignação é ainda mais delirante. Se fosse me guiar por ela, proporia aqui a imediata e completa desocupação da região, por um período não inferior a 10 anos ou até que surgisse um entendimento qualquer sobre os destinos de Gaza, devolvendo a vida àquele território de pouco mais de 300 quilômetros quadrados de terra, de forma ordenada e pacífica. Mas me contenho. Só não me calo, como alguns. Como o próximo, que irá substituir aquele. Enfim, assim rasteja a humanidade.

Inté 2009, quando for possível.
Foto: pescada na internet.