Voltei. Durante uns dias, fiz o que todos os mineiros fazem nessa época do ano. Se não fazem, gostariam. Se não gostariam, deveriam. Fui para a praia. Pulei ondas, mas, principalmente, observei o céu, no amanhecer e no entardecer. Longe de estar entediada e desinteressada, com o olhar perdido no infinito, me dediquei, neste exercício, a disciplinar a minha atenção, que andava sufocada e dispersa no meio do mundo de informações que nos atolou neste final de ano. Precisava dos ares marinhos para arejar meus pensamentos. Mais do que isso, precisava andar descalça, entrar na água, dormir depois do almoço, jogar conversa fora na beira da praia e andar na chuva, coisa que não fazia desde não sei quando.
Assim, em vez de me preocupar com o conflito na Faixa de Gaza, de querer entender as razões dessa guerra interminável e indecifrável, me dediquei a observar o movimento constante das nuvens no horizonte. Parecem seres vivos, se esticando e se encolhendo, aderindo uns aos outros ou se desgarrando para seguir novos caminhos. É impossível reter uma imagem do horizonte nublado por mais de alguns poucos segundos. E no amanhecer e no entardecer, também as cores mudam de tonalidade como se um pintor distraído estivesse ali, naquele exato momento, testando as tintas da sua palheta para descobrir aquela que melhor expressa seus sentimentos.
É impressionante com o céu e o mar são instáveis. É desconcertante observá-los e pensar que fazemos parte desse mesmo mundo. Em que momento da nossa jornada encasquetamos que poderíamos nos tornar seres estáveis e previsíveis, tendo a mesma natureza, vocacionada para a inconstância? Vai saber. E não sabendo, nos engalfinhamos nessa luta incessante pela permanência, resistindo em vão, mas bravamente, a qualquer tipo de mudança: de humor, de sabor, de norte, de sorte, de qualquer ponto de vista, entre outras possibilidades. Seres inflexíveis, imunes a tsunamis.
Mas, de volta, me esqueço rapidamente dessas divagações. Com a agenda nova que ganhei no natal, uma mini moleskine vermelha, com uma penca de compromissos já anotados, me convenço piamente de que, de fato, temos uma natureza bem diversa daquela do mundo em que habitamos. Trafegando pelas ruas já apinhadas de carros, protegida do sol pela sombra de prédios que se proliferam como praga pela cidade, não tenho dúvidas de que somos mesmo seres de cimento e asfalto, estáticos e previamente formatados, incapazes de improvisar movimentos surpreendentes.
Enfim, 2009! Estamos prontos para nos repetirmos ad infinitum, até o final dos tempos. Sigamos em frente!
Inté quando der.
Fotos: todas minhas. Do sol nascendo nascendo na praia e dos muros da cidade.